O Continente prepara-se para aumentar preços em 2026, com o CEO da Sonae MC, Luís Moutinho, a justificar que “sempre que há inflação, os preços têm de subir” e que “não há outro remédio”, num contexto em que o setor do retalho volta a alertar para pressão crescente na cadeia de valor dos bens essenciais.
De acordo com o portal The Portugal News, a mensagem foi transmitida à margem de um encontro com jornalistas em que a Sonae MC apresentou o seu plano de expansão e investimento em Portugal, reforçando ao mesmo tempo que o negócio da distribuição alimentar opera com margens reduzidas e num mercado altamente competitivo.
Do lado da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), o aviso é direto: os consumidores devem preparar-se para aumentos em algumas categorias, com destaque para produtos como carne e peixe, onde a associação admite subidas que podem chegar aos 7%, ainda que o setor diga que tentará conter o impacto no preço final.
Porque é que as subidas voltam à mesa
A pressão, segundo a APED, vem sobretudo do lado dos custos de produção e de fatores regulatórios e climáticos, com impacto em matérias-primas e na logística, e não apenas da evolução dos salários.
Luís Moutinho, por seu lado, sublinha que a inflação recente mostrou que o retalho “amorteceu a inflação” em Portugal, referindo que as margens foram baixadas para absorver parte do choque que vinha “a montante”.
É neste equilíbrio difícil, entre custos que sobem e consumidores mais sensíveis ao preço, que o líder da Sonae MC, detentora do Continente, enquadra a decisão: poderá haver inflação “mais baixa do que no passado recente”, mas enquanto houver inflação, diz, os preços tendem a acompanhar.
Margens curtas, concorrência dura e mais marcas próprias
A APED tem repetido que a distribuição trabalha com margens muito limitadas (na ordem dos 2% a 3%, por vezes menos), o que reduz a folga para absorver novos aumentos sem os refletir parcialmente no consumidor.
Segundo a mesma fonte, a Sonae MC também aponta para um mercado “muito maduro” e competitivo, onde a disputa por quota e clientes é intensa. Num exemplo apresentado pela empresa, uma análise interna a um cabaz (preços de prateleira, sem descontos de cartão) indica que, em Portugal, a diferença média entre o preço mais baixo e o mais elevado é de 8 pontos percentuais, abaixo de França (14) e do Reino Unido (27).
Para competir com cadeias de desconto e com a pressão de novos operadores, a aposta em marcas próprias é assumida: Luís Moutinho defende que, além do preço, é preciso qualidade. A própria Sonae MC indica que a marca própria já representa cerca de 35% das vendas do Continente em valor, embora o peso das marcas próprias no mercado total seja superior.
Investimento, expansão e o que isto pode significar para as famílias
Ao mesmo tempo que admite subidas de preços no Continente, a Sonae MC mantém um plano ambicioso para Portugal: investimento de mil milhões de euros até 2030, abertura de 100 novas lojas (média de 20 por ano), 150 remodelações e mais de 3.000 contratações.
O crescimento deverá concentrar-se sobretudo em formatos de proximidade, com a empresa a reconhecer que os hipermercados estão sob pressão e que há oportunidades no interior e também na Grande Lisboa.
Para quem enche o carrinho, o essencial é perceber que o risco não é um aumento “igual para tudo”: a própria APED fala em subidas por categorias, com maior pressão em carne e peixe e em produtos sujeitos a choques de oferta (como matérias-primas agrícolas e algumas importadas).
De acordo com o The Portugal News, a mensagem que chega do setor é de realismo: a estratégia declarada continua a ser “o melhor preço possível”, mas 2026 pode trazer um cabaz mais caro em várias categorias, dependendo de custos, inflação e da capacidade das cadeias em absorver parte da pressão sem a passar integralmente para o consumidor.
Leia também: Todos estes condutores vão ficar sem carta de condução já em janeiro: veja se está na lista
















