Ainda está presente na memória a notícia de que o planeta Terra registou o dia mais curto desde que existe registo. Recorde-se que no dia 29 de junho, o planeta demorou menos 1,59 milissegundos a completar a rotação completa, não chegando a atingir as 24 horas (86.400 segundos). Recentemente, um artigo veio criar ainda maior incerteza sobre a rotação da Terra. Os cientistas reportam que os dias na Terra estão a ficar misteriosamente mais longos que o normal, desde 2020.
Matt King, professor de geodesia polar, e Christopher Watson, docente de geodesia espacial, recorreram a relógios atómicos e a ferramentas astronómicas com grande precisão para afirmarem que a Terra está a rodar a uma velocidade mais lenta, tornando os dias mais longos.
Porém, não traçam uma teoria sobre esta possibilidade, nem corroboram rigorosamente esta ideia recorrendo a uma metodologia propriamente dita.
Sem bases de dados ou a qualquer tipo de estudos, os dois autores defendem que o desequilíbrio da Terra, com oscilações de curtos e longos dias, acarreta impactos críticos, não apenas na cronometragem, mas também em instrumentos de navegação, como o GPS.
Enquanto os relógios indicam que um dia tem exatamente 24 horas, o tempo real que a Terra demora a completar uma única rotação varia ligeiramente. Estas mudanças ocorrem ao longo de períodos de milhões de anos.
Sabe-se que durante milhões de anos, a rotação da Terra tem abrandado devido aos efeitos das marés influenciadas pelo nosso satélite, a Lua. Em 2018, dois cientistas descobriram que há cerca de 1,4 mil milhões de anos, a Terra completou a sua rotação completa em 18 horas e 41 minutos, em vez das familiares 24 horas.
“O puxão gravitacional”
Com o passar dos anos, os dias começaram a tornar-se mais longos graças, sobretudo, à influência da Lua, “o puxão gravitacional” que distorce ligeiramente o planeta, produzindo um impacto nas marés oceânicas que abranda constantemente a rotação da Terra.
Os ciclos das marés quinzenais e mensais movem a massa em torno do planeta, causando alterações na duração do dia até um milissegundo em ambas as direções. É possível ver variações da duração da maré nos registos da duração do dia ao longo de períodos tão longos como 18,6 anos.
Tal como uma bailarina roda mais depressa à medida que traz os braços em direção ao corpo, o eixo em torno do qual gira também a velocidade de rotação do planeta aumenta quando esta massa de manto se aproxima do eixo da Terra. Este processo encurta cada dia em cerca de 0,6 milissegundos a cada século.
A ligação entre o interior e a superfície da Terra também entra nesta equação. Os grandes terramotos podem alterar a duração do dia. Acredita-se que o grande sismo de Tōhoku no Japão, em 2011, com uma magnitude de 8,9, acelerou a rotação da Terra em 1,8 microssegundos.
TERRA ESTÁ A ACELERAR
Foi comprovado de que, ao longo das últimas décadas, a rotação do planeta Terra em torno do seu eixo, que determina a duração de um dia, tem vindo a acelerar. Esta tendência provoca dias mais curtos, com um recorde estabelecido a 29 de junho.
O estudo divulgado na revista Proceeding of the Royal Society A, em 2016, indica que o abrandamento da Terra está a decorrer nos últimos 50 anos e o planeta está a rodar com menos de 6 horas nos últimos 2740 anos.
“Verifica-se que a taxa de rotação afasta-se da uniformidade, de tal forma que a mudança na duração do dia solar médio aumenta a uma taxa média de +1,8 milissegundos por século, isto é significativamente inferior à taxa prevista com base na influência da maré, que é de +2,3 milissegundos por século”, escreveram os investigadores.
A razão para o aumento da velocidade de rotação não é conhecida, mas os cientistas têm vindo a apresentar diversas teorias. Entre os fatores que podem estar na origem deste processo estão as camadas internas e externas do planeta, as marés dos oceanos ou até mesmo o clima.
A mudança na velocidade de rotação do planeta está relacionada com um fenómenos chamado “Chandler Wobble”, um pequeno desvio no eixo da rotação da Terra com um período de cerca de 430 dias.
Uma equipa de investigadores, liderada por Leonid Zotov, defende que o encurtar dos dias pode estar relacionado com um movimento irregular nos polos do planeta, fazendo com que o eixo de rotação se desloque.
SEGUNDO BISSEXTO NEGATIVO
Se os dias na Terra continuarem a alongar, talvez seja necessário incorporar um “segundo bissexto negativo”, algo sem precedentes que pode trazer consequências. Um equilíbrio da rotação da Terra é crucial para uma série de aplicações e os sistemas de navegação não funcionariam sem ele.
Porém, esta possibilidade é pouco provável, atualmente.
De poucos em poucos anos, são inseridos anos bissextos nas escalas de tempo oficiais para assegurar de que não há um desvio de sincronização.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL