A médica, Diana Carvalho Pereira, responsável por denunciar alegados casos de erros e de negligência, no serviço de Cirurgia do Hospital de Faro, fez férias recentemente em Cuba e revelou, numa crónica de opinião publicada no jornal NOVO, que “a privação de liberdade deveria ser crime. Nos cuidados de saúde não é diferente. Mas a liberdade também traz consigo responsabilidade. E não é justo que se usufrua dela sem noção”.
A médica fala sobre os riscos na realização de cirurgias e na não invencibilidade humana. Confessa, porém, que há que assumir erros, “não podemos esquecer-nos nunca das complicações que uma cirurgia também pode ter. Os tais riscos graves e frequentes de que devemos informar os doentes quando assinam o consentimento informado. Não podemos nunca negar que somos humanos e que podemos falhar. Mas dar o corpo às balas quando falhamos e aprender com o erro para não voltar a repeti-lo é essencial”, explica.
Diana nega portanto o paralelismo entre um médico e um super-herói, “a minha liberdade para ser médica implica responsabilidade sempre que trato qualquer doente. Não sou nenhum super-herói e, como toda a gente, vou falhar, tenho defeitos e coisas a melhorar”.
Ter ou não ter estofo para ser médica
Durante a sua formação e para evidenciar que os médicos são pessoas, e como tal seres emocionais, foi confrontada com a missão de ‘treinar a comunicação de más notícias’, “lembro-me de uma aula da faculdade, no segundo ano, em Coimbra, em que estivemos a treinar a comunicação de más notícias. Lembro-me que o meu caso era informar um familiar de que o seu ente querido tinha um tumor incurável no pâncreas, com menos de seis meses de vida. Lembro-me que, apesar de um familiar ser um ator, eu senti-me mal, como se tudo fosse verdade”, contou.
A médica prossegue, “fiquei maldisposta, com cólicas e lágrimas nos olhos, enquanto lhe contava aquilo que devia contar. Nesse dia cheguei a casa e chorei durante horas. Não jantei e dormi mal porque fiquei horas a pôr em causa se realmente tinha estofo para ser médica com doentes reais”.
Diana revelou que o mesmo lhe aconteceu já quando era médica e confessa: “pus novamente em causa a profissão e achei que não tinha forças. Mas depois lentamente e com o avançar do tempo, comecei a ver as coisas de outra perspectiva. O incrível de ser médico é podermos fazer o nosso melhor para prolongar a vida, com qualidade, sem sofrimento. Senti-me depois desafiada. Decidi nessa altura que queria ser cirurgiã, mas não uma qualquer”.
“É pelos doentes que comecei e irei continuar o meu percurso. Espero que com muita liberdade mas, acima de tudo, com responsabilidade”, finaliza.
Diana pediu a suspensão do internato na unidade depois de ter apresentado queixa na Polícia Judiciária sobre 11 alegados casos de erros ou negligência ocorridos naquele serviço, entre janeiro e março deste ano.
Colocação noutra unidade do centro hospitalar algarvio
Diz não ter vontade de continuar no serviço de Cirurgia do Hospital de Faro, admitindo vir a ser colocada noutra unidade de saúde do centro hospitalar algarvio. “Não tenho vontade de continuar em Faro, mas o centro hospitalar tem mais unidades e pode ser que, entretanto fique colocada numa delas”, sublinhou.