Nos últimos tempos, a segurança na aviação voltou a estar no centro das atenções, após uma série de incidentes graves. Embora o avião continue a ser considerado um dos meios de transporte mais seguros do mundo, alguns acontecimentos recentes trouxeram apreensão entre os passageiros. As pessoas tendem a achar que os maiores perigos durante um voo são relacionados com a elevada altitude durante o voo ou com a turbulência que se possa fazer sentir, mas a verdade é que os momentos mais ‘críticos’ ao andar de avião são dois outros.
Os momentos mais arriscados
Viajar a mais de 12 mil metros de altitude pode parecer o momento mais arriscado de um voo. No entanto, para os especialistas em aviação, os maiores perigos não acontecem nas alturas, mas sim quando o avião está mais próximo do solo, ou seja, durante a descolagem e a aterragem, refere a Rádio Itatiaia.
Os minutos mais importantes
Pilotos e especialistas sublinham que, apesar de o voo em cruzeiro ser geralmente estável e controlado, é no início e no fim da viagem que os riscos aumentam. Entre descolagens mal executadas e aterragens com imprevistos, são nesses minutos que podem surgir situações críticas.
Casos mais recentes
Um dos casos mais mediáticos ocorreu a 29 de janeiro de 2025, quando um avião regional da American Airlines colidiu com um helicóptero militar Black Hawk em plena manobra de aterragem, no aeroporto Ronald Reagan, em Washington, DC. O avião estava a segundos de tocar a pista.
Poucos dias depois, um voo da United Airlines teve de ser evacuado ainda na pista do aeroporto, após ser detetado um incêndio num dos motores. Os 104 passageiros e cinco tripulantes saíram rapidamente do aparelho com recurso a escorregas de emergência.
Já no Arizona, um jato executivo Learjet 35A, pertencente ao músico Vince Neil (que não estava a bordo), derrapou ao aterrar e embateu noutro avião privado. O piloto do Learjet perdeu a vida no acidente.
Impactos económicos
Estes acontecimentos abalaram a confiança de muitos passageiros e provocaram impacto económico nas companhias aéreas envolvidas. “Durante anos disseram-nos que voar era a forma mais segura de viajar. Mas, honestamente, estamos assustados neste momento”, afirmou a congressista Bonnie Watson Coleman numa audiência recente no Congresso dos EUA.
Apesar das preocupações, os especialistas continuam a garantir que a aviação é segura. Cada incidente serve para melhorar os protocolos e reforçar os sistemas de prevenção. Segundo dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), dos 1468 acidentes registados em 2024, 770 ocorreram durante a aterragem e 124 na descolagem.
Para a analista de transportes Mary Schiavo, estes números refletem a complexidade dessas fases do voo. “Os aeroportos são ambientes de elevada pressão, tanto para os pilotos como para os controladores e para os próprios sistemas das aeronaves”, explicou.
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A aterragem é o momento de maior risco
Na sua opinião, a aterragem representa o maior risco. “Durante a descolagem, pelo menos, temos a pista visível e bem definida. Já na aterragem, pode haver tráfego aéreo inesperado ou erros de comunicação, e é aí que os acidentes mais graves acontecem”, sublinha Schiavo.
Por essa razão, existe uma regra clara e bem conhecida entre os profissionais: a chamada “cockpit estéril”. Criada em 1981 pela Administração Federal de Aviação (FAA), proíbe qualquer conversa ou atividade não essencial abaixo dos 10 mil pés, cerca de 3 mil metros de altitude, exatamente durante a descolagem e a aterragem.
“É fundamental manter toda a atenção focada no controlo do avião. Na descolagem, o aparelho está pesado e precisa de acelerar rapidamente até ganhar sustentação. Qualquer distração pode ser fatal”, explica Dennis Tajer, porta-voz da Allied Pilots Association.
Mesmo com todos os sistemas de verificação e redundância, os erros ainda acontecem. Num caso recente, um voo da Southwest Airlines quase iniciou a descolagem a partir de uma taxiway, em vez da pista correta. Felizmente, o controlador de tráfego alertou a tempo: “Pare Southwest 3278, pare! Cancelada a autorização de descolagem. Está na pista H”. O piloto respondeu de imediato: “Confirmo: parámos”.
Para Jason Ambrosi, presidente da Air Line Pilots Association, estes episódios são uma chamada de atenção. “A segurança é uma responsabilidade partilhada. Estes momentos mostram-nos porque é que é tão importante o treino, a disciplina e o cumprimento rigoroso dos procedimentos”, afirmou.
Apesar da atenção mediática recair sobretudo na aviação comercial, é na aviação geral, que inclui aviões particulares e de lazer, que ocorre o maior número de acidentes. No entanto, são geralmente menos graves. “Em 2023 tivemos 195 vítimas mortais na aviação geral, o número mais baixo em mais de 30 anos”, revelou Mike Ginter, da Aircraft Owners and Pilots Association.
Segundo Ginter, a segurança continua a ser a prioridade absoluta dos pilotos, mesmo nas pequenas aeronaves. “A formação é focada em prevenir riscos desde o momento em que se entra num avião. Queremos manter esta tendência de melhoria contínua”, garantiu.
Enquanto prosseguem as investigações aos incidentes mais recentes, que podem demorar mais de um ano, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) já emitiu recomendações urgentes, como a restrição de voos de helicópteros em zonas de tráfego comercial intenso.
Tudo deve funcionar como previsto
No final de contas, os pilotos sabem que a descolagem e a aterragem exigem atenção redobrada. “Pode não parecer, mas é o momento mais exigente de todo o voo. É preciso que tudo funcione como previsto, mas também estar preparado para tudo o que possa correr mal”, conclui Dennis Tajer.
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