Quando era a criança, nos anos 80, brincava-se com o facto do Algarve ser praticamente no “estrangeiro” e que para se ser bem servido até era melhor falar em inglês. A montra do turismo de Portugal era essa e, nesse tempo, a TAP Air Portugal voava diretamente de Faro para cidades como Londres, Paris, Frankfurt, Zurique e até Toronto. De lá para cá, e apesar de toda a evolução da conetividade aérea, do turismo e do volume de passageiros em Faro e no resto do país, o retrocesso das companhias do Estado tem sido notório. Como é que, num país cujo Estado detém a 100% quatro companhias aéreas sob pretexto da promoção da coesão territorial e com o propósito de garantir o acesso do país aos turistas, a presença das suas companhias no Algarve – a região com maior número de turistas internacionais e a mais dependente do turismo – esteja reduzida a apenas 400 mil dos quase 10 milhões de passageiros aéreos do seu aeroporto?!
Hoje em dia, Lisboa é o único destino da TAP à partida do Algarve, com três voos por dia. Já para se chegar ao Porto, a missão de unir os extremos do país cabe à irlandesa Ryanair, também com três voos diários. Por outro lado, e até 2024, Faro estava totalmente desligado dos arquipélagos. As únicas ligações aéreas possíveis para Ponta Delgada ou para o Funchal passavam obrigatoriamente por Lisboa, encarecendo os voos e prolongando a viagem para lá das cinco horas. A Azores Airlines veio corrigir esta entropia estatal no ano passado: muito depois de ter inaugurado voos para destinos como Praia (Cabo Verde), Bermuda, Bilbau ou Milão, só em 2024 é que chegou a vez de Faro – de forma tímida, com apenas dois voos semanais e sazonais! A adesão dos passageiros foi de tal forma estrondosa que a rota sazonal de verão passou de dois para três voos semanais e, ainda a temporada não tinha terminado, passou a rota anual. Para este verão, haverá quatro voos por semana, uma aposta que apenas se justifica devido à rentabilidade geral da rota: curta, com uma boa mistura de tráfego local e de passageiros em ligação para a América do Norte com uma tarifa aceitável. De fora ficou a Madeira: os estudantes madeirenses na Universidade do Algarve, os familiares e amigos separados pelo mar, os residentes estrangeiros ávidos por conhecer outras regiões do país ou os turistas interessados em combinar uma visita a estas duas regiões portuguesas viam-se impossibilitados de deslocações diretas, rápidas e eficazes entre Faro e Funchal.
Eu sei que neste ano de 2025 todos os foguetes vão para o primeiro voo entre Faro e Nova Iorque operado pela United Airlines, que começa a 17 de maio com quatro voos semanais. Mas enquanto país, só nos fica bem celebrar também o primeiro voo direto Algarve-Funchal a bordo dos Embraer 190 da Portugália/TAP Express, ainda que apenas duas vezes por semana. Mesmo que a festa seja silenciosa, uma semana antes do 10 de Junho, esta nova ligação doméstica será como um grito que ecoará de Sagres até à Ponta do Sol: “o Algarve também é Portugal!”.
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