“Construir o aeroporto na Margem Sul é a escolha mais saloia que pode passar pela cabeça de quem tenha uma noção do possível papel de Portugal na União Europeia”. É desta forma que João Cravinho, ex-ministro do Equipamento, Planeamento e Administração do Território, do Governo de António Guterres, resume o longo processo de construção do novo aeroporto. Numa entrevista ao Público (acesso pago), o ex-ministro socialista, tece críticas ao próprio partido, vincando que a Alcochete é uma cedência à “imposição dos grandes interesses financeiros” e vinca que em Portugal “não está controlada a venda de influências no plano político”.
O ex-ministro, que tem defendido a opção da Ota para a construção do novo aeroporto, argumenta que a hipótese não garante o “modelo territorial futuro” desejável para o país e Portugal, nem reforça a coesão. “Quando se fala em construir um novo aeroporto é preciso atender a que o investimento num aeroporto é o maior investimento público que se pode fazer com impacto no ordenamento do território. Escolher a localização é um compromisso entre mercados, acessibilidades e o modelo territorial que se quer para o futuro do país”, diz João Cravinho.
A solução de Alcochete, crítica, “é a maneira mais simples, mais rápida, mais poderosa, de fazer dinheiro em pouco tempo”. E explica: “é pegar em todos aqueles terrenos que estão na margem Sul à espera de haver uma condição externa que os valorize de um dia para o outro, com um grande fator multiplicador”.
Cravinho aponta ainda o dedo ao processo de privatização da ANA que, acusa, “correspondeu a uma venda ao desbarato de soberania aeroportuária”. A concessão foi feita em condições tais, vinca, “que há muita gente que acha que quem vai mandar, quem vai dizer aonde vai ser o novo aeroporto não é o Governo, é a ANA”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL