Um simples pedido no talho acabou por se transformar num caso viral em Espanha e reacender um debate antigo: afinal, deve pesar antes ou depois de picar a carne? A dúvida, aparentemente inofensiva, revelou-se suficiente para dividir consumidores e profissionais do setor.
O episódio foi partilhado pelo conhecido utilizador de TikTok @el_as_carnicero, que tem ganho popularidade por mostrar o dia a dia dos talhantes e esclarecer mitos sobre o setor. Segundo o próprio, uma cliente pediu que a carne fosse pesada depois de picada, mas o talhante recusou o pedido e respondeu de forma brusca, dizendo-lhe que, se não gostasse, podia comprar noutro sítio.
O caso tornou-se viral, acumulando milhares de visualizações e centenas de comentários de consumidores que partilharam experiências semelhantes.
Há base legal em Portugal para pesar a carne depois de picada?
Em Portugal não encontrei uma norma específica que exija que a carne picada seja pesada após o processo de picagem como regra obrigatória ao consumidor. A legislação aplicável regula sobretudo as condições higiénicas, técnicas e de rotulagem dos estabelecimentos que manipulam carne.
Por exemplo, o Decreto-Lei n.º 147/2006, de 31 de julho, define o regime das condições higiénicas e técnicas na distribuição e venda de carnes e produtos de carne e impõe obrigações de pesagem, registo e identificação nos locais de venda.
Ainda, o Decreto-Lei n.º 207/2008, que reformula partes desse regulamento, mantém estas exigências enquanto estabelece procedimentos técnicos para preparação e venda de carne picada.
Em resumo: a legislação portuguesa exige que a venda de carne (incluindo a picada) cumpra regras de higiene, rotulagem e pesagem registrável, mas não especifica que a pesagem deva ser feita depois da picagem para garantir justiça ao consumidor.
Afinal, qual é o momento certo para pesar?
De acordo com o tiktoker, que cita a sua experiência profissional, não existe qualquer impedimento legal para pesar a carne depois de picada. E, na verdade, esse pode ser o método mais justo para o cliente. Durante o processo de picar, parte da carne fica presa na máquina: uma perda que, em alguns casos, chega a várias dezenas de gramas.
Nos seus vídeos, o talhante demonstrou a diferença: um pedaço de carne com 305 gramas pesava apenas 225 gramas depois de passar pela máquina. “Perdem-se cerca de 80 gramas na primeira passagem”, explicou, alertando para o facto de que muitos consumidores estão a pagar mais do que levam para casa.
Consumidores denunciam diferenças de peso
Segundo relatos partilhados em redes sociais e recolhidos por meios espanhóis, vários consumidores dizem já ter notado discrepâncias. Um deles contou que pediu 500 gramas de carne picada e, ao chegar a casa, pesou apenas 352 gramas. Outros confirmam perdas semelhantes e afirmam que vão começar a exigir a pesagem final no talho.
A polémica rapidamente se espalhou e levou muitos profissionais a pronunciar-se. Uns defendem que o peso deve ser registado antes de picar, seguindo o costume tradicional, enquanto outros reconhecem que o método mais transparente seria pesar depois, garantindo que o cliente paga exatamente pelo que leva.
Uma questão de transparência
O próprio @el_as_carnicero insiste que o essencial é a honestidade. “Se trabalhas de forma legal, não há problema nenhum em pesar a carne depois de picada”, disse no vídeo. Para ele, trata-se de uma questão de respeito pelo consumidor, mais do que de lucro.
Nos comentários, milhares de utilizadores apoiaram a cliente e admitiram que nunca tinham pensado na diferença de peso. Outros, mais céticos, argumentam que a variação é mínima e que o importante é a qualidade do produto.
Verdade ou exagero, a discussão voltou a lembrar que até nos gestos mais banais, como comprar carne picada, pode haver detalhes que escapam à maioria. E, como mostra este caso, cada grama pode mesmo fazer diferença.
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