Três Anéis: Uma História de Exílio, Narrativa e Destino, de Daniel Mendelsohn, foi publicado em Setembro de 2022 pela Elsinore. Com tradução de Frederico Pedreira, este é um ensaio premiado e essencial que cruza os géneros da filosofia e do ensaio, da história com as ciências sociais.
Três Anéis é o décimo livro de Mendelsohn, vencedor do Prix du Meilleur Livre Étranger 2020. Conquistou igualmente o Prémio Malaparte 2022, prémio literário de grande prestígio na Europa.
Três Anéis retoma o anterior livro do autor, Uma Odisseia: um Pai, um Filho, uma Epopeia (publicado pela Elsinore, em 2018), finalista do Baillie Gifford Prize para não-ficção e vencedor do Prix Méditeranée 2018, para encetar uma brilhante meditação sobre a literatura clássica, na sua técnica e composição, interligando-a com o destino de vários autores consagrados e a formação da identidade europeia. Fundindo memória pessoal, biografia e crítica literária, Daniel Mendelsohn explora os misteriosos elos que ligam a aleatoriedade do nosso fado com a arte de o transformarmos em matéria ficcional. Nas primeiras páginas do livro, o autor conta justamente como começou a escrever, em 2012, seis meses após a morte do pai, e, em finais de agosto de 2016, com 600 páginas manuscritas, divididas em três partes, descobre-se incapaz de as unir num todo coeso. Até que se lembra da fórmula que Homero utilizou superlativamente na Odisseia, com poderoso efeito: a técnica da composição em anel – “a narrativa parece desviar-se e perder-se numa digressão (sendo o ponto de partida da narrativa principal marcado por um verso formulaico ou um episódio típico), embora a digressão, o desvio ostensivo, acabe no fim por se revelar um círculo, uma vez que a narração irá regressar ao ponto preciso na ação a partir do qual se desviou” (p. 24)
Anos antes, em 2005, Mendelsohn trabalhava num livro cuja pesquisa requereu que viajasse extensivamente pelos Estados Unidos e pela Europa de Leste, assim como Israel ou Austrália. A intenção era entrevistar uma série de sobreviventes e testemunhas de certos acontecimentos numa pequena cidade do Leste da Polónia durante a Segunda Guerra Mundial. A aparentemente simples experiência de recolha de testemunhos deixa o autor num estado pós-traumático.
Para responder às questões clássicas de «Como funciona a arte de contar histórias?» ou «O que faz uma boa história?», Mendelsohn parte do ardiloso Ulisses, e da sua própria experiência de escrita, para chegar a três escritores unidos pelo exílio e pela técnica literária da composição em anel: Erich Auerbach, o judeu filólogo que fugiu da Alemanha nazi para escrever o seu monumental estudo sobre a literatura ocidental, Mimesis, por volta de 1940, em Istambul, tendo ficado conhecido como “o pai da Literatura Comparada”; François Fénelon, arcebispo francês do século XVII, que escreveu uma engenhosa “sequela” da Odisseia, As Aventuras de Telémaco, que foi imensamente popular e lhe granjeou fama popular por todo o mundo, se bem que também tenha levado ao seu desterro; e o romancista alemão W.G. Sebald, autoexilado em Inglaterra, cujas narrativas distintamente sinuosas exploram temas de deslocamento, nostalgia e separação, como é o caso de Os Anéis de Saturno.
Daniel Mendelsohn nasceu em Nova Iorque, em 1960. Doutorado em Estudos Clássicos pela Universidade de Princeton, professor de Literatura Clássica, ensaísta e crítico literário colaborador assíduo das páginas do New Yorker, do New York Review of Books, da Harper’s e da BBC.
Os seus livros incluem o bestseller Os Desaparecidos (Dom Quixote, 2009), vencedor do National Book Critics Circle Award e do Prémio Médicis.