Existem troços costeiros em Portugal, onde, após um sismo forte no mar, a primeira onda de tsunami pode chegar em menos de meia hora, e o Algarve surge repetidamente como a região com menor margem de reação, segundo estudos e planos de evacuação já usados por autarquias e Proteção Civil.
Modelos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) indicam que a ameaça está ligada à proximidade da fronteira tectónica entre a placa Eurásia e a placa Africana (zona Açores-Gibraltar e estruturas próximas, como o Banco de Gorringe), com historial de sismos relevantes e capacidade tsunamigénica.
Num cenário de origem submarina, a diferença entre “sentir o abalo” e “ter água a entrar em zonas baixas” pode ser curta, o que torna a resposta imediata (auto-evacuação) um fator crítico, sobretudo em praias, marinas e frentes urbanas junto ao mar.
Algarve: o relógio pode contar 25 a 30 minutos
Em Lagos, trabalhos técnicos usados para rotas e sinalética de evacuação apontam tempos mínimos de chegada (TTT) na ordem dos 25 a 30 minutos, dependendo do local de origem do sismo.
Material de sensibilização produzido no âmbito de planeamento local reforça a mesma ideia: no Algarve, a chegada pode ser “tipicamente” inferior a 30 minutos, o que deixa pouco espaço para esperar por confirmações.
Esta vulnerabilidade agrava-se onde a ocupação urbana é densa e a topografia é baixa e plana, criando zonas com maior propensão para inundação rápida e com rotas de saída mais limitadas.
Lisboa: mapas de inundação e risco extremo na frente ribeirinha
Na Grande Lisboa, há cartografia oficial de inundação por tsunami para o município de Lisboa, produzida no contexto do planeamento urbano e com contributos científicos (incluindo IPMA), identificando áreas ribeirinhas com perigosidade elevada a extrema em vários cenários.
O relatório descreve impactos relevantes em zonas como Belém, Alcântara, Cais do Sodré e Baixa, com profundidades e velocidades de escoamento significativas em cenários mais gravosos, informação usada para orientar prevenção e gestão do território.
Quanto ao “tempo de chegada”, varia muito com a fonte do sismo em Portugal e o ponto da costa: exercícios e simulações recentes têm trabalhado cenários em que a primeira onda pode demorar perto de 50 minutos a atingir setores como Sagres, mostrando que a janela pode ser maior, mas não deve ser assumida como garantida noutros locais.
Açores e Madeira: risco sísmico e vigilância permanente
Nos Açores, a atividade tectónica é elevada e a monitorização sísmica é contínua, com registo e divulgação regular de eventos pela rede nacional, o que reforça a necessidade de cultura de autoproteção em zonas costeiras.
Em contextos insulares, a exposição de zonas baixas junto a portos, baías e frentes urbanas pode aumentar a suscetibilidade à inundação, mesmo quando a origem do tsunami é distante, dependendo da propagação oceânica e da morfologia costeira.
A regra prática, recomendada em guias de planeamento e evacuação, mantém-se: se o sismo for forte e prolongado e estiver perto do mar, a evacuação deve começar de imediato para zonas altas ou abrigos definidos, sem esperar por sirenes ou SMS.
Alerta do IPMA existe, mas a resposta pode ter de ser instantânea
O IPMA opera o Centro Nacional de Alerta de Tsunamis desde novembro de 2017, integrado na rede NEAMTWS, emitindo mensagens de aviso aos pontos focais nacionais com indicação de ameaça e tempos de chegada expectáveis para a primeira onda.
Documentos oficiais da proteção civil explicam que, no Atlântico Norte, a confirmação instrumental de um tsunami só acontece quando a primeira onda atinge os marégrafos costeiros, o que ajuda a explicar por que razão, em cenários com fontes muito próximas da costa, o aviso oficial pode não “chegar primeiro” ao cidadão.
Na prática, o comportamento seguro resume-se a três passos em caso de sismo no mar em Portugal: afastar-se imediatamente da linha de água, subir para terreno elevado (ou para pisos superiores de um edifício resistente, se essa for a opção mais rápida e segura) e seguir rotas sinalizadas/indicadas pelas autarquias e Proteção Civil, evitando regressar ao litoral entre ondas.
Preparar hoje: simulacros, rotas e um risco raro, mas com impacto elevado
A avaliação do risco nacional tem enquadrado o tsunami como um fenómeno de baixa probabilidade, mas de consequências potencialmente muito graves, o que justifica planeamento, formação e exercícios regulares.
É por isso que municípios, Proteção Civil e comunidade científica têm investido em cartografia, sinalética, planos e guias de evacuação, porque, num cenário real, a rapidez da decisão individual pode ser determinante para salvar vidas.
Sismo de hoje em Portugal: abalo de 4,1 na Guarda sentido no Norte e Centro
Na madrugada deste sábado, o IPMA registou um sismo de magnitude 4,1, pelas 00h38, com epicentro a cerca de 4 km a oeste-sudoeste de Celorico da Beira (distrito da Guarda), tendo sido sentido em vários concelhos do Norte e Centro, nomeadamente nos distritos da Guarda e Viseu; até ao momento, não há registo de danos pessoais ou materiais, segundo informação divulgada.
Por ter ocorrido em terra, este abalo não desencadeou alerta de tsunami; ainda assim, funciona como lembrete de que, quando o sismo é forte e prolongado junto à costa (ou há sinais naturais, como recuo anormal do mar), a orientação é afastar-se imediatamente do litoral e procurar zonas elevadas, sem esperar por avisos.
















