As eleições do passado Domingo culminaram num resultado principal, o crescimento da direita radical. Este que inicialmente parecia ser um fenómeno importado de outros contextos europeus tornou-se uma realidade política sólida, dentro das nossas próprias fronteiras. Ignorar este crescimento foi um erro grave e compreender as suas causas e refletir sobre como travá-lo é agora crucial.
A ascensão do partido CHEGA não ocorreu por meio de um espaço vazio. O partido, à semelhança de todos os partidos populistas, alimenta-se das frustrações acumuladas do nosso dia-a-dia e de uma clara falta de aproximação dos dirigentes políticos para com a juventude. A juventude, em particular, tem-se mostrado vulnerável. Muitos jovens portugueses não têm capacidade de sonhar com um futuro, muitos enfrentam dificuldades no acesso à habitação e sentem que as suas vozes não são ouvidas nem representadas. Quando o futuro se apresenta como uma sucessão de portas fechadas, surgem partidos que prometem “limpar o sistema” e trazer a “prosperidade”ainda que nos apresentem programas míseros, populistas e até perigosos.
É impossível dissociar este crescimento dos erros cometidos pelos dois principais partidos, houve uma gigante falta de autorreflexão, falta de uma renovação interna e de uma comunicação política muitas vezes distante da realidade vivida pelos portugueses. Em vez de assumirem responsabilidades e reconstruirem pontes com o eleitorado, estes partidos alimentaram o ceticismo presente na política portuguesa. Acontece que este desacreditar sempre deu uma grande margem de crescimento ao extremismo.
A influência das redes sociais é outro fator incontornável. Vivemos num tempo em que a informação circula em segundos, mas raramente é verificada. A desinformação tornou-se uma arma poderosa nas mãos de movimentos radicais, que exploram medos, manipulam emoções e oferecem respostas imediatas a problemas complexos. Ao contrário dos partidos tradicionais, estas forças comunicam de forma direta, agressiva e altamente eficaz, não só entre os mais jovens mas também entre adultos com níveis de literacia reduzida.
Combater este crescimento exige muito mais do que condenações públicas é necessário um esforço conjunto que envolva educação cívica, literacia política, inserir os jovens no mundo da política e, sobretudo, estar nas ruas e ouvir a população. Nós, os jovens, não precisamos de discursos paternalistas, precisamos de medidas concretas, oportunidades reais e uma razão para acreditar no nosso sistema, até então democrático.
A resposta ao radicalismo não pode ser com silêncio, mas também não pode ser dada com a ostracização do eleitorado do partido. Precisamos de criar uma democracia mais presente, mais moderada, mais justa e mais exigente consigo própria. Só assim poderemos travar o avanço de projetos políticos que carregam em si uma ameaça à liberdade, à tolerância e ao Estado de Direito.
É preciso uma união e uma mudança no pensamento político. É preciso mostrar aos nossos dirigentes políticos que o contacto com a população não se faz só durante eleições. É preciso modernizar a comunicação e a educação de modo a que os jovens se interessem pela política. Por fim precisamos também de levar às escolas, não os partidos, mas sim projetos de democracia participativa para trazer de volta um pensamento crítico que há muito fora esquecido.
Sobre o autor do artigo: Martim Gonçalves é estudante da Escola Secundária de Loulé, com interesse nas áreas da juventude, participação cívica e política portuguesa. Já participou em iniciativas como o Parlamento dos Jovens e os Conselheiros da Cidadania.
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