A sul, entre canais, sapais e bancos de areia, existe um território onde o ritmo da vida parece desacelerar. Não é apenas a paisagem que atrai os olhares: entre a tradição piscatória e a riqueza ecológica, esta cidade do Algarve destaca-se como ponto central da Ria Formosa. O que começa por parecer um ‘simples’ aglomerado urbano revela-se, afinal, um dos centros nevrálgicos do ecossistema lagunar mais importante do Algarve.
Entre a cidade e a ria
A proximidade da cidade de Olhão à Ria Formosa é mais do que geográfica: é histórica, económica e identitária. Olhão é, segundo o site do município com o mesmo nome, responsável por grande parte da produção nacional de bivalves, com destaque para a amêijoa, cuja exportação representa 80% do total do país.
Este aproveitamento sustentável da natureza estende-se à pesca e à gastronomia local, onde pratos, como a sopa de peixe e o arroz de lingueirão mantêm vivo o saber das comunidades ribeirinhas. A ria, ao mesmo tempo fronteira e recurso, é parte inseparável da vida urbana.
Ponto de partida: Quinta de Marim
A poucos quilómetros do centro de Olhão encontra-se a Quinta de Marim, sede e centro de interpretação do Parque Natural da Ria Formosa.
Escreve a Câmara Municipal de Olhão que este espaço permite observar espécies, como a galinha-sultana, símbolo do parque e uma das aves mais raras da Europa, presente apenas nesta zona e em Espanha.
Flamingos, camaleões, guarda-rios e águias complementam a paisagem faunística, visível a partir de observatórios instalados ao longo de trilhos pedestres.
Ilhas com ligação a Olhão
Olhão é também o principal ponto de acesso às ilhas-barreira da Ria Formosa. As ligações marítimas, que operam todo o ano, permitem chegar às Ilhas do Farol, Culatra, Armona e Fuzeta. Segundo o portal Algartur, estes territórios insulares são procurados pelas suas praias extensas e pela tranquilidade dos areais.
Na Culatra, por exemplo, mantém-se uma povoação de pescadores com cerca de 750 habitantes, acessível por passadiços e rodeada por flora dunar e avifauna.
Arquitetura e mercados com história
No coração da cidade, os Mercados Municipais de Olhão, inaugurados em 1916, continuam a desempenhar um papel central no quotidiano. Acrescenta a publicação que os edifícios assentam sobre 88 estacas e foram reabilitados nos anos 1990, mantendo a estrutura metálica original em tijolo e ferro.
Além da oferta de peixe e produtos frescos, o interior dos mercados foi enriquecido com azulejos de Costa Pinheiro, acrescentando uma dimensão artística ao comércio diário. Quem vai a Olhão tem o hábito de frequentar o mercado, já que este é considerado um dos principais cartões de visita da cidade.
Museu com raízes marítimas
Instalado na antiga Casa do Compromisso Marítimo, o Museu Municipal de Olhão resulta de uma requalificação profunda de um edifício datado do século XVIII. Refere a mesma fonte que esta casa serviu como sede de uma confraria criada pelos mareantes locais, dispondo de farmácia e açougue.
Hoje, o museu abriga um acervo diversificado que inclui património arqueológico, numismático, conserveiro e naval, além de objetos ligados à maçonaria e à fotografia.
Bairro Antigo e identidade urbana
Ao contrário de outras cidades algarvias, Olhão destaca-se pela sua arquitetura cúbica e açoteias. Explica o site Algartur que estas casas, amontoadas como cubos brancos, foram construídas por comerciantes e armadores durante o século XIX, inspiradas por influências do norte de África.
As vielas estreitas, forradas a calçada portuguesa, revelam um traçado labiríntico onde convivem cafés, lojas e moradores. A presença de miradouros e terraços permite apreciar a vista sobre a ria e reforça o vínculo entre cidade e paisagem.
Cidade voltada para o mar
Mais do que um centro urbano, Olhão é um espaço de transição entre terra e água. A ligação à Ria Formosa, tanto ecológica como económica, faz da cidade um ponto estratégico para compreender a forma como o Algarve se relaciona com os seus recursos naturais.
Este equilíbrio entre preservação ambiental e atividade humana continua a ser uma das marcas distintivas de Olhão, onde a história marítima encontra continuidade nas práticas atuais.