No interior de Portugal, a cerca de 250 quilómetros de Lisboa e a 170 do Porto, encontra-se uma aldeia com casas em xisto e envolta por montanhas. Esta pequena localidade guarda uma ligação especial à Segunda Guerra Mundial, que se repete todos os anos, a 7 de maio e esse é o único dia do ano em que toca o sino que se encontra numa torre que se ergue na aldeia.
O fim da guerra chega por telefone
A tradição teve início em 1945, no dia em que a Alemanha nazi assinou a rendição perante os Aliados. Em Berlim, a guerra mais devastadora da história moderna chegava ao fim.
Na aldeia da Benfeita, na Serra do Açor, a notícia chegou por telefone, através de um funcionário de uma empresa inglesa, casado com uma habitante local, que partilhou de imediato a informação.
Sem esperar confirmação oficial, os habitantes da aldeia tocaram os sinos da igreja para assinalar o fim do conflito. Os moradores saíram à rua em celebração espontânea, assinalando aquele que seria um dos dias mais importantes do século XX. O gesto marcou profundamente a memória coletiva da comunidade.
Torre da Paz: um símbolo permanente
No ano seguinte, em 1946, foi construída a Torre da Paz no centro da aldeia, feita em xisto, material característico da região. Desde então, ficou decidido que o sino da torre tocaria apenas uma vez por ano, precisamente no dia 7 de maio, em homenagem à paz alcançada.
Segundo escreve a Travel Magg, o toque segue um ritual único: o sino badala 1.620 vezes, uma por cada dia da guerra. Voluntários revezam-se para garantir a execução do toque, que dura várias horas. Durante esse tempo não há discursos nem eventos paralelos. Apenas o som grave e compassado do sino interrompe o silêncio da serra.
Uma tradição com significado
“A paz, na Benfeita, ouve-se e sente-se”, descreve a população local. A tradição cumpre-se anualmente com a mesma solenidade desde há quase 80 anos, sem interrupções, e atrai visitantes de várias regiões do país interessados em assistir ao ritual.
A Benfeita integra a rede das Aldeias do Xisto e destaca-se também pelo seu património natural. Nas imediações, a Fraga da Pena revela-se como uma cascata rodeada por vegetação densa, ideal para caminhadas, observação da natureza ou atividades de lazer ao ar livre.
Reserva botânica da Mata da Margaraça
A Mata da Margaraça, situada nas proximidades, é uma das mais ricas reservas botânicas de Portugal. Com trilhos bem sinalizados e uma biodiversidade notável, oferece aos visitantes a possibilidade de explorar uma floresta autóctone pouco alterada pela ação humana.
A poucos quilómetros encontra-se o Piódão, aldeia histórica conhecida pelo seu casario em xisto e ruas estreitas. Esta localidade, classificada como património de interesse nacional, complementa a oferta turística da região e convida à descoberta do interior do país.
Uma praia fluvial no centro da aldeia
Na própria Benfeita, a praia fluvial, situada na junção das ribeiras da Mata e do Carcavão, foi recentemente requalificada. Hoje dispõe de balneários, zonas de lazer, um polidesportivo e áreas de areal que se tornam ponto de encontro nos meses mais quentes.
A gastronomia local é outro dos cartões de visita da Benfeita. Nos estabelecimentos da zona, os visitantes podem provar especialidades, como o cabrito assado, as trutas das ribeiras locais, o arroz de carqueja e diversas sopas tradicionais. Os enchidos, queijos e o pão caseiro completam a ementa regional.
Doces e tradições à mesa
Para sobremesa destacam-se os doces típicos, como as filhós, os coscorões e as tigeladas, confecionados segundo receitas antigas. Estas iguarias são frequentemente servidas nas festas locais ou nas feiras sazonais promovidas por associações da comunidade.
A oferta de alojamento inclui casas em xisto restauradas, turismo rural e alojamentos familiares com vista para o vale. Ao longo do ano realizam-se ainda eventos dedicados ao património, à ecologia e à cultura, que mantêm viva a ligação entre a tradição e a natureza.
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