Não tem a ver com dinheiro. Não tem a ver com política. Tem a ver com escolhas. Tem a ver com honestidade intelectual, opções certas e a longo prazo. Um desígnio. Todos querem legitimamente colher os frutos do seu trabalho, mas, quando se governa a quatro anos é difícil a escolha. Ele(a), o partido, ou o país. Mas há coisas óbvias, que deviam estar acima de tudo isso.
O futuro de qualquer país assenta em grande parte na educação dos seus jovens. No campo da música, que é o que conheço melhor, Portugal deu um salto quantitativo e qualitativo enorme nas últimas décadas. Hoje, existe um número muito significativo de jovens músicos portugueses que trabalham nas mais prestigiadas orquestras europeias, alguns deles até Algarvios. Estamos a falar de orquestras topo de gama como a London Symphony Orchestra, entre outras. O ensino da música é caro. O rácio um aluno, uma hora um professor, é um luxo. Acresce que para se alcançar um nível internacional tem de se estudar muito, e fazer muitos sacrifícios. São anos e anos de esforço individual e do Estado.

Presidente da Associação Artedosul
Director Artístico do Festival Internacional de Piano do Algarve
Director Artístico do Festival Algarve Classic
Porque é que um jovem emigra? Porque não arranja casa, o que ganha não chega, e no estrangeiro pagam-lhe três vezes mais. Temos o futuro hipotecado
A Orquestra Sinfónica do Algarve (aquela que não existe, mas dá grandes concertos de vez em quando) tem como um dos objectivos da sua existência, dar trabalho aos músicos algarvios ou aqui residentes. Como maestro titular da Orquestra tenho a opção de escolha dos músicos e os resultados estão à vista (Youtube, Orquestra Sinfónica do Algarve).
Pessoalmente, acho uma estupidez infinita, falta de visão e ignorância primária, investir milhares de euros a educar os jovens com dinheiro do erário público e depois simplesmente mandá-los embora. Mais estúpido é impossível. Mas há mais exemplos gritantes que passam ao lado dos debates políticos, fastidiosos e tristes, sem rasgo, ou inovação, a que assistimos todos os dias. A lei dos solos por exemplo, não contemplou aqueles pobres coitados que têm 5 hectares (50.000m2) e não lhes é permitido construir uma casa para uso próprio com 100m2. Quanto à desertificação do interior, as dificuldades que se impõem aos agricultores são indescritíveis.
No Algarve, a região que vive do turismo, entrámos num beco sem saída, porque a hotelaria não pode ou não quer pagar salários condignos, e não se consegue viver com o ordenado mínimo, e pagar 800€ por um T0. Só se for como os do Nepal, Índia e Bangladesh que vivem 10 num T0.
Mas isto não é a solução. Se queremos que os casais tenham filhos e a natalidade suba, temos de dar condições às famílias. Não há dinheiro? Mentira. Vamos investir 2% do PIB com a defesa. Onde é que foram arranjar o dinheiro? Ah! Temos de estar preparados para a guerra. A sério! Basta um submarino russo enviar um míssil nuclear para Viseu, e nós morremos todos. São as tais opções que se têm de fazer. Nós já não somos um império. Somos um país pequeno, com uma economia volátil, dependente de turismo, que necessita das suas gentes. Importar pobres diabos que são explorados por todos é vergonhoso, e é tapar o sol com uma peneira. Porque é que um jovem emigra? Porque não arranja casa, o que ganha não chega, e no estrangeiro pagam-lhe três vezes mais. Temos o futuro hipotecado.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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