O mundo despediu-se esta segunda-feira, 21 de abril, do Papa Francisco, que partiu aos 88 anos, após vários meses de luta contra uma pneumonia. A notícia abalou fiéis de todo o mundo, deixando um vazio profundo na liderança da Igreja Católica. Francisco será lembrado não apenas pelas suas reformas e mensagens de proximidade, mas também por gestos simples que marcaram a sua personalidade. Um desses momentos aconteceu durante a sua visita a Portugal, em agosto de 2023.
O Papa esteve cinco dias em Lisboa no âmbito das Jornadas Mundiais da Juventude, um dos eventos mais marcantes do seu pontificado. A visita contou com um programa preenchido por encontros com jovens e líderes religiosos. Algumas dessas audiências não estavam inicialmente previstas, revelando a sensibilidade e flexibilidade de Francisco. Ainda assim, o líder da Igreja conseguiu manter uma rotina discreta e sem luxos.
Refeições simples e sem desperdícios
Durante a estadia em Portugal, Francisco ficou alojado na Nunciatura Apostólica, onde optou por refeições simples. O staff do Vaticano era claro nos pedidos: nada de banquetes nem pratos elaborados. “O Papa come pouco e quer, a todo o custo, evitar desperdícios”, revelou à NiT uma fonte ligada à organização. A simplicidade dos seus hábitos alimentares surpreendeu quem esperava encontrar uma preferência por doces típicos portugueses.
Preferência por fruta e sumo de laranja
Em vez do habitual Pastel de Belém, Francisco optou por uma cesta de frutas frescas, onde nunca podiam faltar bananas e sumo de laranja. A entrega diária ficou a cargo dos supermercados El Corte Inglés, parceiros oficiais do evento.
A fruta era escolhida com critério, dando-se prioridade a produtos nacionais, como a maçã de Alcobaça, a pêra Rocha ou a laranja do Algarve. Também a banana da Madeira fazia sempre parte do conjunto.
Um hábito que vem das Filipinas
Não era a primeira vez que Francisco fazia este tipo de pedido. Já em 2015, durante a sua visita às Filipinas, foi organizada uma seleção semelhante na Nunciatura de Manila. Para além da fruta, as refeições incluíam carnes frias, queijos, compotas e iogurtes.
A preocupação com o equilíbrio alimentar foi uma constante ao longo da sua vida. Pequenos-almoços leves e nutritivos eram regra para o Papa argentino.
A marmelada nunca faltava
Um dos seus hábitos mais ‘curiosos’ era o gosto pela marmelada, que fazia questão de manter, mesmo no Vaticano. Segundo o testemunho de colaboradores, Francisco acordava por volta das 4:30h para rezar e meditar antes de tomar o pequeno-almoço. “Depois da missa, comia na sala de jantar da Casa de Santa Marta e havia sempre marmelada”, indicaram. Este gosto remonta à sua juventude na Argentina e acompanhou-o até aos últimos dias.
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Durante a viagem às Filipinas, a Nunciatura convidou a chef Jessie Sincioco para apoiar a equipa de cozinha local. Foi a chef quem teve a responsabilidade de preparar os jantares do Papa. “Tratava principalmente dos jantares, sempre saudáveis, equilibrados e sem grandes extravagâncias”, disse ao jornal The Philippine Inquirer. A experiência marcou a chef profundamente. “Ainda hoje me emociono por ter servido Sua Santidade”, assumiu na altura.
Segundo Jessie Sincioco, foram preparados quatro menus distintos ao longo da estadia. Um dos pratos servidos foi robalo chileno frito, mas o Papa acabou por não o terminar. “O caldo e os bolinhos devem tê-lo enchido muito rápido, porque não conseguiu acabar o prato. Acabou por comer só o risotto e os legumes grelhados”, contou. Ainda assim, houve um prato que o encantou. Falamos da manga flambeada com gelado mantecado.
A sobremesa preferida do Papa
Esta sobremesa filipina rapidamente se tornou uma das favoritas do Papa. No dia seguinte, a ementa incluiu frango grelhado com molho chimichurri, uma receita típica da Argentina, terra natal de Francisco. A chef quis surpreender com um toque emocional e acertou. O Papa não resistia a pratos que o faziam sentir-se em casa.
Bananas até à sobremesa
Como sobremesa, nesse mesmo dia, foi servida uma banana cue, uma espetada de banana frita com açúcar mascavado. Mais uma vez, a simplicidade dos sabores conquistou o Papa. O uso da banana, fruta que Francisco consumia com frequência, revelou-se uma aposta certeira. “Ele ficou visivelmente satisfeito”, recorda Sincioco. O gosto pelas coisas simples era, afinal, uma das suas maiores marcas.
No último dia nas Filipinas, o jantar foi mais elaborado, mas manteve-se o espírito de sobriedade. Foram servidos soufflé de chocolate, carbonara e rosbife. No menu figurava ainda um consommé de espargos, robalo grelhado com molho de tomate e alcachofras, e risotto de vegetais com arroz selvagem. Como sobremesa, um bolo de doce de leite, reminiscente dos sabores sul-americanos.
Um copo de vinho sempre presente
Outro detalhe ‘curioso’ é que Francisco nunca dispensava um copo de vinho à refeição. Em Portugal, essa exigência foi respeitada com vinho italiano, como era seu hábito. A única exceção aconteceu no voo de regresso a Roma, a bordo de um avião da TAP. O menu, preparado pelo chef Vítor Sobral, foi acompanhado por vinho português, escolhido especialmente para a ocasião.
Um legado de fé e simplicidade
O legado de Francisco será recordado em muitos aspetos, nomeadamente na fé, na compaixão, na humildade, mas também nos gestos pequenos que revelavam a sua humanidade. Como dizia o próprio, “a grandeza está nos detalhes mais simples”.
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