No coração do Mediterrâneo, Malta continua a ser um destino de eleição para milhares de turistas. No entanto, a afluência recorde de visitantes está a criar problemas tão graves que muitos residentes evitam os transportes, fazem compras com semanas de antecedência e sentem-se como estranhos na sua própria terra.
De acordo com o jornal britânico Express, o arquipélago registou, em 2023, um novo máximo histórico: 3,56 milhões de turistas. Para um país com pouco mais de 500 mil habitantes, o impacto tem sido avassalador. Praias como Golden Bay ou Paradise Bay são praticamente inacessíveis aos locais durante o verão.
Transportes saturados e preços inflacionados
Em zonas como Sliema ou St. Julian’s, autocarros circulam sempre cheios, o que obriga muitos habitantes a desistir dos transportes públicos durante a época alta. Segundo Isheeta Borker, blogger de viagens, há quem “evite por completo os autocarros” e comece a fazer compras de supermercado com um mês de antecedência.
O impacto também se faz sentir na rede viária. Ruas estreitas e parqueamentos limitados tornam-se caóticos. As ligações de ferry para Gozo e Comino registam filas intermináveis, e os serviços de emergência enfrentam pressões adicionais.
Malteses sentem-se “estrangeiros em casa”
O CEO da Ferryhopper, Christos Spatharakis, admite que a população local vive com sentimentos ambivalentes. “A economia beneficia, mas os hábitos mudaram para evitar as multidões”, explica. O sistema de saúde também é afetado, com uma sobrecarga durante o verão.
Nalgumas localidades, como St. Paul’s Bay ou Cirkewwa, os autocarros já não conseguem transportar todos os passageiros. Andrew Cachia, autor do blogue “Get Lost On a Budget”, relata atrasos frequentes e a perda de espaços de lazer que antes eram dos malteses.
Ilha do descanso virou ponto de festa
Locais como Paceville, antes frequentados por residentes, tornaram-se centros de animação noturna apenas para turistas. Andrew Cachia lamenta a perda de identidade: “Hoje em dia, é praticamente impossível ir lá e desfrutar.”
Comportamentos excessivos partilhados nas redes sociais, sobretudo no TikTok, estão a gerar preocupação. O mesmo blogger pede responsabilidade: “Se é só para se embebedar, então escolham outro destino.”
Protestos ganham expressão
As manifestações contra o turismo em massa também têm marcado o verão de 2024. Em Palma e Magaluf, protestos populares exigem menos turismo, menos rendas altas e mais qualidade de vida. Em Malta, o descontentamento também cresce.
Nicholas Smith, da Thomas Cook, sublinha que este destino é procurada pela combinação entre praias e cultura. Mas alerta que há que agir: limitar arrendamentos de curta duração, educar os visitantes e reforçar o turismo sustentável.
Um equilíbrio cada vez mais frágil
Apesar das queixas, o turismo continua a ser vital para a economia maltesa. Ainda assim, e de acordo com o Express, especialistas defendem que só com regras claras e gestão cuidada será possível preservar o património natural e a qualidade de vida dos residentes.
A aposta em destinos alternativos e uma maior distribuição sazonal podem ajudar a aliviar a pressão. Mas, por agora, muitos habitantes vêm-se obrigados a mudar rotinas e a recuar perante a avalanche de visitantes.
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