Na pressa do dia a dia, é comum que muitos ignorem a bula dos medicamentos ou as recomendações médicas sobre como devem ser administrados. No entanto, segundo especialistas, certos alimentos e bebidas podem interferir diretamente na eficácia de diversos fármacos, sendo necessário um cuidado redobrado para que se evitem consequências indesejadas para a saúde.
Em entrevista à Executive Digest, o médico de Medicina Geral e Familiar Pedro Barreira, um dos “Twin Docs” – irmãos gémeos conhecidos por desmistificarem temas de saúde nas redes sociais –, partilhou alguns dos principais erros e mitos populares sobre o que se pode ou não consumir ao tomar medicamentos. Barreira explicou: “É sempre importante atender à pergunta ‘Devo tomar este medicamento em jejum? Com alimentos? Depois das refeições?’. Reparemos que há diferenças: jejum (sem nada no estômago), com alimentos (durante a refeição) e no pós-refeição. São três momentos diferentes”.
Para alguns medicamentos, a absorção é afetada pela presença de certos alimentos, enquanto em outros casos, a interação pode resultar em efeitos colaterais mais intensos. Vejamos alguns exemplos importantes.
Evitar o leite ao tomar antibióticos
Um dos casos mais conhecidos envolve antibióticos e produtos lácteos. Barreira explica que “há uma relação estabelecida entre antibióticos e lacticínios, porque pode haver uma diminuição de eficácia, e levanta também questões de saúde intestinal”. Os antibióticos, especialmente os da classe das tetraciclinas, como a doxiciclina, frequentemente prescritos para infeções cutâneas e outras, podem formar compostos insolúveis quando combinados com cálcio, o que impede a sua correta absorção.
A recomendação é simples: evitar leite, queijo, iogurte e outros produtos lácteos durante o tratamento com antibióticos. Em alternativa, o médico recomenda probióticos, que podem ajudar a restaurar a flora intestinal comprometida, mas sempre sem comprometer a eficácia do medicamento.
Ibuprofeno e carne grelhada: o risco de irritação gástrica
Embora não seja amplamente divulgado, consumir carne grelhada enquanto se toma ibuprofeno pode agravar a irritação gástrica. “O ibuprofeno é uma classe dos anti-inflamatórios não esteroides, e se consumidos em excesso, pode dar-se o que chamamos de hemorragias digestivas, o sangramento gástrico”, explica Pedro Barreira. Adicionalmente, carnes grelhadas, sobretudo bem passadas, podem estar associadas ao aumento do risco de cancro colorretal.
Paracetamol e álcool: Uma combinação perigosa
É bem sabido que o álcool aumenta os riscos de efeitos colaterais ao ser combinado com o paracetamol, pois sobrecarrega o fígado, o órgão responsável pela metabolização de ambos. “Consumir álcool enquanto estamos a fazer o paracetamol, leva a uma sobrecarga do fígado, que pode ser fatal e levar a uma falência orgânica”, alerta o médico. Efeitos adicionais incluem tonturas, sonolência e dificuldades de concentração. Em casos graves, o resultado pode ser uma hepatite fulminante.
Evitar sumo de toranja com estatinas
As estatinas, usadas para reduzir o colesterol e prevenir doenças cardiovasculares, também requerem cuidados alimentares específicos. Ao serem consumidas com sumo de toranja, as estatinas podem acumular-se no organismo, aumentando o risco de efeitos secundários como dores musculares intensas. Barreira esclarece que este citrino interfere com o fígado, órgão onde as estatinas são metabolizadas, aumentando a concentração do medicamento no organismo e, assim, o risco de toxicidade.
Varfarina e alimentos ricos em vitamina K
Para pacientes que fazem uso de anticoagulantes, como a varfarina, a ingestão de alimentos ricos em vitamina K deve ser monitorizada. Alimentos como brócolos, espinafres e outros vegetais verde-escuros podem comprometer a eficácia da varfarina ao reduzir a sua atividade no organismo. Segundo o especialista, “não significa que se devam evitar de todo, não se podem é comer sempre”. Chás de camomila e ginkgo biloba podem potencializar os efeitos do medicamento, aumentando os riscos de hemorragia.
Antidepressivos e álcool: Efeitos potenciados
Outro cuidado essencial está associado ao consumo de álcool por pacientes a tomar antidepressivos, nomeadamente inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS). “Teoricamente não [é permitido], porque pode aumentar os efeitos sedativos da medicação, levar a aumento da probabilidade de ter insuficiência respiratória”, explica Barreira. Embora um copo ocasional não comprometa gravemente o tratamento, quantidades mais elevadas podem interferir diretamente com a eficácia do antidepressivo, levando alguns pacientes a questionarem se a medicação realmente está a surtir efeito.
Casos isolados e acidentais podem ser preocupantes?
Segundo o médico Pedro Barreira, “tem de haver uma cronicidade, um período longitudinal, para se verificarem efeitos graves. O mais grave seria uma hepatotoxicidade causada pelo paracetamol”. Normalmente, as reações não exigem uma ida urgente ao hospital, mas uma ingestão acidental de grandes quantidades pode, em casos raros, ser motivo de preocupação.
A importância de ouvir o médico
Este tema deixa clara a importância de se ouvir o médico e seguir as instruções de prescrição de medicamentos, que muitas vezes incluem recomendações alimentares. Pedro Barreira sublinha que “os polimedicados, normalmente pessoas de uma população mais idosa, os hipertensos e diabéticos” estão entre os grupos mais vulneráveis a estas interações, sendo essencial um acompanhamento médico rigoroso.
Assim, ao tomar medicamentos, lembre-se: um simples copo de sumo ou um alimento aparentemente inofensivo pode ter um efeito significativo na eficácia do tratamento.
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