“Um combate impossível, é um incêndio muito perigoso”. É de forma lacónica e apreensiva que os bombeiros envolvidos no fogo de Murça, que começou domingo ao início da tarde na aldeia de Cortinhas, comentam o evoluir da situação. A caminho do local estão vários grupos de reforço e foi já criada uma zona de concentração e socorro para as populações deslocadas. Metade da área florestal do concelho já terá ardido.
O fogo começou às 16h35 de domingo e para o local foram enviados cinco meios aéreos, que permaneceram ativos nesta segunda-feira. A esta hora estão, nas várias frentes de incêndio, 258 bombeiros e 86 viaturas. Os meios aéreos retiram ao por-do-sol e o combate prossegue por via terrestre.
O combate às chamas está a ser feito com auxílio de uma máquina de rastos, dos Bombeiros de Macedo e para o local foram enviados reforços de Braga, estacionados na Base de Apoio Logístico de Famalicão.
A intenção é abrir uma “frente de contenção, com um largo asseiro que permita travar o evoluir das chamas,”, explica fonte do posto de comando, em Murça.
A caminho, segundo apurou o Expresso, estão também meios de Setúbal, Évora e Santarém.
CASAL MORREU CARBONIZADO
A meio da tarde um casal de idosos que procurava escapar às chamas despistou-se no veículo em que seguia e acabaram carbonizados.
“Saíram da aldeia de Penabeice, que estava a ser evacuada com os meios municipais e foram encontrados carbonizados, no carro que se terá despistado”, revelou Mário Artur Lopes, presidente da Câmara Municipal de Murça. As vítimas, um casal de 70 anos, foram localizadas pelos bombeiros.
“Uma área que não arde há anos, com meios dispersos e muito vento, que provoca várias projeções, que fazem alastrar a frente do incêndio”, explica o comandante José Costa, do Comando Nacional de Operações de Socorro. Para o local estão destacados, e “em trânsito, cinco grupos de reforço que vão ficar instalados em Vila Real e depois serão empregues nos vários incêndios” que ocorrem no Nordeste transmontando, adiantou o comandante.
Além de Penabeice, a situação é particularmente grave na aldeia de Jou e “já foram evacuados alguns residentes”, precisa José Costa. No local foi criada uma zona de socorro e acolhimento para as populações retiradas das aldeias.
Foi nesta aldeia que uma equipa de bombeiros foi cercada pelas chamas, mas a situação acabou por ser ultrapassada. É também nesta povoação que o autarca confirma danos em habitações. “Casas tocadas pelas chamas, janelas partidas, mas primeiras habitações ainda não temos qualquer registo de que tenham ardido”, adianta o autarca. Há, contudo, prejuízos na agricultura, barracões e alfaias agrícolas ardidas. E evacuações “a decorrer”, adianta o edil.
O fogo desenrola-se numa área de “vegetação densa, com muito palhuço, atiçado por vento oeste que provoca projeções e faz alastrar o incêndio”, revelam os bombeiros na frente de combate. “É muito difícil colocar os meios em posição de ataque, devido ao vento”, explicam vários operacionais. A agravar a situação está a dispersão de meios, “colocados de forma a proteger as casas”, comenta José Costa.
“Um cogumelo de fumo enorme, que já queimou mais de metade da área florestal do concelho”, assegura Mário Artur Lopes.
O autarca lembra “a situação de exceção, com elevadas temperaturas e um combate muito difícil” e pede “meios de socorro de exceção, dada a gravidade do fogo”.
“Vai ser uma noite difícil”, reconhece o presidente da Câmara Municipal de Murça.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL