Combater a falta de mão-de-obra no turismo não requer só melhores salários, e para “atrair talento” ao sector as empresas também devem oferecer outro tipo de benefícios que estão a ser valorizados no mercado de trabalho. Esta é uma das conclusões da conferência sobre mercado de trabalho organizada pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), que decorre esta quarta-feira na Alfândega do Porto.
“Perdemos com a pandemia 27% de colaboradores neste sector do turismo, segundo indicam os nossos dados, e é uma taxa muito significativa de população perdida numa área de atividade”, adiantou Luísa Pinho, gestora da Randstad Portugal, empresa de recrutamento a que muitas das empresas turísticas recorrem.
“O que os trabalhadores mais valorizavam antes da pandemia não é o mesmo de agora. No pré-covid era salário, salário, salário. Mas o paradigma mudou. O que os últimos estudos nos dizem é que o fator predominante para 79% dos inquiridos em Portugal é a flexibilidade – que inclui a horários adequados para poder haver um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, poder ir ao ginásio ou poder estar com a família”, salientou a responsável da Randstad.
“Temos ouvido ideias dos candidatos que parecem fora da caixa mas fazem sentido, enfatizando a importância da saúde mental e física, no fundo do ‘salário emocional’, com um sentimento de propósito no trabalho que fazem”, acrescentou.
Na necessidade de “captar e reter talento” no sector dos hotéis e restaurantes, enfatizada na conferência da AHRESP, Luisa Pinho sublinhou a relevância dos “benefícios extra-salário oferecidos pelas empresas, e que têm um impacto grande” junto dos novos candidatos a emprego no turismo, valorizando-se por exemplo mensalidades gratuitas em ginásios ou licenças Netflix.
O problema de falta de mão-de-obra no turismo e a necessidade de dignificar estas profissões com melhores condições e remunerações não é só português, mas europeu. “Todos os paísers europeus têm as mesmas preocupações, os problemas são comuns, estamos todos no mesmo barco”, sublinhou Luis Araújo, presidente do Turismo de Portugal – e que representa o país na European Travel Commission.
“Não podemos dizer que vamos resolver o problema da mão-de-obra só trazendo pessoas do país A ou B ou só aumentando salários”, sustentou o presidente do Turismo de Portugal, sublinhando que o problema é complexo, envolve várias funções e obriga a abordagens diversificadas. Deu o exemplo dos “novos nómadas digitais, que Portugal tem capacidade de atraír, e podem também servir as forças de trabalho no turismo”.
“Trabalhar no turismo é muito duro, é uma maratona. A valorização salarial é essencial, e também conseguir formas de proporcionar um equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal”, destacou Luís Araújo.
A imigração é uma via que pode ajudar a combater a escassez de pessoal no sector, nomeadamente através de acordos que estão à mesa do Governo para facilitar os vistos à entrada de trabalhadores dos PALOP e da India, enfatizou Luís Araújo.
“É importante trazer pessoas de fora. Mas não podemos dizer que só precisamos de mão-de-obra barata que vem de países do terceiro mundo, temos de ter a capacidade de atrair um alemão ou um espanhol”, concluiu.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL