O calor do verão faz com que a procura de locais próximos do mar aumente, procurando refrescar e relaxar. O som das ondas do mar é um dos mais relaxantes para a maior parte das pessoas e o mar tem sido fonte de inspiração para muitos artistas ao longo dos tempos.
A título de exemplo, destacamos as pinturas realizadas no final do século XIX por Alfred Casile, artista que se destacou pela abordagem do tema do mar, tendo inclusivamente participado no Salão de Paris, principal evento de arte do século XIX. Na sua obra “La mer du nord” (“Mar do Norte”) é bastante expressiva a luz, a cor e a energia que o mar transmite. Neste mesmo período, em Inglaterra salienta-se Carleton Grant, com várias pinturas sobre o mar, nomeadamente “The beach at Hige Tide” (“A praia na maré alta”), e em Portugal destacam-se as pinturas, sobretudo aguarelas, do próprio Rei D. Carlos, sendo o mar o seu tema favorito.
As ondas são um aspeto que, muitas vezes os artistas exploram ao ser abordado o mar. Por vezes vemos pinturas sobre ondas do mar de tal forma envolventes que parece que quase conseguimos escutar esse som das ondas. A pintura “Farol” (2012), do artista olhanense João Bonança, comporta essa envolvência.
O Algarve comporta condições climatéricas excelentes para a prática e fruição artística! A luz dos dias no Algarve permite uma cor e um brilho especiais, para além de que o clima é gerador de energia para a produção artística, bem como para a fruição desses produtos.
Sendo algarvio, também sempre encontrei no mar uma fonte de beleza e energia, tendo a primeira exposição de fotopintura que realizei, em 2007, sido precisamente dedicada ao tema “O Mar…”
Mais recentemente, o mar tem sido fonte de inspiração para vários artistas pelas piores razões, pois têm realizado obras a partir do lixo encontrado no mar ou do lixo que pode ser encontrado nas praias, nomeadamente de plástico, trazido pelo vento e pelas correntes.
Num artigo anterior, alertámos para o problema do plástico no Oceano, constituindo cerca de 85% do lixo encontrado nas zonas costeiras de todo o mundo. A realização de obras de arte a partir de plástico encontrado no mar tem sido usada como uma das principais manifestações no sentido de procurar consciencializar as populações para o perigo que representa o plástico existente no Oceano.
As questões ambientais estão cada vez mais na ordem do dia, fazendo parte do discurso político e das preocupações das pessoas em geral.
As expressões artísticas têm acompanhado estas preocupações, pois a produção artística deve ser inserida na época em que ocorre e sendo as questões ambientais tão importantes na atualidade é compreensível que muitos dos trabalhos artísticos feitos a partir do mar não deem tanta ênfase à beleza do mar, mas mais às questões ligadas à poluição do mar, procurando consciencializar e responsabilizar a população pela limpeza do mar e das zonas próximas do mar, em particular as praias.
Recentemente, um dos principais artistas portugueses de arte urbana, Bordalo II, que utiliza sobretudo plásticos de alta densidade que haviam sido jogados fora, realizou duas peças escultóricas com cerca de 10 metros, ambas representando um Cavalo Marinho. Uma encontra-se no Campus de Gambelas da Universidade do Algarve e outra no Parque de Campismo da Praia de Faro. Nesta interessante iniciativa da Câmara Municipal de Faro e da Universidade do Algarve, à qual dedicámos o artigo “Pode a arte contribuir para a preservação de espécies ameaçadas?”, procurou-se contribuir para a necessidade de consciencializar para a importância de preservar esta espécie.
É curioso que próximo da obra de Bordalo II no Parque de Campismo da Praia de Faro encontra-se uma escultura metálica na forma de peixe que serve para as pessoas colocarem o lixo de plástico, no sentido de ser reciclado.
Esta foi uma iniciativa complementar do Município de Faro que deve ser valorizada, contribuindo, com arte, para a tomada de consciência das pessoas relativamente às questões ambientais e para a importância da prevenção através de comportamentos mais adequado, enquadrados numa economia circular, assente nos 3R: Reduza, Reutilize e Recicle!
Iniciativas idênticas têm ocorrido noutros locais próximos do mar, nomeadamente no Largo da Manta Rota, junto ao passadiço de acesso à praia, com uma obra oferecida ao Município de Vila Real de Santo António pelo escultor Carlos Correia, comportando uma dimensão ambiental e também pedagógica.
* Professor Catedrático da Universidade do Algarve;
Pós-doutorado em Artes Visuais;
http://saul2017.wixsite.com/artes