Nos últimos anos, algumas das cidades mais visitadas do mundo têm procurado travar o turismo em excesso que ameaça o quotidiano dos residentes e o equilíbrio urbano. Uma das mais afetadas é uma das joias culturais do Japão, onde as autoridades decidiram aumentar drasticamente a taxa turística para tentar controlar o fluxo de visitantes.
A cidade de Quioto, conhecida pelas ruas de pedra, casas de chá tradicionais e templos históricos, recebe milhões de turistas todos os anos. Só em 2023, o número ultrapassou os 10 milhões de visitantes, um aumento de 53% face ao ano anterior. A popularidade crescente, contudo, tem vindo a gerar problemas de sobreturismo, obrigando as autoridades locais a agir.
Um aumento de 900% na taxa turística
Até agora, Quioto aplicava uma taxa turística de cerca de 5 libras por noite (cerca de 5,80 euros) por pessoa. A partir de inícios de 2026, esse valor subirá para quase 50 libras (aproximadamente 58 euros) por noite, por turista, nos hotéis de luxo da cidade. O aumento, de acordo com o jornal britânico Express, representa um salto de cerca de 900% face ao valor anterior e tem como objetivo financiar medidas de preservação urbana e reduzir os impactos do turismo massivo.
As autoridades explicam que parte da receita será usada para melhorar infraestruturas locais, reforçar a limpeza urbana e criar campanhas de sensibilização junto dos visitantes sobre o respeito pelos costumes e espaços públicos.
Medidas para proteger os bairros tradicionais
Não é a primeira vez que Quioto toma medidas para conter o comportamento de alguns turistas. Desde 2019, está proibido tirar fotografias no histórico bairro de Gion, conhecido pelas suas ruelas estreitas e pelas casas de gueixas e maikos (aprendizes de gueixa).
Apesar de certas áreas, como a rua principal de Hanamikoji, continuarem abertas à fotografia, os moradores queixaram-se de que muitos visitantes invadiam propriedades privadas e becos residenciais sem autorização, em busca da “foto perfeita”. Por essa razão, a autarquia implementou multas de 10.000 ienes (cerca de 61 euros) para quem desrespeitar a regra, refere ainda a mesma fonte.
A medida foi reforçada em 2023, com sinalização adicional em várias zonas privadas e avisos aos visitantes para que não se sentem nas entradas das casas nem consumam comida ou bebidas em propriedades privadas.
Proteção das gueixas e maikos
Outra preocupação crescente é o assédio a gueixas e maikos, frequentemente perseguidas e fotografadas sem consentimento por turistas: um fenómeno apelidado localmente de “maiko paparazzi”.
As gueixas são artistas profissionais japonesas especializadas em entretenimento tradicional, que inclui dança, canto, música, poesia e cerimónia do chá. O termo significa literalmente “pessoa das artes”. As gueixas são conhecidas pela maquilhagem branca, quimono elaborado e penteado tradicional. O seu papel é o de preservar e representar as artes e costumes tradicionais do Japão em eventos e casas de chá.
O maiko é uma aprendiz de gueixa, geralmente uma jovem entre os 15 e os 20 anos, que está em formação artística e social. A palavra significa “criança dançarina”. As maikos vivem em casas tradicionais chamadas okiya, onde aprendem danças clássicas, etiqueta e música. Distinguem-se das gueixas por usarem quimonos mais coloridos, penteados mais ornamentados e maquilhagem mais acentuada.
Autoridades alertam para a idade das aprendizes
As autoridades alertam que muitas aprendizes de gueixa têm apenas 16 ou 17 anos, e que a falta de respeito por parte de alguns visitantes já levou a situações de ameaça à segurança destas jovens.
O Sora News, um meio de comunicação japonês, citado pela mesma fonte, descreveu o fenómeno em 2023, afirmando que “Gion, apesar de ser um local de trabalho e residência para muitos habitantes, tem sido tratado como um parque temático pelos turistas, que perseguem e fotografam gueixas e maikos pelas ruas”.
Educação e responsabilidade turística
Para além das restrições e multas, a cidade lançou nos últimos anos um guia de etiqueta para ajudar os visitantes a compreender os costumes locais e a comportar-se de forma apropriada. O objetivo, segundo as autoridades, não é afastar os turistas, mas sim garantir uma convivência mais equilibrada entre quem vive e quem visita Quioto, refere o Express.
Com este novo aumento da taxa turística, o município espera desincentivar o turismo de massa, promovendo um modelo mais sustentável e respeitador, capaz de preservar a essência e o património de uma das cidades mais emblemáticas do Japão.
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