Há que reconhecer, com um mínimo de imparcialidade e honestidade, que só um PCP de convicções e militância fortes tem conseguido aguentar todos os boicotes e malfeitorias de que vem sendo vítima desde há muito, silenciando-se iniciativas e deturpando-se posições suas, não tendo sido, ainda, desta vez que ficou de fora do parlamento, como muitos desejariam.
O PCP, por exemplo, sempre condenou a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, mas só porque não deixou, paralelamente, de contextualizar a mesma (promessa feita à Rússia e não cumprida de não expansão da NATO até às suas portas(1); golpe na Ucrânia patrocinado pelos EUA, com a cumplicidade da UE e tendo à frente uma Victoria Nuland, que derrubou um presidente, democraticamente, eleito e colocou no poder admiradores de um Stepan Bandera, colaborador de nazistas, antissemita e criminoso de guerra; eliminação por parte de tal gente de tudo o que à cultura russa pudesse dizer respeito, quando parte significativa da população da Ucrânia de origem russa era, levando a uma guerra civil no leste do país; assassinatos ocorridos na casa dos Sindicatos, em Odessa, nunca investigados pelas respetivas autoridades, de críticos do novo regime instalado em Kiev; enganadores acórdãos de Minsk visando, apenas, dar tempo à Ucrânia para se armar contra a Rússia; etc.), logo passou a ser apresentado pela comunicação social dominante e personagens vários como sendo condescendente com tal invasão!

Jurista
Não haverá machado que corte a raiz ao pensamento, porque será forte como o vento e fortes serão, pois, as convicções dos militantes do PCP, goste-se ou não delas
Dias atrás, já em plena campanha eleitoral para a Assembleia da República, o Ministério Público, à semelhança de outras situações, dava conhecimento, através de comunicado, de que dois fiscais da Câmara Municipal de Loures haviam sido condenados, em primeira instância, por corrupção, comunicado que a CNN, no seu site, reproduziu.
Até aqui, dir-se-ía que tudo normal, simples informação.
Só que a dita CNN não se limitou a reproduzir o comunicado em causa, logo adiantando, capciosamente, que os atos de corrupção praticados pelos fiscais tinham ocorrido, não sob a atual gestão camarária do PS, mas anos atrás, quando Bernardino Soares, do PCP, presidia à mesma! Como se, acaso, Bernardino Soares e o PCP tivessem alguma responsabilidade na conduta dos fiscais e com um PS não pudesse haver corrupção alguma!
E os exemplos poder-se-iam multiplicar, tal como a inconcebível entrevista, como em devido tempo deixámos aqui assinalado, dum José Rodrigues dos Santos, na pública RTP 1, a Paulo Raimundo, igualmente em plena campanha eleitoral, quando, em vez de questioná-lo sobre as soluções que o partido teria para os diversos problemas do país, procurou, antes, centrá-la na Ucrânia e associar o partido a posições sobre a mesma que se sabia ele não ter!
Só que, como um poeta escrevia, não haverá machado que corte a raiz ao pensamento, porque será forte como o vento e fortes serão, pois, as convicções dos militantes do PCP, goste-se ou não delas, sobretudo num tempo em que valores e princípios se trocam com facilidade pela simples conquista do poder pelo poder!
(1)E se, por exemplo, um México, enquanto país soberano, decidisse, livremente, integrar uma aliança militar com a Rússia e com a China e, no âmbito dessa aliança, os seus aliados colocassem no seu território toda uma panóplia de armamento? Como iria reagir os EUA? Bastará, talvez, lembrarmo-nos da reação dos mesmos EUA quando um dia a então União Soviética, em resposta a mísseis por si colocados, no âmbito da NATO, na Turquia, decidiu, igualmente, colocar mísseis seus em Cuba, pouco tendo faltado para o eclodir duma guerra nuclear, valendo ao mundo o bom senso que acabou por prevalecer, aceitando cada uma das partes retirar os seus mísseis de território alheio!
Nota: Não é este modesto escriba militante do PCP (já agora, nem de nenhum outro partido), nem dele teve qualquer procuração para o que atrás escrito foi.
Leia também: Democracia e povo | Por Luís Ganhão