Nos últimos anos, o sul de Espanha tornou-se um dos destinos mais procurados por reformados estrangeiros em busca de sol e tranquilidade. No entanto, o crescimento explosivo do turismo está a mudar o quotidiano de quem, como muitos nórdicos, incluindo esta mulher já reformada, escolheu Espanha como destino para viver.
Uma dessas residentes é Eva, uma reformada sueca que se apaixonou por Málaga e comprou um apartamento à beira-mar em Mijas. O sonho, porém, começou a transformar-se em frustração. A mulher confessou ao canal espanhol Cope, citado pelo jornal britânico Daily Express, que chegou a ponderar vender tudo e regressar ao seu país devido ao “excesso de turistas”.
“Estive a pensar em vender o meu apartamento há um ano ou um ano e meio, porque estava um pouco frustrada com a forma como Málaga está a mudar com o turismo. Há muito mais pessoas agora, muito mais turistas”, afirmou. “Agora há turismo a mais. Eu própria sou turista, mas senti que já não aguentava.”
Um paraíso cada vez mais cheio
Eva explicou que muitos suecos, ao chegar aos 60 ou 65 anos, sonham em deixar o frio e a escuridão da Escandinávia para desfrutar do clima mediterrânico. Foi esse desejo que a levou à Costa del Sol, onde encontrou sol, mar e qualidade de vida. Mas com o passar dos anos, notou uma transformação profunda.
Desde a pandemia, o número de visitantes e de estrangeiros a comprar casa disparou. Dados da Associação de Registadores de Espanha indicam um aumento de 30% nas aquisições de imóveis por cidadãos estrangeiros apenas no segundo trimestre deste ano, refere a mesma fonte.
“Sinto que não quero sair de Málaga”
Apesar das dificuldades, a reformada decidiu ficar em Espanha. “Sinto que não quero sair de Málaga”, disse, justificando a escolha com o clima, as amizades que fez e o estilo de vida mediterrânico. “Sinto que tenho uma vida aqui. Tenho muitos amigos espanhóis, e é por isso que sair seria uma má ideia.”
Cidades sob pressão
A situação de Málaga reflete uma realidade que se repete noutras zonas turísticas espanholas. Kike España, urbanista e ativista da União de Inquilinos de Málaga, afirmou à BBC que a cidade atingiu “um ponto de rutura”, com a infraestrutura local a ceder sob o peso do turismo em massa.
“É a mesma sensação que se tem ao entrar num parque temático”, descreveu, segundo a mesma fonte. “Há um fluxo constante de pessoas a consumir a cidade em vez de a habitar.”
Turismo em alta, paciência em baixa
O setor do turismo representa atualmente cerca de 13% do PIB espanhol, atingindo recordes de receitas e visitantes após a recuperação da crise da Covid-19. No entanto, o sucesso económico tem um preço: o custo de vida sobe, o alojamento torna-se inacessível e a identidade local começa a diluir-se.
Entre espanhóis e estrangeiros residentes, cresce o mesmo sentimento, de acordo com o Daily Express: o de que o turismo, que outrora trouxe prosperidade, está agora a pôr em causa a qualidade de vida.
Enquanto isso, Eva, tal como muitos outros reformados europeus na Costa del Sol, continua dividida entre o encanto do Mediterrâneo e o desconforto de viver num destino que parece nunca descansar.
Leia também: Mais dinheiro para trabalhadores e pensionistas: Governo revela planos da Segurança Social para 2026
















