Poucos alimentos, de memória recente, causaram tanto rebuliço global como o famoso chocolate do Dubai. Este doce, que se tornou viral nas redes sociais em 2023, combina pistácio, tahine e massa crocante de kataifi, conhecida como “cabelo de anjo”.
A receita foi criada por Sarah Hamouda, chocolatier britânico-egípcia radicada nos Emirados Árabes Unidos, como forma de satisfazer desejos de gravidez.
Desde que a influencer culinária Maria Vehera partilhou um vídeo a provar o chocolate, batizado de Can’t Get Knafeh Of It, a procura disparou, originando até filas de espera para encomendas na plataforma Deliveroo no Dubai e Abu Dhabi.
Contudo, o sucesso levou à proliferação de imitações fora do circuito oficial, e nem todas são inofensivas.
Imitações levantam preocupações de saúde
De acordo com uma investigação conduzida pelo Chemical and Veterinary Investigation Office (CVUA) em Stuttgart, Alemanha, citada pelo Daily Mail, várias amostras de imitações do chocolate do Dubai apresentaram substâncias nocivas à saúde.
Das oito amostras testadas, cinco dos Emirados Árabes Unidos e três da Turquia, seis continham níveis de 3-MCPD, um composto considerado potencialmente cancerígeno.
O 3-MCPD é formado durante o processamento de óleos vegetais, nomeadamente o óleo de palma, que foi encontrado em várias das amostras analisadas.
Este tipo de óleo é barato e comum em produtos alimentares industrializados, mas o seu consumo tem sido associado a riscos cardiovasculares e ambientais, devido ao desmatamento.
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Corantes e toxinas indetetáveis
Além do 3-MCPD, os especialistas encontraram ésteres glicídicos e aflatoxinas, toxinas produzidas por fungos como o Aspergillus flavus, frequentemente presentes em frutos secos mal armazenados.
Estas toxinas são invisíveis ao sabor ou cheiro e, por isso, difíceis de detetar no consumo direto.
Os recheios das amostras analisadas também apresentavam corantes como E140 e E141, utilizados para simular maior teor de pistácio.
Segundo a CVUA, cinco dos seis produtos com 3-MCPD acima dos níveis seguros provêm do mesmo fabricante nos Emirados Árabes Unidos.
Estes produtos foram classificados como impróprios para consumo. A instituição afirmou ainda que pretende continuar a testar mais produtos semelhantes disponíveis no mercado europeu.
O que diz a criadora do doce original
Sarah Hamouda, fundadora da Fix Dessert Chocolatier, explicou que o conceito original surgiu da vontade de criar uma nova sobremesa com ingredientes do Médio Oriente, como a massa kataifi, pistácio e tahine.
As versões imitadas que circulam à margem da sua confeitaria não têm qualquer relação com a produção original, que segue padrões de qualidade e higiene.
O caso levanta questões sobre segurança alimentar, rastreabilidade e autenticidade em tempos de viralidade digital.
Com a disseminação de receitas e produtos pelas redes sociais, os consumidores devem manter-se atentos e, sempre que possível, optar por comprar diretamente aos produtores credenciados.
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