O presidente dos Estados Unidos Donald Trump voltou a usar um tom duro contra Espanha após a última cimeira da NATO, acusando o país de não cumprir as novas metas de investimento militar. Trump foi mais longe e sugeriu mesmo a sua expulsão da organização.
Segundo o portal espanhol Business Insider, as declarações foram feitas em Washington, numa conferência de imprensa conjunta com o presidente finlandês, Alexander Stubb. Trump, que tem pressionado os aliados europeus a aumentarem a despesa em defesa, anunciou que quer ver cada país a investir 5% do PIB nas forças armadas até 2035.
O número representa mais do dobro do compromisso atual de 2%, acordado em 2014, e é visto por muitos analistas como uma exigência sem precedentes. Ainda assim, Trump afirmou que “a proposta foi aprovada praticamente por unanimidade”, com uma exceção notória.
“Solicitei que pagassem o 5%, não o 2%, e a maioria pensou que não ia acontecer. Tivemos um país rezagado: Espanha. Francamente, talvez devessem expulsá-los da NATO”, declarou o presidente norte-americano Donald Trump, visivelmente irritado com a posição de Madrid.
Espanha recusa seguir o novo patamar de despesa
O governo espanhol, liderado por Pedro Sánchez, defendeu durante a cimeira de junho que a questão do investimento militar deve manter “flexibilidade” e não estar amarrada a percentagens rígidas. Espanha subscreveu a declaração final da NATO, mas deixou claro que não se compromete com os 5% do PIB.
Segundo fontes diplomáticas citadas pela imprensa espanhola, o país quer concentrar-se em cumprir os requisitos técnicos e operacionais da Aliança, em vez de um número fixo. Esta posição, porém, colocou Madrid numa situação delicada perante os restantes aliados.
A proposta de Trump foi apoiada por quase todos os Estados-Membros da NATO, que aceitaram rever os seus orçamentos de defesa nos próximos anos. Mesmo os países tradicionalmente cautelosos, como a Alemanha e a Itália, evitaram confrontar diretamente a Casa Branca.
Reação da NATO e o aviso de Bruxelas
O novo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, já respondeu às críticas internas, lembrando que “não há cláusulas de escape” no acordo assinado pelos 32 países-membros. Segundo Rutte, cada governo deverá “demonstrar progressos claros” no aumento da despesa militar.
Bruxelas teme agora que as palavras de Trump alimentem divisões dentro da organização, especialmente entre os países do sul da Europa, mais pressionados financeiramente. Espanha surge, neste contexto, como o elo mais vulnerável.
Analistas internacionais sublinham que o discurso de Trump se enquadra na sua estratégia de mostrar força perante os aliados, reforçando a ideia de que os Estados Unidos “não podem continuar a pagar pela defesa dos outros”.
Uma pressão com contornos políticos
A insistência no tema da defesa tem também uma leitura interna. Nos Estados Unidos, o republicano procura demonstrar firmeza e capitalizar o descontentamento de parte do eleitorado que considera a NATO um fardo económico para Washington.
A ameaça de expulsar Espanha, embora improvável na prática, é vista como uma forma de pressão simbólica. Nenhum país foi alguma vez expulso da Aliança Atlântica, e o processo exigiria unanimidade dos restantes membros.
Ainda assim, as palavras do presidente norte-americano deixam marcas. Espanha, que tem vindo a reforçar a presença nas missões internacionais da NATO, vê agora a sua credibilidade questionada.
Risco de isolamento dentro da Aliança
Em Madrid, o governo reagiu com contenção. Fontes próximas de Pedro Sánchez limitaram-se a recordar que Espanha “cumpre com os compromissos operacionais e humanos” assumidos no seio da organização.
A oposição, porém, aproveitou o momento para criticar a política externa do Executivo, acusando-o de “fragilizar a imagem do país” junto dos aliados ocidentais.
A tensão entre os dois lados do Atlântico poderá agravar-se nos próximos meses, caso Trump mantenha o tom. Para já, a Casa Branca garante que continuará a “fazer pagar o dobro” aos países que, nas suas palavras, “não contribuam de forma justa para a segurança comum”, segundo o Business Insider.
Espanha, que enfrenta limitações orçamentais e um clima político instável, terá de decidir como responder a uma exigência que está a redesenhar o equilíbrio dentro da NATO, e que pode redefinir o seu papel no palco internacional.
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