Porque é que o cão e o gato, o periquito e o peixinho dourado fazem Vitamina C e nós, humanos, não conseguimos? Não sabemos, especula-se.
E o mais incrível é que não somos só nós, os humanos, que no reino dos mamíferos, não conseguimos sintetizar a vitamina C. Temos por companhia, os grandes macacos, mas também um morcego frutífero e os amorosos porquinhos da India. Os outros mamíferos, sintetizam a sua própria Vitamina C. É injusto!
Últimas Recomendações – dose mínima de Vitamina C, diária
Segundo a ESFA, Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, nós humanos, supostamente só precisamos de 90 mg por dia de Vitamina C. Ver link.
A FDA, a equivalente autoridade americana, somente em 2019 alterou a recomendação de 60 mg por dia para 90 mg/dia. Mas podemos tomar mais, também disseram. Poucas substâncias são mais seguras do que a Vitamina C, que sendo solúvel em água, tudo o que não usamos no dia, é excretado, no dia seguinte, pelo líquido de saída mais adequado. Ver link.
Mas continuando. Curiosamente, os mamíferos sintetizam essa vitamina no fígado, peixes e aves sintetizam-na nos rins. Interessante. E ainda mais interessante é a pergunta que mais intriga os investigadores: o animal faz Vitamina C porque o corpo pede (via procura), ou está sempre a fazer para o que der e vier (via oferta)?
Um touro, por exemplo, porque é ruminante, toda a vitamina C que come, deita fora – é derretida naqueles seus quatro estômagos marados. O que ele produz, no fígado, dá para tudo e mais alguma coisa.
O porquinho da India, coitado, que, como nós, também não produz Vitamina C e cujos dentes crescem permanentemente, se lhe tiram o suplemento diário de Vitamina C, os dentes param de crescer. É surpreendentemente surpreendente o que a Vitamina C faz, ou deixa de fazer.
Agora vamos lá fazer umas contas de merceeiro: uma cabra, pesando 75kg, tanto pode fazer quatro gramas como treze gramas de Vitamina C por dia, senão mais. São factos. Porquê? Para quê?
Se pensarmos bem, nós, humanos e as cabras, até somos parecidos. Pelo menos no peso. Mas nós, supostamente, só precisamos de 90mg/dia, e as cabras acham que precisam de muito mais.
Pior, porque, sabe-se também lá porquê, os vitelos não conseguem produzir Vitamina C durante as duas ou três primeiras semanas de vida e o colostro e leite da sua mãe vaca não aporta mais do que 1-2mg/100ml, o que não é suficiente. Alguns criadores reportam que a dose recomendada para suplementar estes vitelos é de 2000 mg /kg. Repito, dois gramas por cada quilograma de vitelo que nasce com pouco mais de 40 kg, o que perfaz, pelo menos, 80 gramas por dia – que é quase 100 vezes mais do que a recomendação diária para os humanos.
E o cão? Imaginemos que o seu cão tem deficiência de vitamina C ou sofre de estresse físico ou mental regular. Uma dose diária adicionada à dieta do seu cão pode ser útil, dirá um veterinário. Como os cães já produzem vitamina C naturalmente, eles não precisam de tanta vitamina C quanto os humanos. E recomendam: comece com 18 mg de vitamina C por quilograma de peso corporal do seu cão e distribua a dose ao longo do dia junto com a comida, porque toda junta pode provocar incómodos intestinais (se é que me percebem). Portanto, para um nervoso caniche minúsculo, de dez quilogramas, a recomendação de suplementação com Vitamina C pode ser só o dobro do que é recomendada para um adulto humano. Tem alguma lógica?
É compreensível que 90mg/dia, para homens adultos, pode até ser o mínimo para evitar a doença do escorbuto que afligia os marinheiros no tempo das Descobertas lá para o século XVI, onde lhes caiam os dentes e sangravam até morrer, três meses após começar a viagem, como estudamos na escola. Mas, e no século XXI, para aguentar todas as outras funções que a ciência, entretanto descobriu, para as quais essa tal de Vitamina C é absolutamente necessária não será de repensar essa estratégia de comunicação em saúde pública?
Disse assim Linus Pauling (Premio Nobel da Química em 1954, e especialista em Vitamina C):
Nenhuma evidência obriga a concluir que a ingestão mínima necessária de qualquer vitamina chega perto da ingestão ideal que sustenta uma boa saúde.
Pauling sugeriu no início da década de 1970 que a ingestão diária ideal poderia ser de cerca de 2000 miligramas de vitamina C e que todos deveriam ingerir pelo menos 200 a 250 mg/dia. Numa entrevista de rádio em 1974, observou que “os primeiros 250 mg são mais importantes do que quaisquer 250 mg posteriores”.
Eu diria, que nós, humanos, os mais de oito mil milhões deles que estamos hoje neste Planeta, que obviamente nunca temos estresse físico ou mental como um caniche (sarcasmo), estamos a ser tratados abaixo de cão.
Mas, seguindo as recomendações do nosso laureado preferido, Linus Pauling, voltemos às nossas contas de merceeiro, num cenário imaginado:
Os primeiros 250 mg do dia de Vitamina C, sejam eles proporcionado por comida ou por suplementação, são os mais importantes e impedem que as nossas artérias e veias se desfaçam como acontecia aos marinheiros, a tal doença chamada escorbuto, provavelmente pelo papel fundamental da Vitamina C na síntese de colagénio, reforçando a estrutura, que temos por todo o lado, e também nas artérias mais sujeitas a um estresse mecânico como o é o caso do fluxo sanguíneo nas artérias do coração;
Os segundos 250 mg/dia, talvez sirvam para evitar ou enfraquecer a ação perniciosa de algum bicharoco que entra sem pedir licença, e neste caso seria devido ao seu poder antioxidante, que ao viajar em elevadas concentrações pelo nosso corpo fora, dentro dos glóbulos brancos, é pedra-chave do nosso sistema imunitário;
Os terceiros 250 mg e seguintes, poderão ser direcionados para algum trabalho especializado tipo anti-inflamatório, uma dor, um inchaço, uma pingadeira pelo nariz, ou quem sabe, algo mais reparador que necessite de colagénio, como uma artrite, para ver se ainda chega a tempo, antes desta se transformar numa artrose;
E ainda há quem diga, e quem o disse e comprovou foi o parceiro de investigação do próprio Linus Pauling, o cardiologista Dr. Matthias Rath, que que a Vitamina C poderá, devagarinho, descalcificar a malfadada placa aterosclerótica calcificada, que está associada a ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais. E para quem tem placa, e somos muitos, lá se vão gastando mais pelo menos 250mg/dia, todos os dias;
E se ainda assim sobrar alguma Vitamina C, talvez a partir de 5000 mg/dia, ninguém sabe (só se estudou esse limite para jovens adultos saudáveis), e porque a Vitamina C é solúvel em água e não temos meios de a guardar, ela vai ser excretada e, pronto, amanhã é outro dia.
Agora uma pergunta: Linus Pauling anunciava, alto e a bom som, que ele próprio tomava 18000 mg/dia de Vitamina C, faz algum sentido? Parece algo exagerado, não?
(Lembram-se do caniche nervoso, em que o veterinário alertava que tomar muita vitamina C poderia ocasionar uma soltura do intestino?)
Pois essa foi mesmo a razão que ele próprio, Linus Pauling confessou, com um sorriso expressivo, numa conferencia que deu num simpósio sobre nutrição (em Tulsa-Oklahoma, à data de 6 de Novembro de 1992), já com 91 anos: “Eu decidi tomar 18 gramas/dia, porque sim, faz-me bem, melhora a minha qualidade de vida”. Hoje, esse “tratamento” chama-se Vitamina C Flush (traduza como quiser).
Quem sabe, sabe.
(continua na próxima semana)
Leia também: Lipedema – cozidas em lume brando | Por Teresa F Mendes