O debate sobre o futuro do planeta tem sido dominado pela luta contra o aquecimento global, mas Bill Gates veio lançar um alerta diferente. O filantropo e fundador da Microsoft defende que o mundo está a investir demasiado no combate às alterações climáticas e a esquecer os problemas mais urgentes, como a fome e as doenças que continuam a matar milhões de pessoas nos países mais pobres.
Em ensaio publicado esta semana, Bill Gates reconhece que o aquecimento global terá consequências sérias, sobretudo nas regiões mais vulneráveis, mas considera que “não vai acabar com a humanidade”. Para o empresário, o foco deve estar em salvar vidas agora, através de políticas e investimentos que reforcem o acesso à alimentação e aos cuidados de saúde.
“Os recursos estão a ser mal distribuídos”
De acordo com o jornal espanhol AS, o magnata norte-americano admite que houve progressos na redução das emissões de carbono, mas critica o modo como têm sido aplicados os fundos internacionais. Na sua opinião, grande parte do dinheiro tem sido canalizada para projetos caros, de eficácia duvidosa e resultados lentos, enquanto milhões continuam a morrer por falta de medicamentos básicos ou de água potável.
Apesar de não defender o abandono da causa ambiental, Gates apela a um reequilíbrio nas prioridades globais, argumentando que os filantropos e governos devem direcionar mais recursos para o combate à desnutrição e à propagação de doenças como a malária, o VIH ou a tuberculose.
Cortes que custam vidas
O fundador da Microsoft recorda também o impacto das decisões políticas recentes, nomeadamente os cortes à USAID, a agência norte-americana responsável por projetos de ajuda internacional, decididos durante a presidência de Donald Trump. Essa redução de financiamento, afirma, afetou diretamente programas de saúde e distribuição de medicamentos em vários países africanos.
Como exemplo, Bill Gates cita a história de Peter Donde, um menino órfão de 10 anos do Sudão do Sul, que morreu em fevereiro depois de ter perdido o acesso a medicamentos contra o VIH, doença com que nascera. Para o empresário, esta tragédia simboliza as falhas do sistema internacional de ajuda e o preço humano das prioridades erradas.
Um apelo à consciência global
“As alterações climáticas, as doenças e a pobreza são problemas graves”, escreve Gates. “Devemos enfrentá-los de forma proporcional ao sofrimento que causam.” Com esta afirmação, o milionário propõe uma mudança na métrica de avaliação dos investimentos internacionais, centrando-os mais no alívio do sofrimento imediato do que em metas ambientais de longo prazo.
O seu argumento surge num momento sensível, a poucas semanas da COP30, conferência mundial dedicada precisamente à luta contra o aquecimento global. Gates não contesta a importância da cimeira, mas alerta que as políticas climáticas não podem ofuscar as necessidades humanas mais básicas.
Um debate que divide especialistas
As declarações do empresário norte-americano reacenderam o debate entre economistas, ambientalistas e responsáveis por organizações humanitárias. De acordo com o AS, alguns especialistas defendem que é possível conciliar os dois caminhos, proteger o ambiente e, ao mesmo tempo, combater a fome e a doença, mas reconhecem que o financiamento internacional continua desequilibrado.
Outros concordam com Gates, argumentando que as alterações climáticas são um problema de longo prazo e que a prioridade imediata deve ser salvar vidas em regiões onde a mortalidade infantil e a desnutrição continuam alarmantes.
O debate lançado por Bill Gates vai muito além da diplomacia climática. É um apelo à empatia e à redefinição das prioridades globais, lembrando que salvar vidas hoje pode ser, afinal, a melhor forma de garantir um amanhã sustentável.
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