PERGUNTAS INDISCRETAS E INCONVENIENTES
PILARETES. De tempos em tempos a passarela das nossas estradas é palco de modas passageiras para fazer frente ao flagelo do excesso de velocidade que não cessa de estontear a cabeça e pisar no pedal de muitos dos nossos automobilistas. Há quarenta anos inventaram as bandas sonoras. Depois vieram lombas que pareciam ondas da Nazaré, nas quais muita gente espatifou viaturas. Radares, criaram-se de todos os modelos e feitios. Recentemente, começaram a colocar-se uns quadriláteros de metal sobre o asfalto. Mas a última vaga, tão inútil como ridícula, é a dos pilaretes no meio e nos lados das vias de circulação. Inútil, porquê? Porque ao fim de pouco tempo já poucos restam em pé. Ridícula, porquê? Porque sobram por ali os restos mortais dos pilaretes, uns decepados, outros retorcidos, peças de museu a céu aberto, ilustrando desleixo e falta de civismo ao mesmo tempo.
As calçadas estão um nojo, cheiram mal, proliferam micro-organismos, potenciam doenças. Há crianças que por ali rastejam na sua inocência, perante a displicência dos pais
Colocam-nos no meio da estrada para quê? Para serem dizimados. Quanto custa esta inutilidade? As estradas são estreitas. Com a cumplicidade de quem passa atestados médicos de favor, há muita gente a conduzir com insuficiências de visão, sobretudo à noite. Mais os que conduzem alcoolizados ou alucinados por outra droga qualquer. E os pilaretes é que pagam, quando não, vidas que se perdem.
CABOS & FIOS LDA. Inicialmente era só a linha telefónica, depois os fios da electricidade. Agora, com a fibra óptica e a TV Cabo para consumo de quase toda a gente, parece uma sementeira terceiro-mundista. Não é um espectáculo bonito esta parafernália de cabos e de fios pendurados em postes de madeira, cruzando-se sobre as vias de comunicação, substituindo as antigas platibandas das fachadas das casas com emaranhados de cabos e de fios pretos, sem sombra de beleza. Vamos de retrocesso em retrocesso.
Porque não os colocam enterrados, como o mundo civilizado faz há já muitos anos? Porque não se obrigam os distribuidores de wi-fi a investir como deve ser? Se um dia acontecer uma catástrofe natural, um sismo como o de 1968, para não ir mais longe, vamos ficar todos enredados e electrocutados nas lianas desta selva. Já ninguém vê isto? Tornou-se parte da paisagem a que os nossos olhos já se habituaram? Normalizou-se, como soi dizer-se agora?
POLUIDORES MAIORES. Sendo um facto tão monstruoso como indesmentível que a lista de países mais poluidores do planeta, sem sinal ou intenção de abrandamento, é encabeçada pela China, acompanhada por outros destacados membros do clube como a Índia, a Rússia, o Irão ou a Arábia Saudita, não deixa de ser estranho que os chamados “activistas do clima” de trazer cá por casa não se lembrem de esguichar tinta nas paredes, ou colar-se às portas das embaixadas desses fazedores do mal. Claro que, no dia em que alargarem o seu activismo a essa nova frente de combate, preferirão certamente fazê-lo à frente das representações dos Estados Unidos da América, Japão, Alemanha ou Coreia do Sul, em coerência com a opção ideológica que se esconde atrás da sua moita, anti-democrática e anti-ocidental. No entretanto, preferem dar sinal de vida amplificado até à náusea por uma comunicação social sempre solícita para este género de teatros inconsequentes, chateando quem trabalha, ou pintalgando membros do governo de um país que ocupa um lugar cimeiro entre aqueles que no mundo mais tem progredido da energia fóssil para as energias renováveis, ou seja, Portugal.
CHI-CHI NA CALÇADA. Há mais de quatro milhões de cães e gatos oficialmente registados e portadores de microchip de identificação. O que significa que o número real de animais de estimação ou companhia é na verdade muito superior, aqui se incluindo também animais exóticos, coelhos e ratos até, que muitas pessoas gostam de manter nas suas casas. Existem seguramente muitas explicações no domínio da psicologia, da sociologia, para a erupção deste fenómeno, sobretudo nos centros urbanos.
Os animais são um elemento importante no equilíbrio na vivência humana, fazem parte das famílias. Os regulamentos dos prédios foram aliviando as restrições à posse destes companheiros, o quadro legislativo foi-se aperfeiçoando, existe um estatuto jurídico dos animais, com direitos, mas deveres também. Tal como as pessoas, os animais também têm necessidades fisiológicas. Urinar e defecar são duas delas. Daí, os passeios matinais ou nocturnos que os donos lhes propiciam. Sobretudo os cães, de gente descuidada, saem à rua, levantam a perna onde lhes apetece, onde calha, e lá vai xixi para a parede, a porta, o pneu, a jante, a planta, a árvore. As calçadas estão um nojo, cheiram mal, proliferam micro-organismos, potenciam doenças. Há crianças que por ali rastejam na sua inocência, perante a displicência dos pais.
A via pública pertence a todos, não é a sanita de ninguém, nem dos animais de estimação. Pergunta-se. Quantas autarquias se preocupam em criar espaços próprios para esta função? Pergunta-se. Quantas vezes por ano as autarquias promovem uma lavagem desinfectante sob pressão das calçadas? Pergunta-se. Porque não promovem aulas de cidadania, ou acções de formação para detentores de animais de companhia em economia doméstica?
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia