A Universidade do Algarve assinalou, esta quarta-feira, o seu 46.º aniversário com a cerimónia do Dia da Universidade, marcada pela tomada de posse de Alexandra Teodósio como reitora, tornando-se a primeira mulher a assumir a liderança da instituição.
No seu discurso inaugural, a nova reitora apresentou a visão estratégica para o mandato, intitulada “Horizonte 2030”, com o objetivo de afirmar a UAlg como um referencial de sustentabilidade, inclusão e investigação com projeção global.
Na intervenção, Alexandra Teodósio destacou como prioridade o reforço de um modelo de ensino-aprendizagem mais sustentável, assente na inovação pedagógica, defendendo, em paralelo, uma aposta clara na investigação transdisciplinar. A reitora sublinhou a importância de áreas estratégicas como a economia azul e a abordagem One Health, enquadrando-as como pilares essenciais para responder aos desafios científicos, sociais e económicos da região.

No mesmo discurso, Alexandra Teodósio reconheceu o trabalho desenvolvido pelos anteriores reitores da Universidade do Algarve, com destaque para Paulo Águas e Manuel Gomes Guerreiro, e lançou à comunidade académica o desafio de uma mobilização coletiva. Entre os principais constrangimentos identificados, salientou os desafios demográficos e as limitações de financiamento que afetam o desenvolvimento da instituição.
A reitora alertou que, apesar dos avanços registados ao nível da internacionalização e da investigação, a UAlg continua condicionada por restrições de financiamento associadas ao estatuto do Algarve enquanto região em transição. Esta condição implica um cofinanciamento máximo de 60%, quando noutras regiões do país esse valor atinge os 85%. Perante este cenário, Alexandra Teodósio garantiu que a Universidade irá insistir junto do Ministério da Educação, Ciência e Inovação na obtenção dos 40% em falta para infraestruturas estratégicas, nomeadamente residências universitárias, assegurando quartos de qualidade para estudantes bolseiros e a quota de 50% no âmbito do PRR.
Paralelamente, a reitora anunciou a intenção de inovar na gestão das residências universitárias, rentabilizando os períodos de menor ocupação através de iniciativas como Escolas de Verão, Programas Intensivos Mistos (BIPs) e parcerias regionais.

Também o presidente do Conselho Geral da UAlg, Álvaro Beleza, enquadrou a tomada de posse como o início de um novo ciclo institucional, classificando este momento como um “ponto de viragem”, por se tratar da primeira vez que a Universidade é liderada por uma mulher. O responsável destacou ainda o significado simbólico e institucional deste marco, sublinhando que representa uma mensagem inspiradora para toda a comunidade académica, reafirmando que talento, competência e visão devem ser os critérios centrais de liderança.
A sustentabilidade foi apontada como a ideia estruturante do novo mandato, assumida não como um conceito abstrato, mas como critério de decisão e estratégia transversal. A visão apresentada aponta para uma Universidade do Algarve capaz de ser referência “para a região e a partir da região”, conciliando impacto científico e responsabilidade social, formação orientada para desafios interdisciplinares e colaboração ativa com autarquias, empresas, organizações sociais e outros parceiros.
O reitor cessante, Paulo Águas, despediu-se da comunidade académica afirmando sentir a “missão cumprida”. Reconhecendo que “nem tudo” foi possível concretizar, sublinhou que as decisões tomadas ao longo dos dois mandatos iniciados em 2017 foram guiadas por “sentido institucional” e “transparência”. No balanço apresentado, destacou o aumento de 40% no número de estudantes e de 50% no número de diplomados, bem como o crescimento das receitas da Universidade, com a receita cobrada em 2025 a ultrapassar, pela primeira vez, os 100 milhões de euros.

Na sua intervenção final, Paulo Águas desejou os maiores sucessos a Alexandra Teodósio, referindo-se a ela como “a primeira reitora” da UAlg e, simultaneamente, “a primeira alumna” a assumir o cargo. Enquadrou este momento como o início de um “novo ciclo”, que traz desafios e energia para “reinventar caminhos”, encerrando com a afirmação: “As pessoas passam, as instituições permanecem.”
Em representação dos funcionários não docentes, Nataliya Butenko destacou o papel dos técnicos e administrativos enquanto “motor silencioso” da Universidade do Algarve, sublinhando a sua função essencial no acolhimento, na ligação entre pessoas e serviços e no funcionamento diário da instituição. Defendeu ainda que o bem-estar e o autocuidado são fundamentais para uma universidade mais coesa, empática e resiliente.

Já o presidente da Associação Académica da UAlg, Tomás Silva, alertou para o subfinanciamento do Ensino Superior, que afeta de forma mais penalizadora as universidades descentralizadas. Para o dirigente estudantil, “não é possível falar seriamente de coesão territorial enquanto as instituições de Ensino Superior fora dos grandes centros continuarem a ser chamadas a cumprir missões acrescidas sem o financiamento adequado”.
Por sua vez, o professor emérito Adelino Canário, em representação dos docentes, sublinhou que a Universidade do Algarve só continuará a afirmar-se se se mantiver aberta ao mundo, se apoiar de forma mais justa os estudantes – em particular os mais carenciados e os internacionais – e se reforçar a ciência e o ensino experimental. Defendeu ainda a valorização e motivação do corpo docente como condição essencial para garantir qualidade, inovação e impacto. Alertou que “é necessário investir mais em ciência”, lembrando que Portugal investe abaixo da média europeia e que o Algarve investe entre três a quatro vezes menos do que a média das restantes regiões, um cenário que pode comprometer a qualidade do ensino, a atração de estudantes e talentos e, consequentemente, a economia regional.
Em linha com a tradição do Dia da Universidade, a cerimónia integrou também momentos de reconhecimento do mérito e da carreira. Foram atribuídas medalhas e diplomas aos funcionários que completaram 25 anos de serviço, seguindo-se a entrega do Prémio Universidade do Algarve aos diplomados com mérito no ano letivo de 2023/2024.

O programa incluiu ainda a apresentação dos novos doutores da UAlg, destacando a importância da formação avançada e da investigação desenvolvida na instituição, bem como a atribuição do Prémio 3MT-UAlg e do Prémio Investigador UAlg, que valorizam a comunicação científica, a qualidade e o impacto da produção científica. Houve igualmente um momento de agradecimento aos funcionários e docentes aposentados em 2025, reconhecendo o seu percurso e contributo para o crescimento da Universidade.
A cerimónia terminou com dois momentos musicais, que conferiram uma dimensão cultural à celebração do Dia da Universidade e intercalaram os momentos protocolares.
















