Para a maioria dos portugueses, o Multibanco faz parte da rotina diária. Levantar dinheiro, pagar serviços ou consultar saldos são gestos automáticos. Contudo, ações aparentemente inofensivas têm vindo a ganhar novos riscos, fruto do aumento de esquemas de fraude associados às caixas automáticas.
Nos últimos meses, as autoridades têm identificado vários casos de equipamentos ilegais instalados em terminais Multibanco, concebidos para recolher dados dos cartões sem que o utilizador se aperceba. Estas situações ocorrem com maior frequência em máquinas situadas em locais pouco movimentados ou com fraca vigilância, facilitando a atuação dos burlões.
Fraudes cada vez mais sofisticadas
De acordo com a Polícia Judiciária, os métodos tradicionais de clonagem, que envolviam a colocação de leitores falsos visíveis na ranhura do cartão, estão a ser progressivamente substituídos por técnicas mais difíceis de detetar. Uma das mais recentes é o shimming, que recorre a dispositivos extremamente finos introduzidos no interior da ranhura para copiar os dados do chip.
A estas práticas junta-se ainda o chamado phishing físico, que cruza informações obtidas online com dados recolhidos nos terminais, aumentando a probabilidade de sucesso das burlas. A PJ alerta para a complexidade crescente destes esquemas e para a dificuldade em identificar os dispositivos a olho nu.
Em 2025, foi desmantelada uma rede criminosa responsável por prejuízos superiores a 450 mil euros, envolvendo clonagem de cartões e branqueamento de capitais. Paralelamente, a Associação Portuguesa de Bancos lançou a campanha “Não passes cartão à fraude”, chamando a atenção para a evolução constante das técnicas utilizadas, mesmo em equipamentos que aparentam estar em perfeito estado.
Onde se registam mais ocorrências
As áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto continuam a concentrar um elevado número de alertas, resultado da grande afluência de utilizadores e da vasta rede de terminais disponíveis. O movimento constante dificulta a deteção imediata de alterações nos equipamentos.
No Algarve, sobretudo durante os períodos de maior procura turística, têm sido registadas várias situações semelhantes. Também no Alentejo e no Norte do país surgem casos pontuais, levando a PJ a reforçar a vigilância em localidades como Beja, Serpa e Viana do Castelo. Estes episódios demonstram que o risco não está limitado aos grandes centros urbanos.
Como atuam os burlões
Os esquemas mais comuns recorrem a dois tipos de dispositivos: skimmers e shimmers. Os primeiros capturam os dados da banda magnética, enquanto os segundos acedem às informações do chip de forma mais discreta. Frequentemente, estes mecanismos são complementados por microcâmaras ocultas ou teclados falsos, destinados a registar o código PIN introduzido pelo utilizador.
Em alguns casos, os terminais apresentam pequenas alterações quase impercetíveis, como sobreposições no teclado ou aberturas disfarçadas, tornando o esquema difícil de identificar à primeira utilização.
Sinais de alerta antes de usar um terminal
Antes de inserir o cartão, é aconselhável observar atentamente a caixa Multibanco. Ranhuras soltas ou desalinhadas, teclados instáveis, vestígios de cola, orifícios estranhos ou resistência anormal ao introduzir o cartão podem indicar manipulação do equipamento.
Perante qualquer suspeita, a recomendação passa por não utilizar o terminal e procurar outro, preferencialmente no interior de uma agência bancária ou num local com vigilância permanente.
Medidas simples para reduzir o risco
A PJ aconselha a utilização de caixas Multibanco situadas em espaços vigiados e desaconselha o recurso a máquinas isoladas, sobretudo durante a noite. Tapar o teclado ao introduzir o PIN, consultar regularmente os movimentos da conta e ativar alertas de transações são cuidados essenciais.
Evitar levantamentos de grandes quantias em locais públicos e agir rapidamente em caso de suspeita também faz a diferença. Sempre que haja indícios de fraude, o utilizador deve contactar de imediato o banco para bloquear o cartão e apresentar queixa às autoridades.
Gestos simples de prevenção continuam a ser a melhor forma de garantir que o uso do Multibanco permanece seguro e livre de surpresas desagradáveis.















