Ter o telemóvel à escuta já não é apenas um mito urbano tecnológico e tornou-se uma realidade. Começamos por estranhar as coincidências de discutir um tema específico e pouco comum com um amigo e, logo a seguir, receber anúncios ou artigos online relacionados com esse tema. Agora, temos a confirmação de vários especialistas em segurança tecnológica de que essas situações não são simples coincidências. As grandes empresas de tecnologia estão realmente a escutar as nossas conversas. Aprenda agora mais neste artigo com a ajuda do Ekonomista.
Apesar de serviços e aplicações como o Facebook ou a Google afirmarem que não usam o som ambiente de nenhum dispositivo para personalizar anúncios, a verdade é que podem fazê-lo, especialmente se lhes tivermos dado autorização.
Isso pode acontecer, por exemplo, através de assistentes virtuais como a Siri da Apple ou a Alexa da Google, que utilizam o microfone dos nossos telemóveis para ouvir o que dizemos. Também ocorre com os sistemas que permitem interagir com o telemóvel por voz para fazer pesquisas, acionar comandos especiais ou ditar mensagens.
O seu telemóvel pode estar a escutar as suas conversas de forma legal se tiver autorizado as aplicações que o fazem. Por exemplo, ao utilizar assistentes virtuais como a Alexa ou a Siri, ou mesmo ao usar motores de busca com reconhecimento de voz.
Ao dizer “Ok Google” num Android ou “Hey Siri” num iPhone, está a iniciar esta escuta ativa que permite ao dispositivo responder aos seus pedidos.
Algumas das empresas que gerem esses assistentes afirmam selecionar aleatoriamente pequenas partes das conversas dos utilizadores para melhorar a qualidade do seu serviço de inteligência artificial, não com o intuito de direcionar publicidade.
No entanto, durante esse processo, podem gravar dados privados, e já houve escândalos suficientes com a venda desses dados a empresas terceiras para nos deixarem apreensivos.
Existe também a possibilidade de o seu telemóvel estar a escutar ilegalmente através de aplicações que não têm relação com esses assistentes virtuais.
Podem ser aplicações que não o informaram de que estão a fazê-lo, ou mesmo casos de vírus ou ransomware que se instalaram no seu dispositivo e estão a controlar o acesso ao seu microfone sem o seu conhecimento.
Nesse caso, é impossível saber o que pode desencadear a escuta ativa ou para que fins as suas conversas estão a ser utilizadas.
Mas como saber se o telemóvel está à escuta?
Se não utiliza assistentes virtuais e raramente controla as suas pesquisas ou dispositivos por comando de voz, é pouco provável que tenha ativado conscientemente a escuta no seu telemóvel. No entanto, pode ter feito isso inadvertidamente ao instalar um jogo ou uma aplicação.
A falta frequente de transparência de algumas aplicações, que apresentam termos e condições de funcionamento complexos, torna-se um verdadeiro obstáculo para que os utilizadores compreendam quais recursos do dispositivo a aplicação passará a aceder após a instalação.
Assim, se tiver dúvidas sobre se o seu telemóvel está a escutar ou não, sugerimos o seguinte teste: escolha um tema sobre o qual nunca pesquisou online, algo totalmente diferente dos seus interesses habituais na internet. Em seguida, procure palavras-chave dentro desse tema.
Recomendamos que não faça essas pesquisas online e que recorra, em vez disso, a métodos mais tradicionais, como um dicionário em papel ou até mesmo uma revista. Por exemplo, escolha um destino de férias ao qual nunca teve interesse e sobre o qual nunca pesquisou online.
Depois, basta pronunciar em voz alta essas palavras quando estiver próximo do seu telemóvel. Repita-as várias vezes e aguarde para ver se, no dia seguinte, surge alguma publicidade ou artigo relacionado com o tema. Se isso acontecer, é provável que o seu telemóvel esteja efetivamente a escutar.
Há forma de evitar ser escutado?
A primeira medida a tomar é lidar com a escuta legal, para o qual terá de rever as configurações do seu dispositivo e das aplicações que utiliza com mais frequência. Procure identificar quais têm acesso ao microfone.
Sempre que possível, restrinja ao máximo as permissões solicitadas pelas aplicações, avaliando se é lógico conceder tais autorizações. Por exemplo, não faz sentido um editor de imagem solicitar permissão para utilizar o seu microfone; por isso, desconfie dessa aplicação e procure outra que ofereça um serviço semelhante sem exigir acesso ao microfone.
Para utilizadores de sistemas de reconhecimento de voz ou assistentes virtuais, questione-se se realmente vale a pena tê-los ativos 24 horas por dia. Se não, bloqueie o acesso ao microfone quando não estiver a utilizá-los ou opte por permitir o acesso apenas quando a aplicação estiver aberta ou em funcionamento.
No que diz respeito às escutas ilegais, ao manter os cuidados habituais de segurança contra vírus, é possível preveni-las. Por exemplo, evite instalar aplicações suspeitas, não clique em anúncios estranhos e monitore o desempenho do seu dispositivo para verificar se há um aumento no consumo de dados ou bateria, sinais de possível atividade de vírus em segundo plano. Instale sempre um bom antivírus, pois isso ajudará a proteger o seu telemóvel contra escutas não autorizadas.
Lembre-se também de um procedimento infalível: manter o telemóvel em outra divisão da casa se desejar privacidade nas suas conversas mais pessoais.
Outra opção é adotar o método recomendado por Edward Snowden aos advogados que o aconselharam quando estava escondido: colocar o telemóvel no frigorífico, bloqueando qualquer acesso a dados sonoros ou emissão desses dados a partir dos dispositivos armazenados a baixas temperaturas.
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