O setor da construção em Portugal tem registado crescimento sustentado e está a atrair de volta trabalhadores portugueses que nos últimos anos procuraram melhores condições no Luxemburgo. De acordo com o portal de notícias Contacto, a produção nacional no setor aumentou 3,1% em 2024, com o emprego a subir 1,3%, cenário que contrasta com o momento atual no Grão Ducado, onde a construção atravessa dificuldades e perda de mão de obra.
Esta diferença está a inverter o fluxo migratório. Segundo a mesma fonte, há cada vez mais profissionais a abandonar o Luxemburgo para regressar ao país de origem e prosseguir carreira na construção. Os sindicatos OGBL e LCGB apontam que salários mais competitivos e o custo de vida tornam a permanência em território luxemburguês menos compensatória, sobretudo para quem vai sozinho e mantém despesas elevadas com alojamento.
Quando o regresso compensa mais do que ficar
Escreve o portal que muitos trabalhadores calculam despesas e rendimento disponível no final do mês e concluem que o esforço de viver longe não se traduz no retorno financeiro esperado. A secretária adjunta da LCGB afirma que o encarecimento geral torna o saldo pouco favorável, levando muitos a optar por regressar, onde além do rendimento conseguem manter proximidade familiar. “Os trabalhadores portugueses, sobretudo os que vêm para cá sozinhos, estão a preferir regressar a casa, para junto da família”, acrescenta a secretária.
O fenómeno não se limita a migrantes isolados. Também famílias inteiras estão a regressar, levando consigo experiência do setor e procurando continuidade laboral em Portugal. Joe Gomes, da OGBL, refere que a estagnação salarial e a desvalorização percebida pelos trabalhadores pesam na decisão, num momento em que as perspetivas nacionais oferecem maior equilíbrio entre rendimento e qualidade de vida.
Empresas do Luxemburgo chegam com obras e trabalhadores
Refere a mesma fonte que o movimento inverso não se faz apenas de pessoas. Há empresas luxemburguesas a estabelecer filiais e a desenvolver projetos de construção em território português. Em alguns casos, mantêm os próprios trabalhadores que antes atuavam no estrangeiro, garantindo-lhes emprego e facilitando o regresso definitivo. Nestas situações, o retorno é acompanhado de continuidade profissional e maior estabilidade familiar.
Enquanto o mercado português absorve mão de obra, o Luxemburgo enfrenta falências no setor e deslocação de trabalhadores para outros segmentos, incluindo obras promovidas por comunas e serviços públicos. A redução de oferta na construção privada tem contribuído para esta reorientação, abrindo portas a mudança de país ou de atividade.
Menos entradas, mais saídas: os números confirmam a tendência
Neste momento, já são menos os portugueses a emigrar para trabalhar no setor da construção luxemburguês. Hoje chegam sobretudo profissionais mais velhos ou em fase final de carreira, que procuram último reforço financeiro para projetos pessoais, como apoio a estudos dos filhos ou aquisição de habitação em Portugal.
Segundo o Contacto, entre março de 2022 e março de 2025, o número de trabalhadores portugueses na construção no Luxemburgo caiu 15%. Neste período perderam se 2.430 profissionais na atividade, após um pico registado em 2022 com 15.830 trabalhadores. A partir de 2023 a tendência inverteu se e os valores desceram até aos 13.400 contabilizados este ano.
As alterações do setor em ambos os países mostram uma transição que tem impacto humano e económico. Enquanto Portugal absorve trabalhadores e empresas que regressam ou se relocalizam, o Luxemburgo procura alternativas num segmento ainda fragilizado. O movimento, feito em silêncio ao longo dos últimos anos, está agora visível nas estatísticas e nas decisões individuais de quem prefere regressar a casa.















