A primeira coisa que eu disse assim que entrei naquela sala onde estavam vereadores da C.M. Albufeira para falar sobre a manifestação de 8 de Fevereiro foi:
– Como se sente este executivo ao dar o seu aval ao grupo 1143, conhecido por ameaçar mulheres de violação, cujo líder é Mário Machado, famigerado neonazi e condenado por discurso ao ódio, para percorrer as ruas de Albufeira em defesa aberta da ideologia fascista?
Em politiquez justificaram a própria letargia com a ausência de poderes constitucionais para impedir a manifestação.

Autor, tradutor e editor
Em que medida é que fazer a saudação nazi nas ruas de Albufeira não é perturbar a ordem pública, é o que falta compreender
Este, o mesmo executivo que emite agora um decreto em que proíbe cidadãos de andar nas ruas em bikini ou calções de banho.
Há uma linha directa entre um e outro momento e o que está aqui em causa não são dois episódios isolados mas dois pesos e duas medidas e uma total falta de leitura da realidade.
A permissividade perante 300 pessoas a fazer saudações nazis e a gritar palavras de ordem salazaristas durante 2h em Albufeira e a mão pesada diante de todas as pessoas que se apresentarem na via pública em roupa de praia, são ambos produto de políticas, ou ausência delas, o que redunda no mesmo.
Mais uma vez se recorre ao uso da repressão para ocultar a raiz de um problema criado por este e pelos outros executivos anteriores, ao promover Albufeira como Mardi Gras de Portugal.
Depois de décadas a assobiar para o lado e precisamente em ano de eleições autárquicas e num cenário em que toda a direita faz sua a ideologia do Chega – quando não também a esquerda – eis a CMA a imbuir-se do mesmo tipo de falso moralismo para se antecipar ao discurso da extrema direita e promover a mesma aparência de decoro.
Os telhados ainda são de vidro mesmo que cobertos.
Que Albufeira, e sobretudo a Oura, são a montra do degredo de um certo turismo que sempre foi encorajado pela cidade, políticos e empresários, é sabido. Que a solução adoptada tem sido fazer cargas policiais indiscriminadas sobre cidadãos por “perturbar a ordem pública” ao estar totalmente embriagados numa zona onde se pode beber 12 shots por 10 euros, também é sabido.
Um caso típico do dealer a aconselhar o cliente a não se drogar.
Em que medida é que fazer a saudação nazi nas ruas de Albufeira não é perturbar a ordem pública, é o que falta compreender. E se um comportamento fere a democracia, porque é que o outro parece ser totalmente aceite por ela?
Isso levar-nos-ia a um debate sobre o que é a democracia. E nisso, pouca gente está interessada.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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