A época balnear deste ano terminou com polémica em Ponta Delgada. Um grupo de nadadores-salvadores, maioritariamente estrangeiros, denunciou à imprensa alegadas falhas contratuais, atrasos salariais e episódios de desrespeito durante o serviço prestado à Câmara Municipal. As acusações recaem sobre a Associação Centelha D’Aventura, entidade responsável pela vigilância das zonas balneares do concelho.
De acordo com o jornal Açoriano Oriental, os profissionais apresentaram um dossiê detalhado sobre o período de trabalho entre junho e setembro, onde relatam situações de precariedade e ausência de supervisão adequada. O grupo alega que as condições prometidas à partida, como salário fixo, alojamento garantido e transporte diário, não foram cumpridas.
Jornadas longas e falhas logísticas
Entre as queixas constam relatos de deslocações a pé de vários quilómetros até praias, como a do Pópulo e das Milícias, depois de as bicicletas prometidas pela coordenação terem sido entregues com problemas mecânicos. Segundo a mesma fonte, os trabalhadores cumpriam turnos de quase 10 horas sem pausas formais, expostos ao sol e sem material de proteção fornecido pela entidade empregadora.
Os nadadores-salvadores descrevem ainda comunicações desorganizadas e falta de acompanhamento. A coordenação, composta por quatro responsáveis da Centelha D’Aventura, comunicava quase exclusivamente através de mensagens. “Muitas vezes ficávamos sozinhos no posto, sem resposta nem apoio”, lê-se no jornal.
Relatos de insultos e tensão no trabalho
Um dos nadadores, natural do Uruguai, aceitou prestar declarações à publicação açoriana. O trabalhador relatou um ambiente marcado pela hostilidade. “Chamavam-nos de burros e diziam que nos nossos países só sabíamos pedir direitos”, contou.
Segundo o mesmo testemunho, a maioria dos profissionais estrangeiros encontra-se em posição vulnerável, dependendo das associações privadas que asseguram contratos públicos. “Há falta de nadadores-salvadores em Portugal e isso abre espaço a abusos”, explicou o trabalhador ao jornal.
Falta de pagamentos e fim antecipado da época
A situação agravou-se em agosto, quando, de acordo com o Açoriano Oriental, os salários deixaram de ser pagos. Vários elementos ficaram sem meios de subsistência e sem alojamento. “Foi uma semana terrível, não sabíamos onde dormir”, afirmou o nadador-salvador uruguaio.
No início de setembro, os trabalhadores foram informados de que a época terminaria a meio do mês, quinze dias antes do previsto. Alguns já tinham alterado as viagens de regresso aos seus países e ficaram subitamente sem rendimentos.
Câmara de Ponta Delgada intervém
Conforme a mesma fonte, os nadadores-salvadores procuraram ajuda junto da Câmara Municipal. O vice-presidente, Pedro Furtado, reuniu-se com o grupo e garantiu apoio imediato em alojamento e alimentação. O encontro, que durou mais de uma hora, terminou com o compromisso de alterar o modelo de contratação para as próximas épocas balneares.
Escreve o jornal que o município confirmou a intenção de deixar de recorrer à Centelha D’Aventura e de encaminhar o caso para tribunal, alegando incumprimento contratual. A autarquia estuda agora a hipótese de contratar diretamente os nadadores-salvadores, evitando intermediários.
Casos ainda por resolver
O dossiê entregue à Câmara inclui também um registo de acidentes, entre eles a queda de um trabalhador devido a falhas numa bicicleta fornecida pela empresa. No final da época, os nadadores solicitaram apenas o pagamento das quantias em atraso e o reconhecimento dos seus direitos. “Viemos para salvar vidas, não para ser desrespeitados”, resumiu um dos profissionais ao jornal.
Até ao momento, a Centelha D’Aventura não liquidou integralmente os salários devidos, segundo a publicação.
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