Os técnicos de emergência pré-hospitalar insistiram esta terça-feira na necessidade de rever os fluxos de triagem dos doentes transportados pelo INEM para as urgências dos hospitais e reconhecem maior dificuldade na passagem do doente devido à elevada afluência.
Em declarações à Lusa a propósito das dificuldades sentidas nas urgências do Hospital Beatriz Ângelo (Loures) na segunda-feira, que segundo a Sic obrigaram a transferir para o Hospital de Santa Maria os doentes que chegam de ambulância, o presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), Rui Lázaro, voltou a lembrar que “muitos dos doentes que o INEM transporte não são efetivamente urgentes”.
“Na última vaga da pandemia, com as filas de ambulâncias à porta do Hospital de Santa Maria, um administrador hospitalar veio dizer que mais de 80% dos doentes transportados pelo INEM não eram urgentes e não deviam estar no hospital”, lembra Rui Lázaro.
Na altura, acrescentou, o sindicato alertou para a necessidade “de rever, com a máxima urgência, os fluxos de triagem do INEM e promover as decisões necessárias para que os doentes não urgentes tivessem outro tipo de resposta e não fossem encaminhados pelas ambulâncias, do INEM ou dos parceiros [bombeiros ou Cruz Vermelha], para as urgências hospitalares”.
Nessa altura, o INEM criou um sistema de retriagem dos doentes, acabando por enviar os não urgentes para os cuidados de saúde primários ou para casa.
“Foi o INEM a fazer à porta de um hospital aquilo que não faz e não assume a responsabilidade de fazer quando as equipas de emergência médica estão em casa das pessoas ou no local dos incidentes”, afirmou Rui Lázaro.
O responsável diz que tem recebido denuncias e relatos de “elevada afluência de doentes aos serviços de urgência”, o que tem causado transtorno na passagem de doentes encaminhados pelas ambulâncias dos serviços do INEM.
“A elevada afluência de doentes, por si só, causa rotura nas urgências e são cada vez mais os casos em que isso vem a público. Isto traz, além do atraso na resposta a estes doentes, atrasos a outras pessoas que podem precisar dos meios de socorro por estarem efetivamente urgentes e acabam por ter uma resposta mais demorada”, explica.
Rui Lázaro adianta que o aumento da afluência às urgências já era esperado com o abrandar da pandemia, pois as pessoas “perderam o medo que tinham” de ir a estes serviços, e reconhece que, em muitos casos, é por falta de resposta nos cuidados de saúde primários.
“Temos relatos diários, por exemplo, na margem sul, de elevados tempos de resposta e de atraso no socorro porque as ambulâncias andam a transportar situações que não são urgentes e que deveriam ter outra resposta, que não uma urgência hospitalar”, afirmou.
O responsável acrescenta: “Se, por um lado, se pode compreender que as pessoas, por desconhecimento ou pouca informação, possam precisar de ligar para a Linha Saude24 ou para o 112 (…), o que não se pode compreender, nem se pode aceitar, é que, depois de deslocada uma equipa de emergência médica ao local da ocorrência, depois de feita uma avaliação clínica do doente e passada a informação para os CODU, os médicos reguladores não decidam que nos casos não urgentes não devem ser transportados para o hospital”.
“Se é o grande objetivo é (…) ter uma baixa taxa de reclamações, isso só se consegue transportando todos os doentes para cuidados hospitalares, quer sejam urgentes ou não urgentes, mas depois traz as consequências que estamos agora a ver”, acrescentou.
Rui Lázaro lembra ainda que os doentes transportados pelas ambulâncias do INEM ou dos parceiros — bombeiros e Cruz Vermelha -, desde que encaminhados pelo INEM, não pagam taxas moderadoras.
“Não pagando taxas moderadoras têm mais um incentivo para usar abusivamente o serviço de emergência ou o transporte de ambulância para uma unidade hospitalar”, considera.
Questionado sobre a percentagem de doentes não urgentes que acaba transportado pelo INEM para as urgências dos hospitais, Rui Lázaro remete para um estudo divulgado no congresso de emergência hospitalar, organizado pelo INEM, e que aponta para os 70%.
“É um número elevadíssimo e é um desperdício de recursos, com atrasos efetivos no socorro a quem, de facto, precisa de um meio de emergência”, acrescentou.