Quando o mundo católico se junta em frente à Praça de São Pedro à espera de um novo Papa, o olhar não se dirige ao altar nem a um púlpito. Tudo gira em torno de uma chaminé instalada no topo da Capela Sistina, por onde sai o famoso fumo branco ou negro que sinaliza o resultado de cada votação do Conclave.
Se o fumo que sobe ao céu romano for negro, a mensagem é clara: ainda não há Papa. Se for branco, os sinos da basílica ecoam, ouve-se um “Habemus Papam” e um novo líder da Igreja Católica aparece para saudar os fiéis. Mas o que está por detrás deste ritual não é apenas tradição, é também uma operação química precisa.
Fumo com assinatura científica
De acordo com a BBC, a cor do fumo é controlada por uma mistura de compostos cuidadosamente preparada por engenheiros e funcionários do Vaticano, que tratam de instalar um fogão especial no interior da Capela Sistina antes de cada Conclave.
Para produzir o fumo negro, são queimadas substâncias como perclorato de potássio, antraceno e enxofre. Esta combinação gera uma fumaça densa e escura, facilmente visível a partir da praça e que não deixa margem para dúvidas.
O que faz o fumo ser branco?
Segundo o químico Mark Loch, da Universidade de Hull, a mistura que dá origem ao fumo branco inclui clorato de potássio, lactose e resina de pinheiro. Esta fórmula arde de forma limpa, produzindo uma nuvem clara que indica que um Papa foi eleito.
Conforme o mesmo especialista, em tempos mais antigos utilizava-se palha húmida para gerar o fumo negro e palha seca para obter o branco, mas isso causava confusão. Por vezes, o fumo surgia cinzento e a comunicação simbólica saía comprometida.
Símbolos com raízes antigas
A utilização do fumo como meio de sinalização espiritual não é nova. Conforme explicou à BBC a teóloga Candida Moss, da Universidade de Birmingham, este gesto remonta à antiguidade, quando o fumo era usado como elo entre o mundo terreno e o divino, em rituais de sacrifício ou oferendas.
A escolha deste símbolo pela Igreja Católica encaixa-se, por isso, numa lógica que mistura fé, tradição e uma estética carregada de simbolismo religioso.
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Uma logística silenciosa e rigorosa
Durante o Conclave, todos os detalhes são coordenados com discrição e rigor. O fogão onde são queimados os boletins de voto é ligado a um tubo metálico que conduz o fumo até à chaminé visível no exterior.
O processo foi modernizado ao longo do tempo para garantir que a cor do fumo seja perceptível mesmo à distância e em condições meteorológicas adversas.
Refere a mesma fonte que, atualmente, dois dispositivos distintos estão envolvidos: um para queimar os votos e outro para gerar a cor do fumo, o que permite maior precisão na emissão da mensagem.
Comunicação sem palavras
Escreve a BBC que esta forma de anunciar decisões tão importantes sem recurso a linguagem verbal reforça o carácter cerimonial do momento. A eleição do Papa é, antes de tudo, um acto espiritual e comunitário. O fumo, nesse sentido, funciona como uma linguagem silenciosa mas universal.
Segundo a mesma publicação, as autoridades italianas tomam também medidas adicionais durante este período, como o bloqueio de telecomunicações, para evitar qualquer fuga de informação antes do anúncio oficial.
O ritual após o fumo branco
Depois da eleição, o novo Papa escolhe o nome com que será conhecido, é vestido com os paramentos brancos e conduzido à varanda principal da Basílica de São Pedro, onde será apresentado ao mundo. O Conclave termina oficialmente com este anúncio e os cardeais regressam à Casa de Santa Marta.
Conforme a mesma fonte, a primeira missa do novo Pontífice, conhecida como Missa de Início de Pontificado, só acontece dias depois, num novo momento solene que marca o início oficial do seu papado.
Mais do que um ritual
A escolha de um novo Papa representa uma transição espiritual e institucional para a Igreja Católica. Mas é também um evento que, pelo seu impacto global, se transforma num dos maiores exemplos de como tradição e ciência podem coexistir na mesma cerimónia.
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