O Algarve é, segundo os dados, a região do país onde mais jovens abandonam a escola antes de concluírem os estudos. Um fenómeno preocupante, dizem os especialistas. E como bons especialistas, apontam causas sérias: falta de transportes nas zonas rurais, desigualdades sociais, carência de oferta educativa. Tudo muito técnico, muito ponderado.
Mas talvez falte considerar um fator menos académico e mais… festivo.
Porque o Algarve, convenhamos, vive num estado de animação permanente. É uma região onde o calendário parece ter sido desenhado por um DJ hiperativo com acesso ilimitado a sardinhas, marisco e máquinas de espuma. Há Passagens de Ano com fogos-de-artifício dignos de Dubai, Carnavais tropicais, Festas da Sardinha, Festas do Marisco, Feiras Medievais, Noites Brancas, Noites de Espuma, Festivais disto e daquilo, e concertos que se sucedem como episódios de uma série sem fim.

Jurista
Porque se o futuro é uma festa, convém que os jovens saibam dançar — mas também somar, escrever, pensar
Num clima assim, qual o jovem que resiste a ficar em casa agarrado a um compêndio de matemática ou de química? Hoje há festival de RAP na praça. Amanhã é a Noite da Cerveja Artesanal com DJ Viking. Depois vem a Feira Medieval com batalhas simuladas e pão com chouriço. E o pobre compêndio, coitado, fica esquecido na mochila, entre um power bank e um flyer da próxima rave.
A escola, nesse contexto, parece uma instituição fora de moda. Os horários não competem com os dos festivais. Os professores não têm luzes estroboscópicas. E os exames não oferecem brindes nem palco. Talvez fosse tempo de repensar a pedagogia algarvia. Que tal aulas temáticas durante a Feira Medieval? Ou testes de física aplicados à montagem de palcos? Ou, quem sabe, uma disciplina chamada “Gestão de Eventos e Resistência ao Sono”?
Brincadeiras à parte, o abandono escolar é um problema sério. Mas talvez o Algarve nos esteja a dar uma lição inesperada: a de que o território também educa. E que, num lugar onde a festa é constante, a escola precisa de ser mais do que um edifício com campainha — precisa de competir com a vida lá fora.
Porque se o futuro é uma festa, convém que os jovens saibam dançar — mas também somar, escrever, pensar. E talvez até calcular o custo de um fogo-de-artifício em função do orçamento municipal.
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