Ao longo dos séculos, as fronteiras serviram como marcos de poder, identidade e transformação política. Mais do que divisões geográficas, estas linhas traduzem histórias de alianças e confrontos entre povos. Foram definidas por guerras, tratados, negociações e até disputas culturais. Por isso, cada fronteira encerra uma narrativa própria sobre os países que separa.
A Raia: a mais longa fronteira da Europa
Segundo o Huffpost, a mais longa fronteira da Europa situa-se entre Espanha e Portugal, com uma extensão contínua de 1.234 quilómetros. Conhecida como A Raia, esta linha fixa começa na foz do rio Minho, na Guarda, e estende-se até à foz do Guadiana, em Ayamonte. Esta é também a mais antiga da União Europeia, com raízes que remontam ao século XII.
O primeiro marco histórico foi o Tratado de Zamora, celebrado em 1143, no qual o Reino de Leão reconheceu a independência de Portugal.
Posteriormente, o Tratado de Badajoz, assinado em 1267, definiu o rio Guadiana como fronteira sul. A configuração final da linha veio com o Tratado de Alcañices, em 1297, que selou a paz entre Portugal e Castela.
Mais do que uma separação territorial
A Raia desempenha um papel que ultrapassa a mera separação física entre dois países. Refere a mesma publicação que esta fronteira tornou-se ao longo do tempo um elo de ligação entre culturas vizinhas. Portugueses e espanhóis das zonas limítrofes partilham costumes, tradições e até expressões linguísticas que ultrapassam as barreiras oficiais.
Os territórios adjacentes desenvolveram uma convivência marcada pelo intercâmbio económico, social e cultural. A gastronomia da região é um reflexo disso mesmo, destacando-se pratos, como o bacalhau à portuguesa, o arroz à moda de Zamora ou as bochechas de porco ibéricas. Estas influências cruzadas fortalecem o sentido de identidade partilhada.
Testemunhos arquitetónicos da história comum
Ao longo de A Raia encontram-se múltiplas estruturas militares e religiosas que testemunham séculos de história. Entre elas destaca-se a catedral-fortaleza de Tui, construída entre 1120 e 1180 na região galega de Pontevedra, como símbolo de resistência e fé. A imponência da sua construção serviu de defesa contra possíveis invasões.
Do lado português, a fortaleza de Valença evidencia o estilo da arquitetura militar holandesa, com baluartes e fossos renovados nos séculos XVII e XVIII. Este tipo de construção reflete a constante vigilância que se mantinha na linha de fronteira, mesmo após tratados de paz entre os reinos vizinhos.
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Património natural transfronteiriço
A natureza também tem um papel preponderante nesta faixa fronteiriça. Rios, vales e montanhas formam um cenário partilhado que dilui, por vezes, a linha divisória. A biodiversidade das margens do Douro, Tejo e Guadiana mostra que o ambiente natural não obedece às delimitações humanas.
Entre os espaços protegidos da região destacam-se o Parque Natural das Arribas do Douro, em território espanhol, com o maior conjunto de desfiladeiros do país vizinho, e o Parque Natural do Tejo Internacional, em território português. Este último é notável pelo seu extenso complexo megalítico e riqueza ecológica.
Conservação ambiental além-fronteiras
Estes parques são exemplos da cooperação ambiental entre os dois países. A preservação conjunta de áreas protegidas promove não só o turismo sustentável, como também a investigação científica e o conhecimento mútuo. A criação de reservas da biosfera reforça a importância da colaboração ibérica.
Os acordos bilaterais garantem a monitorização dos ecossistemas partilhados e a implementação de políticas de proteção da fauna e flora. A existência de habitats comuns, como os ninhos de aves de rapina ou os sobreirais, exige uma atuação coordenada para preservar o equilíbrio ecológico da região.
Vínculos sociais e económicos entre vizinhos
As populações que vivem junto a A Raia mantêm relações sociais e económicas de longa data. Durante séculos, a fronteira não impediu o casamento entre habitantes dos dois lados nem a troca de bens e serviços. Refere ainda o Huffpost que o comércio local e os mercados transfronteiriços são elementos essenciais da economia regional.
Em várias localidades é comum encontrar eventos culturais organizados conjuntamente por municípios portugueses e espanhóis. Festas populares, feiras de produtos regionais e celebrações religiosas são momentos de encontro que reforçam os laços de vizinhança. Estas práticas continuam a desempenhar um papel integrador.
Uma fronteira com raízes profundas
A linha que separa Portugal e Espanha foi, ao longo da história, palco de batalhas, mas também de encontros e negociações. A sua definição firme desde o século XIII torna-a uma das mais estáveis do continente. Esta estabilidade foi essencial para o desenvolvimento pacífico das regiões fronteiriças.
A Raia representa, assim, um testemunho vivo da evolução das relações ibéricas. Mais do que dividir, esta fronteira uniu povos que aprenderam a coexistir e a partilhar recursos, tradições e paisagens. A sua longevidade reforça a importância da diplomacia e da cooperação entre vizinhos.
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