Nos últimos meses, várias publicações nas redes sociais têm alertado para os riscos de consumir determinados alimentos durante a quimioterapia, apontando que podem intensificar os efeitos secundários dos medicamentos. A dúvida ganhou dimensão: será que há, de facto, alimentos que devem ser totalmente evitados por quem está em tratamento oncológico?
De acordo com o portal de fact-check Polígrafo, uma das frutas mais frequentemente referidas nesses alertas é a toranja. O seu consumo, quer em estado natural quer em sumo, pode interferir com o modo como o organismo processa certos medicamentos utilizados em tratamentos contra o cancro.
O que acontece quando o corpo reage de forma diferente
Segundo a mesma fonte, a toranja atua sobre um sistema de enzimas que ajuda a metabolizar os fármacos, inibindo parcialmente a sua ação.
Ao fazê-lo, “os medicamentos não são degradados e atingem concentrações muito mais elevadas no organismo”, explicou Cláudia Caeiro, coordenadora do serviço de Oncologia do Hospital CUF Porto, em declarações ao site Viral, citadas pelo Polígrafo.
Essa acumulação pode aumentar o risco de toxicidade e provocar mais efeitos secundários, uma vez que o corpo fica exposto a doses mais altas do que as previstas. No entanto, a médica destaca que “não há um efeito secundário específico causado pela toranja”, porque tudo depende do medicamento em questão e da sua forma de metabolização.
Nem todos os medicamentos são afetados
Escreve a mesma publicação que a interação da toranja não se limita aos fármacos usados diretamente na quimioterapia. Alguns medicamentos de nova geração, como o Everolímus ou o Pazopanib, também podem ser afetados, tal como outros fármacos utilizados noutras áreas terapêuticas.
Um exemplo são as estatinas, prescritas para reduzir o colesterol, que podem ter uma atuação mais intensa quando ingeridas juntamente com sumo de toranja. Por outro lado, há casos em que o efeito é o contrário: a fruta pode reduzir a absorção de certos medicamentos no intestino, diminuindo a sua eficácia.
Quando a absorção é o problema
Refere a mesma fonte que algumas terapias mais antigas, como a Temozolomida e a Lomustina, devem ser tomadas com o estômago vazio precisamente para evitar esse tipo de interferência. Quando consumidas com toranja, a absorção pode ser inibida, o que impede o fármaco de atingir a concentração necessária no sangue.
Ainda assim, Cláudia Caeiro sublinha que esta recomendação não é universal. “A toranja só será contraindicada se estiver demonstrado que existe uma interação com aquele medicamento em específico”, explica a especialista.
Importância do aconselhamento médico
Conforme o Polígrafo, o alerta sobre esta fruta deve ser avaliado caso a caso. A médica salienta que cabe à equipa clínica informar o doente sempre que um determinado fármaco apresente risco de interação. “Diremos aos doentes que não devem consumir toranja durante o período do tratamento consoante o tipo de fármaco envolvido”, adianta.
Em conclusão, o consumo de toranja pode, em alguns casos, alterar o efeito de certos medicamentos oncológicos, mas não existe uma proibição geral. A compatibilidade depende sempre do tratamento e deve ser confirmada com o médico assistente.
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