A Ryanair enviou comunicações a vários assistentes de bordo em Espanha solicitando a devolução de montantes recebidos ao longo de 2024. Os valores em causa correspondem a aumentos salariais atribuídos durante os primeiros meses do ano. Em simultâneo, os salários destes trabalhadores foram revertidos para os valores anteriormente praticados. A decisão apanhou muitos de surpresa e gerou desconforto entre os profissionais afetados.
Empresa contactou diretamente os funcionários
As mensagens foram remetidas por correio eletrónico, diretamente aos colaboradores visados, onde se especificava o montante a devolver. Em alguns casos, os valores ultrapassam os três mil euros, acumulados ao longo de cerca de cinco meses. Os funcionários afetados foram também informados da possibilidade de evitar a devolução, caso aceitassem associar-se a um sindicato específico. Esta proposta levantou preocupações adicionais junto dos trabalhadores.
Segundo documentos a que a agência noticiosa Reuters teve acesso, a companhia aérea sugeriu a adesão ao sindicato Comisiones Obreras (CO) como alternativa ao reembolso dos valores. Esta associação seria, segundo a empresa, a única com a qual existe um acordo válido em vigor. A comunicação causou indignação entre trabalhadores filiados noutros sindicatos, que consideram a situação injusta. A proposta foi interpretada por muitos como uma forma indireta de pressão sobre os trabalhadores.
Disputa sindical está na origem da controvérsia
O caso envolve uma disputa entre estruturas sindicais e decorre de um conflito de representatividade na negociação dos direitos laborais. Em 2023, a Ryanair firmou um acordo salarial com o CO, que foi aplicado a grande parte dos assistentes de bordo. No entanto, a validade desse acordo foi posteriormente questionada por outro sindicato, o Unión Sindical Obrera (USO), que levou o caso aos tribunais. O USO alegou que o CO não tinha legitimidade para representar trabalhadores seus.
Em março de 2024, a Audiência Nacional, instância judicial superior em Espanha, decidiu anular o acordo celebrado entre a Ryanair e o CO. A decisão judicial foi tomada na sequência do processo interposto pelo USO, que considerou a negociação ilegítima. A sentença levou a Ryanair a recuar nas condições salariais acordadas e a solicitar a devolução dos valores já pagos. Apenas os trabalhadores representados pelo CO mantiveram os aumentos, ficando os restantes excluídos.
USO critica postura da empresa
O sindicato USO criticou a forma como a empresa implementou a decisão do tribunal, alegando falta de transparência e diálogo com os trabalhadores afetados. Em declarações à BBC, representantes do USO garantiram estar a estudar todas as vias legais possíveis para reverter a situação. O sindicato acusa a empresa de penalizar os trabalhadores indevidamente, ao invés de assumir as consequências da decisão judicial. A situação agravou o clima laboral nas bases da companhia em Espanha.
Um dos assistentes de bordo afetados, que preferiu manter o anonimato, revelou à Reuters ter sido confrontado com um pedido de devolução no valor de 3.857 euros. O mesmo funcionário indicou ainda que o seu salário foi imediatamente reduzido após a decisão da empresa. Este colaborador teme represálias caso fale publicamente sobre o caso e afirma que vários colegas enfrentam situações semelhantes. Muitos trabalhadores já terão começado a devolver os montantes solicitados.
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Salários próximos do mínimo dificultam reembolso
Estes profissionais afirmam que os seus rendimentos mensais já se situam próximos do salário mínimo espanhol, atualmente fixado em 1.184 euros. O valor auferido varia consoante o número de horas de voo, tornando-se instável em certos períodos do ano. A devolução de quantias tão elevadas representa um encargo significativo para muitos trabalhadores. Alguns referem que terão de recorrer a poupanças ou ajuda familiar para fazer face ao pedido da empresa.
A companhia aérea não prestou esclarecimentos públicos sobre o processo. O responsável de recursos humanos que assinou os comunicados enviados aos trabalhadores foi contactado pela Reuters, mas não respondeu aos pedidos de comentário. A falta de informação oficial tem sido apontada como um dos principais fatores de instabilidade entre os funcionários. A empresa limitou-se a referir que está a cumprir decisões judiciais.
Porta-voz confirma cumprimento da lei
Um porta-voz da Ryanair indicou, em resposta escrita, que a empresa está a aplicar a sentença emitida pelo tribunal espanhol. Segundo essa declaração, a transportadora está a agir em conformidade com a lei e compromete-se a procurar uma solução adequada. A companhia não avançou, no entanto, com qualquer medida de compensação ou apoio para os trabalhadores obrigados a devolver os valores. As críticas à gestão do caso têm vindo a aumentar.
A situação atual é mais um capítulo na relação ‘tensa’ entre a Ryanair e os seus colaboradores em vários países europeus. Nos últimos anos, a companhia aérea enfrentou diversas greves e protestos por parte dos seus trabalhadores. As exigências incluem melhores condições laborais, salários mais justos e maior respeito pelos direitos sindicais. Espanha tem sido um dos países onde os conflitos laborais com a transportadora têm sido mais frequentes.
Clima de instabilidade entre os trabalhadores
A pressão sobre os trabalhadores aumentou após a reversão dos salários e a exigência de devolução dos aumentos. Muitos funcionários referem sentir-se desprotegidos e sem apoio por parte da empresa. Os sindicatos alertam para o risco de novas paralisações e ações judiciais, caso a situação não seja resolvida. A incerteza quanto ao futuro das relações laborais na empresa permanece.
O caso continua a ser acompanhado pelos meios de comunicação internacionais, dado o impacto que poderá ter no setor da aviação. Com o verão à porta, um possível agravamento da situação poderá afetar a operação de voos em vários países. Os trabalhadores aguardam uma posição mais clara da empresa e a eventual intervenção das autoridades laborais espanholas.
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