Todos os anos, milhões de malas cruzam os céus com os seus donos, mas nem todas chegam ao destino final. Para além do incómodo que isso representa, há casos verdadeiramente curiosos sobre o que fica para trás: objetos insólitos, artigos de luxo e até relíquias históricas. Quando a bagagem fica perdida para sempre, surgem histórias tão improváveis quanto fascinantes.
Milhares de malas extraviadas
Em 2024, mais de 36 milhões de bagagens foram danificadas, perdidas ou roubadas pelas companhias aéreas, de acordo com dados do setor da aviação. Este número representa aproximadamente sete malas por cada mil que são despachadas. Embora a maioria seja recuperada, uma pequena percentagem da bagagem perdida acaba por nunca ser reclamada.
É neste universo de bagagens perdidas que se encontra o trabalho da empresa norte-americana Unclaimed Baggage, especializada na venda de conteúdos de malas que nunca regressaram aos seus donos. No seu relatório anual, o Found Report, revelam-se alguns dos achados mais surpreendentes e bizarros encontrados nos últimos meses.
De armaduras a animais em frascos
Entre os objetos encontrados este ano na bagagem perdida, há verdadeiras relíquias, segundo a Executive Digest: um peitoral completo de uma armadura medieval e um elmo romano foram descobertos em malas diferentes. A empresa não confirmou se pertenciam ao mesmo viajante, mas os especialistas em história certamente teriam algo a dizer sobre essa mistura de épocas.
Outros objetos são mais difíceis de explicar. Numa mala surgiu uma pata de galinha liofilizada, noutra um frasco de aguardente com uma cascavel conservada no seu interior. Também foram encontradas caixas com dezenas de aranhas e escaravelhos gigantes, perfeitamente acondicionados, sem qualquer vestígio de roupas ou artigos pessoais.
A lista inclui ainda um livro antigo sobre exorcismos em francês, um chapéu de mágico com décadas de uso e até um modelador de bigodes. Como diz Bryan Owens, presidente da Unclaimed Baggage, “desde 1970, não desempacotamos apenas pertences, descobrimos histórias únicas por trás das viagens dos passageiros”.
Mistérios em silicone e pedras sem explicação
Alguns objetos parecem simplesmente inexplicáveis: uma barriga falsa em silicone para simular gravidez, um par de nádegas postiças e uma dentadura enfeitada com joias figuram entre os itens mais estranhos.
Mas talvez o achado mais desconcertante tenha sido uma mala extremamente pesada. Os funcionários especularam sobre a possibilidade de conter barras de ouro ou artefactos valiosos. No entanto, o seu conteúdo revelou-se… pedras. Nenhuma nota, nenhuma explicação. Apenas pedras, que terão sido guardadas por um colecionador excêntrico ou talvez por um adepto alternativo de musculação.
Artigos de luxo esquecidos
Nem tudo o que se perde é estranho. Há também quem esqueça verdadeiros tesouros. O objeto mais valioso encontrado foi um anel de diamante em ouro branco de 18 quilates, avaliado em cerca de 34 mil euros. Também surgiu um relógio Rolex President Oyster em ouro, no valor de 17.500 euros.
Peças de alta-costura de marcas como Chanel e Alexander McQueen, malas da Louis Vuitton, máquinas fotográficas profissionais e até uma flauta artesanal avaliada em 6.200 euros foram outros dos luxos deixados para trás.
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Objetos perdidos noutras paragens
Este fenómeno não se limita aos aeroportos. Segundo o Índice de Objetos Perdidos da Uber, só em 2023 foram esquecidos 1,7 milhões de telemóveis em veículos da plataforma, para além de carteiras, chaves e auscultadores. Alguns dos objetos relatados são verdadeiramente inesperados: uma motosserra, um kit de teste de ADN, dez lagostas vivas e até um urinol fazem parte da lista de esquecimentos.
Os hotéis também acumulam episódios curiosos. Segundo o relatório Innsights da Hotels.com, os hóspedes deixaram para trás desde anéis de noivado e talas ortopédicas até um lagarto de estimação e um pintainho. Um pneu de carro e montes de dinheiro também foram encontrados sem explicação aparente.
Em Londres, a Transport for London (TfL), que gere os transportes públicos, recolhe semanalmente cerca de seis mil itens não reclamados. Entre os mais invulgares estão um frasco com morcegos, um fato de Dalek da série Doctor Who, um peixe-balão seco e uma caixa com rãs cozinhadas.
Como evitar perder a bagagem
Com tantos relatos insólitos, a melhor forma de evitar que a sua bagagem desapareça é adotar algumas medidas de prevenção. Especialistas recomendam:
- Levar apenas bagagem de mão, sempre que possível, para minimizar riscos;
- Identificar bem a mala com etiquetas coloridas ou fitas para facilitar o reconhecimento;
- Evitar voos com escalas, pois é durante as ligações que ocorrem mais perdas;
- Utilizar dispositivos de localização, como o AirTag da Apple, que funcionam via Bluetooth e podem ser rastreados através da aplicação Find My.
Caso a mala se perca, o passageiro deve apresentar de imediato uma reclamação junto da companhia aérea. Em voos comerciais, é necessário preencher um Relatório de Irregularidade de Bagagem (PIR), que dará origem a um processo.
Se ao fim de 21 dias a bagagem não for localizada, esta passa a ser considerada perdida de forma definitiva, e o passageiro tem direito a pedir uma indemnização. O valor máximo ronda os 1.600 euros, mas pode variar conforme a transportadora e os acordos internacionais aplicáveis.
O que acontece às malas não reclamadas
Nos Estados Unidos, as companhias aéreas têm até 90 dias para localizar os proprietários. Findo esse prazo, as bagagens são enviadas para a sede da Unclaimed Baggage, no Alabama, onde são abertas, catalogadas e os seus conteúdos vendidos, reciclados ou doados.
Seja uma armadura medieval, um anel de diamantes ou uma caixa cheia de pedras, cada mala esquecida carrega consigo uma história — umas mais bizarras do que outras. Mas uma coisa é certa: se um objeto for valioso, insubstituível ou demasiado pessoal… talvez o melhor seja mesmo não o despachar.
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