Nos últimos anos, a forma como as pessoas encaram o trabalho e as deslocações diárias tem vindo a mudar de forma significativa. Os elevados custos de habitação nos centros urbanos e o aumento do trabalho híbrido estão a impulsionar um novo fenómeno: o dos super-commuters, ou trabalhadores de longa distância. Estas são pessoas que percorrem grandes distâncias todos os dias para trabalhar, muitas vezes atravessando fronteiras regionais ou nacionais. Neste artigo, contamos-lhe a história de uma mulher que faz, todos os dias, 350 km de avião para o trabalho.
Para muitos, o percurso matinal resume-se a uma curta viagem de carro, de comboio ou até uma caminhada. No entanto, para outros, como Racheal Kaur, da Malásia, a realidade é bem diferente. Esta mãe de dois filhos acorda às 4 da manhã para apanhar um avião de Penang para o trabalho, em Kuala Lumpur, um trajeto de cerca de 353 quilómetros. Chega ao escritório às 7h45 e regressa a casa no mesmo dia para conseguir passar tempo com os filhos.
O porquê da escolha
A escolha de Kaur de ir de avião para o trabalho prende-se com a vontade de estar mais próxima da família. Embora trabalhe na capital, prefere viver em Penang, onde tem uma casa própria e um custo de vida mais acessível. Apesar da rotina extenuante, considera que compensa poder acompanhar os filhos diariamente, refere a ZAP Notícias.
Embora se possa pensar que um estilo de vida assim é insustentável, muitas pessoas vêem vantagens nesta opção. No caso de Kaur, os custos de viagem ainda são inferiores ao valor de um arrendamento em Kuala Lumpur. Surpreendentemente, a sua nova rotina custa menos do que arrendar uma casa. Anteriormente, gastava 474 dólares (cerca de 41.000 rupias) por mês, mas agora as suas despesas reduziram-se para 316 dólares (cerca de 27.000 rupias).
Um fenómeno a nível mundial
Em vários países, trabalhadores estão a escolher locais de residência mais distantes para beneficiar de uma melhor qualidade de vida, mesmo que isso implique deslocações longas.
O fenómeno dos super-commuters não é exclusivo da Malásia. Nos Estados Unidos, milhares de trabalhadores percorrem longas distâncias para chegar ao emprego, especialmente em cidades como Nova Iorque. Um estudo de 2012 do Centro Rudin para a Política e Gestão dos Transportes da Universidade de Nova Iorque revelou que, em Manhattan, cerca de 60 000 trabalhadores se enquadravam nesta categoria.
Na Europa, também há casos de trabalhadores que atravessam fronteiras diariamente. Em cidades como Genebra, na Suíça, é comum encontrar funcionários que vivem em França e fazem a viagem todos os dias para evitar os elevados custos de vida.
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A pandemia trouxe mudanças significativas nos hábitos de trabalho, tornando o trabalho remoto e híbrido mais comuns. Muitas empresas adotaram modelos mais flexíveis, permitindo que os trabalhadores reduzam a frequência das deslocações. Com isto, tornou-se possível viver ainda mais longe do local de trabalho, sem abdicar da estabilidade profissional.
Os desafios do estilo de vida
No entanto, este estilo de vida tem os seus desafios. As viagens diárias de longa distância exigem um planeamento rigoroso, desde a gestão de horários até à prevenção de atrasos inesperados. O cansaço acumulado e a falta de tempo para o lazer são outros fatores que podem tornar este regime insustentável a longo prazo.
Para quem escolhe este caminho, a chave está no equilíbrio entre benefícios e custos. Para muitos super-commuters, a oportunidade de manter um emprego bem remunerado numa grande cidade, enquanto se vive num local mais acessível e tranquilo, faz com que as viagens valham a pena.
Os avanços tecnológicos e a melhoria dos transportes também têm um papel importante na viabilidade desta tendência. Voos de curta distância mais acessíveis, ligações ferroviárias rápidas e teletrabalho parcial tornam esta rotina mais gerível do que seria há alguns anos.
O futuro desta prática
O futuro dos super-commuters dependerá da evolução do mercado de trabalho e das políticas das empresas. Se o trabalho remoto continuar a expandir-se, poderá haver uma redução na necessidade de deslocações diárias.
No entanto, enquanto os preços da habitação se mantiverem elevados nas grandes cidades, é provável que muitas pessoas continuem a optar por percursos longos para manter um melhor padrão de vida.
Conclusão
Embora este estilo de vida não seja para todos, para alguns, é a solução ideal para equilibrar carreira, família e qualidade de vida. No final, cada trabalhador de longa distância encontra a sua própria razão para enfrentar diariamente viagens que, para a maioria, pareceriam impossíveis.
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