Ver praias com o mar a brilhar no escuro não é um truque de luzes nem um efeito digital. É biologia em estado puro. O fenómeno chama-se bioluminescência e acontece quando milhões de micro-organismos marinhos, conhecidos como dinoflagelados, emitem luz ao serem agitados pela água. Um simples movimento, como uma onda a rebentar ou uma mão a mergulhar, basta para fazer o oceano cintilar num tom azul-esverdeado.
De acordo com o portal especializado em meteorologia e ciência Meteored, este brilho é mais frequente em águas quentes e calmas, sobretudo nas noites de lua nova, quando o céu está limpo e a poluição luminosa é mínima. Embora o espetáculo seja visível em vários pontos do globo, há locais onde ocorre com maior regularidade.
Baía do Mosquito, Porto Rico
Situada na ilha de Vieques, a Baía do Mosquito detém o recorde mundial do Guinness como a baía bioluminescente mais brilhante do planeta.
O segredo está nos mangais que fornecem nutrientes a milhões de dinoflagelados. Após o furacão Maria, em 2017, a população destes organismos duplicou, e o fenómeno pode agora ser observado durante todo o ano. As vizinhas Laguna Grande e La Parguera também oferecem o mesmo espetáculo, sendo esta última a única onde é permitido nadar.
Baía de Jervis, Austrália
No sul de Nova Gales do Sul, a Baía de Jervis combina praias de areia branca com noites fluorescentes. Em zonas como Blenheim Beach ou Barfleur Beach, as ondas adquirem um tom azul-elétrico entre maio e agosto. As autoridades locais aconselham seguir os boletins regionais, já que o fenómeno depende de condições atmosféricas específicas.
Krabi, Tailândia
Na província de Krabi, o plâncton encontra o ambiente perfeito: águas mornas, mangais e recifes de coral. Entre novembro e maio, a bioluminescência intensifica-se em torno da praia de Railay e das ilhas vizinhas. Segundo a mesma fonte, há passeios de caiaque organizados à noite que permitem ver cada remada deixar um rasto luminoso que desaparece em segundos.
Ilhas Matsu, Taiwan
Neste arquipélago ao largo da costa da China, o fenómeno é conhecido como “lágrimas azuis”. As microalgas surgem sobretudo entre abril e junho, e os passeios de barco ao pôr do sol são a melhor forma de as observar. A luz azulada reflete-se na superfície do mar e transforma a paisagem num cenário quase irreal.
Lagoa Maniapeltec, México
Nos arredores de Puerto Escondido, a Lagoa Maniapeltec liga-se ao oceano apenas durante a estação das chuvas.
Nessa altura, o plâncton entra nas águas calmas do mangue, criando condições ideais para o brilho noturno. As excursões decorrem geralmente depois da meia-noite, quando a escuridão é total e o espetáculo atinge o seu auge.
Baía Mission e Newport Beach, Califórnia
Na costa da Califórnia, as marés luminosas tornaram-se mais frequentes. O mar brilha a azul intenso durante os meses de outono, embora cada aparição seja imprevisível. Em 2024, vídeos gravados por residentes tornaram-se virais pela intensidade do fenómeno.
Penmon Point, Gales
Mesmo em águas frias como as do País de Gales, a bioluminescência pode surpreender. Na costa de Anglesey, regista-se o fenómeno por volta de junho, provavelmente devido ao aumento da temperatura do mar. Basta atirar uma pedra à água para ver um rasto azul-claro expandir-se à superfície.
O brilho que encanta tantos viajantes é resultado de uma reação química: a luciferina, uma molécula presente em certos organismos, reage com o oxigénio através da enzima luciferase, libertando energia sob a forma de luz. Estima-se que mais de 1.500 espécies marinhas possuam esta capacidade, incluindo peixes, medusas, lulas e crustáceos.
Segundo o Meteored, a bioluminescência é um fenómeno frágil e raro, mas continua a provar que a natureza ainda tem formas de nos deixar sem palavras.
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