O que começou por ser um simples meio de pagamento está a transformar-se num reflexo da pressão económica sentida em muitas casas. Cada vez mais consumidores estão a usar o cartão de crédito para fazer compras básicas, como as do supermercado. De acordo com o jornal espanhol El Economista, esta prática tem vindo a crescer de forma consistente e preocupa analistas financeiros, que alertam para o risco de criar uma “dívida invisível”, uma acumulação silenciosa que se instala sem dar por ela.
Nos últimos quatro anos, os preços dos alimentos dispararam 36%, segundo a Organização de Consumidores e Utilizadores (OCU). A escalada de custos fez do crédito uma tábua de salvação aparente, permitindo adiar pagamentos imediatos mas comprometendo a estabilidade financeira no médio prazo.
Conforto transforma-se em ilusão
Os cartões de crédito foram pensados para facilitar aquisições pontuais de valor mais elevado. Contudo, segundo o jornal, a sua utilização em despesas quotidianas está a alterar a forma como as famílias gerem o orçamento.
O pagamento adiado cria uma sensação enganadora de segurança, que pode encobrir um desequilíbrio crescente nas finanças pessoais.
A publicação refere que esta falsa sensação de margem orçamental conduz muitas vezes a um aumento do consumo. A perceção de que “a conta vem depois” incentiva gastos acima do previsto e acaba por gerar um ciclo de pagamentos sucessivos que se tornam difíceis de acompanhar.
Conta que chega com juros
Além do efeito psicológico, há o custo real. Conforme a mesma fonte, as taxas aplicadas aos cartões de crédito podem ultrapassar os 20%, o que transforma pequenas compras em dívidas prolongadas. O consumidor, ao fracionar pagamentos, tende a perder noção do total em dívida, acumulando encargos que só se revelam no extrato mensal.
Este tipo de crédito fragmenta a perceção de despesa. Cada parcela parece leve, mas o conjunto forma um valor significativo. Quando somadas, as prestações evidenciam o peso daquilo que parecia um simples recurso momentâneo.
Dinheiro como ferramenta de controlo
Face a este cenário, alguns analistas defendem um regresso a práticas mais tangíveis de gestão financeira. Segundo a mesma fonte, o uso de numerário para compras diárias ajuda a manter uma noção imediata do que se gasta e reduz a tentação de compras impulsivas. Pagar com dinheiro físico restabelece a ligação entre o ato de compra e o custo real.
O El Economista sublinha que o crédito deve ser reservado a situações pontuais e planeadas, como a compra de equipamentos domésticos, onde o fracionamento tem uma função estratégica e não serve apenas para adiar despesas correntes.
Aviso das entidades de consumidores
A OCU reforça o alerta: o uso excessivo do cartão de crédito, mesmo em pequenas despesas, pode gerar encargos elevados e prolongados. Segundo a organização, a possibilidade de pagar em várias parcelas cria um alívio temporário, mas esconde taxas anuais efetivas (TAE) que frequentemente superam os 20%.
Assim sendo, o cartão de crédito não deve ser visto como uma extensão do rendimento mensal. A recomendação é simples: nunca o utilizar para pagar as compras do supermercado. O que parece uma solução rápida pode transformar-se num compromisso financeiro difícil de desfazer.
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