Algo curioso está a acontecer na Alemanha: cada vez mais pessoas estão a deixar de usar o cartão e a voltar a efetuar pagamentos com dinheiro vivo. E a razão tem menos a ver com nostalgia e mais com uma questão de privacidade e controlo financeiro.
De acordo com o Talent24h, site especializado em economia e trabalho, os consumidores alemães estão a preferir o numerário para proteger a sua vida financeira do rastreamento digital e das comissões associadas aos pagamentos eletrónicos.
A tendência contrasta com o que se passa em Portugal, onde o uso do cartão e do MBWay já é quase uma norma, até para pequenas compras do dia a dia.
O valor da privacidade no dinheiro físico
Segundo a mesma fonte, muitos alemães veem no dinheiro uma forma de preservar a sua independência face aos bancos e às grandes tecnológicas. A lógica é simples: quanto menos dados sobre os seus hábitos de consumo forem partilhados, maior a liberdade financeira.
Uma espanhola residente em Berlim contou ao site que, por lá, “não se trata de fugir aos impostos, mas de limitar a quantidade de informação financeira que fica acessível”. E é por isso que, mesmo em cafés e supermercados, ainda se veem clientes a pagar com notas e moedas, algo cada vez mais raro em Portugal.
Os números que mostram a diferença
De acordo com dados citados pelo Talent24h, em 2019, 74% dos pagamentos na Alemanha eram feitos em dinheiro, e apenas 19% com cartão. Em países do sul da Europa, como Espanha e Portugal, a proporção é quase inversa.
Com a pandemia, o uso de cartões cresceu, mas sem eliminar o dinheiro físico. Em 2020, 58% dos alemães afirmaram ter pago com cartão pelo menos uma vez por semana: um aumento, sim, mas ainda longe da digitalização total que se observa no sul da Europa.
O que os portugueses podem aprender com os alemães
Segundo a publicação, o exemplo alemão não é um retrocesso, mas um sinal de equilíbrio. Usar apenas meios digitais facilita a vida, mas deixa rasto em todas as transações. Já o dinheiro vivo ajuda a planear melhor as despesas e reduz a exposição a comissões ou falhas tecnológicas.
Os especialistas recomendam manter uma rotina mista: usar cartão em compras maiores ou online e recorrer ao numerário no comércio local. Além de ser mais rápido, permite ajudar pequenos negócios e evita custos adicionais que, muitas vezes, acabam refletidos nos preços.
Mais controlo, menos dependência
A mensagem é clara: não se trata de rejeitar a tecnologia, mas de a usar com consciência. Em tempos em que tudo é rastreável, o dinheiro vivo continua a ter um papel importante, não apenas prático, mas também simbólico, como expressão de liberdade e privacidade.
Enquanto Portugal se habitua cada vez mais ao toque no terminal de pagamento, a Alemanha parece lembrar ao resto da Europa que o som das moedas ainda tem valor: talvez mais do que muitos imaginam.
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