Depois de quatro décadas ao volante, Jean Marc, motorista francês, partilhou quanto recebe agora de pensão e o que aprendeu ao longo de uma vida de trabalho. O seu testemunho, publicado no portal francês Herloop, mostra como cada hora extra e cada quilómetro percorrido pesam na reforma final.
Trabalhar no setor dos transportes é uma das profissões mais exigentes. Horas intermináveis na estrada, noites longe de casa e salários muitas vezes abaixo das expectativas tornam o quotidiano dos camionistas um verdadeiro desafio. Em França, tal como em Portugal, muitos profissionais lutam por melhores condições e por uma pensão que reflicta o esforço de uma vida.
Jean Marc, com 40 anos de carreira como motorista de camiões, reformou-se recentemente com uma pensão de 1.200 euros mensais, segundo o portal espanhol Noticias Trabajo. Considera o valor “modesto, mas digno”, suficiente para viver de forma tranquila e sem dívidas. Ao longo dos anos, conseguiu equilibrar períodos de maior rendimento com fases menos favoráveis, o que influenciou diretamente o montante final.
Anos de estrada e sacrifício
Durante mais de quatro décadas, percorreu as estradas francesas e europeias, transportando mercadorias por longas distâncias. “Cada viagem, cada quilómetro, contou para determinar o valor da minha pensão”, explicou. Recorda que nos 25 anos mais intensos da carreira chegou a ganhar mais, com muitas horas extra pagas, algo que fez diferença na base de cálculo da reforma.
Jean Marc beneficiou também do regime complementar francês Agirc-Arrco, que acumula pontos ao longo da vida profissional. A soma desses pontos, juntamente com o sistema geral da Segurança Social francesa, resultou na pensão que hoje recebe. Segundo o próprio motorista, a acumulação de prémios e de horas suplementares foi decisiva para aumentar o valor final de pensão.
Reforma antecipada através do CFA
Uma das vantagens de trabalhar no transporte rodoviário em França é o acesso ao programa CFA (Cessation de Fin d’Activité), um subsídio que permite aos motoristas antecipar a reforma. Jean Marc aproveitou esse regime e deixou o volante aos 57 anos, dois anos antes da idade legal de reforma.
Durante esse período de transição, recebeu 70% do seu salário bruto, o que lhe deu tempo para preparar o novo capítulo da vida. “Foi um alívio enorme. Depois de tantos anos na estrada, precisava de descanso”, afirmou. Para ser aceite no programa, teve de provar mais de 26 anos de contribuições no setor.
A importância de planear cedo
Ao longo da entrevista, o motorista insiste na importância de começar a poupar cedo, este é o principal conselho. “Um colega disse-me que o ideal era começar aos 40, e segui o conselho”, contou. Esse fundo pessoal, criado a meio da carreira, é hoje o complemento que lhe permite manter estabilidade financeira.
Jean Marc também alerta para a necessidade de verificar regularmente o registo de contribuições. “Descobri erros nos meus trimestres declarados e corrigi-os. Se não o tivesse feito, teria perdido direitos”, afirmou, citado pelo Noticias Trabajo. Este cuidado, segundo ele, é essencial para qualquer trabalhador que queira garantir o valor justo da sua pensão.
Consultar um especialista pode fazer a diferença
Além de poupar, o camionista procurou apoio de um gestor financeiro que o ajudou a otimizar a situação fiscal. “Com os conselhos certos, consegui investir com segurança e gerar rendimentos extra”, explicou. Hoje, esses rendimentos dão-lhe tranquilidade e asseguram que não depende exclusivamente da pensão estatal.
Jean Marc reconhece, no entanto, que o seu caso é uma exceção. Muitos colegas enfrentam pensões ainda mais baixas, fruto de carreiras interrompidas, contratos precários e longos períodos sem contribuições regulares. “Não é uma fortuna, mas posso viver com calma e orgulho no que fiz”, afirma.
Um setor em transformação
O veterano alerta para as mudanças que se avizinham. A digitalização e os veículos automatizados vão alterar profundamente o trabalho dos motoristas. “As competências vão mudar e isso vai ter impacto nas futuras pensões”, avisa. Para ele, é urgente adaptar o sistema às novas realidades tecnológicas.
Os sindicatos franceses do setor do transporte estão, por isso, a pressionar o governo para atualizar as regras de cálculo e assegurar que os motoristas continuam protegidos. A transição digital é inevitável, mas os direitos laborais, defende Jean Marc, não podem ser deixados para trás.
Lições de uma vida na estrada
O seu testemunho é um lembrete da importância do planeamento e da valorização de cada ano de trabalho, de acordo com o Noticias Trabajo. “A estrada ensinou-me paciência e responsabilidade”, diz. Agora, reformado, dedica-se à família e às viagens de lazer, desta vez, sem horários nem destinos impostos.
A história de Jean Marc reflete o que vivem milhares de motoristas em toda a Europa, incluindo Portugal, onde as condições e o esforço são semelhantes. O caso mostra também como a preparação financeira e o acompanhamento profissional podem mudar o rumo de uma aposentação.
E em Portugal?
Tal como em França, os motoristas portugueses enfrentam carreiras longas e exigentes, com impacto direto na reforma. O sistema nacional de pensões segue o princípio contributivo, e as horas extra só contam se forem declaradas e tributadas. Entendidos em finanças pessoais aconselham a rever o registo de descontos e, sempre que possível, reforçar a poupança individual. Cada quilómetro, também por cá, pode fazer toda a diferença no valor da pensão final.
Leia também: GNR fecha restaurante no sul do país: saiba o que viram nestas 16 embalagens de congelados
















