Ao contrário do que aconteceu recentemente na Península Ibérica, onde apagões de grandes proporções deixaram milhões de pessoas sem eletricidade, há regiões em Portugal melhor preparadas para enfrentar este tipo de situações.
Um sistema elétrico independente e seguro
De acordo com a Executive Digest, a abordagem nesta região assenta numa produção descentralizada e independente em cada uma das suas zonas, garantindo uma margem de segurança robusta, em caso de apagões. Segundo Félix Rodrigues, administrador da EDA Renováveis, o controlo rigoroso sobre as fontes intermitentes é essencial para evitar flutuações bruscas na rede elétrica, algo que é mais difícil de controlar em cenários continentais onde a dependência de solar e eólica é bastante superior.
Produção elétrica controlada e estável
Nos Açores, as centrais termoelétricas e geotérmicas são responsáveis por 85% da eletricidade produzida, enquanto a energia eólica e solar representam apenas 9%. Esta distribuição garante uma produção constante e estável, reduzindo significativamente o risco de falhas em grande escala.
Para além disso, cada ilha gere a sua própria produção, isolada da rede continental, o que contribui para a resiliência do sistema.
Na ilha Terceira, tal como refere a mesma fonte, a gestão do parque eólico é feita de forma criteriosa, chegando a ser desligado durante a noite para evitar desequilíbrios na rede. Já em ilhas mais pequenas, como o Corvo, a introdução de energia solar em excesso, mesmo através de autoconsumo, pode colocar em risco o equilíbrio do sistema, sendo necessário um controlo rigoroso para evitar colapsos.
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A importância das turbinas pesadas
Um dos segredos da estabilidade elétrica nos Açores reside na inércia proporcionada por turbinas mecânicas pesadas instaladas em centrais térmicas, hídricas e geotérmicas.
Estas turbinas são capazes de responder automaticamente a flutuações de produção e consumo, assegurando uma operação contínua e segura, mesmo em situações de instabilidade momentânea.
Félix Rodrigues explica que o limite técnico para a produção de eletricidade a partir de fontes intermitentes nas ilhas é de cerca de 30%, um valor bastante inferior aos 80% registados na Península Ibérica durante o apagão. Este modelo controlado evita os picos de instabilidade que podem levar a falhas massivas na rede elétrica.
Futuro sustentável e controlado
Embora a segurança energética seja uma prioridade, os Açores não pretendem abdicar da transição para energias mais limpas. No entanto, a estratégia passa por uma substituição gradual dos combustíveis fósseis por alternativas sustentáveis nas centrais termoelétricas, mantendo sempre um controlo apertado sobre a produção intermitente.
A visão para o futuro, segundo a Executive Digest, inclui a possibilidade de utilizar o excesso de energia renovável para produzir hidrogénio ou combustíveis sintéticos, mas apenas quando a tecnologia estiver suficientemente madura e os custos forem comportáveis. Segundo Félix Rodrigues, embora a EDA Renováveis seja uma empresa pública, não pode operar com prejuízos, pelo que as decisões são tomadas de forma ponderada e sustentável.
Com este modelo descentralizado e altamente controlado, os Açores destacam-se pela capacidade de evitar apagões de grande escala, assegurando uma rede elétrica estável e segura, mesmo em cenários de instabilidade global. A prudência na gestão dos recursos energéticos garante não só a resiliência do sistema, mas também uma transição energética equilibrada e sustentável para o futuro.
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