Sete em cada 10 portugueses inquiridos num estudo consideram insuficiente o investimento feito pelo Estado na saúde e quase 80% apontam a falta de profissionais e os tempos de espera como os principais problemas do Serviço Nacional de Saúde.
As conclusões do estudo “O que pensam, sentem e querem os portugueses para o futuro da Saúde”, realizado pela GFK Metris para o Movimento Saúde em Dia, constituído pela Ordem dos Médicos (OM), pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e pela Roche, são apresentadas hoje numa iniciativa pública na OM, em Lisboa.
Outras das conclusões do estudo, que decorreu entre 20 de setembro e 6 de outubro deste ano e envolveu 1000 entrevistas a adultos em Portugal, com uma amostra representativa da população, aponta que 56% dos participantes avaliam o SNS como “muito bom” e “bom”, 36% não o considera, “nem bom, nem mau”, enquanto 7% o classificam como “mau” ou “muito mau”.
Apesar da avaliação positiva do SNS, os portugueses apontam como principais problemas a falta de profissionais de saúde (37%) e os elevados tempos de espera para a marcação de atos médicos ou de saúde (42%).
Em declarações à agência Lusa, o bastonário da OM, Miguel Guimarães salientou a importância deste estudo por ter ouvido os portugueses sobre o que querem para a Saúde.
“As pessoas querem mais dinheiro para a saúde, querem ter um acesso mais fácil à saúde” e que esta possa dar “uma resposta mais adequada” às suas necessidades, afirmou.
Como “aspeto particularmente importante, até porque contraria o que o Governo tem feito”, Miguel Guimarães destacou o facto de os inquiridos defenderem a contratação de mais profissionais, nomeadamente médicos, como a prioridade do financiamento na saúde.
Realçou também o facto de 90% dos inquiridos serem favoráveis à criação de parcerias entre o Serviço Nacional de Saúde e os privados ou o setor social para o encaminhamento de doentes nos casos em que o SNS não tem capacidade de resposta em tempo útil.
Por outro lado, destacou, os portugueses “valorizam bastante” ter médico de família pela “relação continuada e a proximidade”, embora apresentem “alguma queixa” relativamente aos tempos de espera para marcar consulta e a dificuldade em contactar o centro de saúde, o que também está relacionado com a pandemia.
Sobre o impacto da pandemia nos serviços de saúde, 35% dos inquiridos entendem que a sobrecarga nos serviços vai prolongar-se por 2022, cerca de 25% dizem que deve durar até final deste ano e há 15% que antecipa que durante o outono a situação deve estar normalizada.
A disponibilidade dos portugueses em contribuir com “algum dinheiro extra para o SNS” também foi salientada pelo bastonário, indicando que um terço estava disponível para contribuir com mais 5 euros por mês e um quinto com 20 euros.
“Isto significa que uma parte significativa dos portugueses quer que o SNS fique mais robusto e com mais capacidade de resposta, o que reflete a importância que os portugueses dão ao SNS e à sua própria saúde”, salientou.
Segundo o estudo, 71% dos inquiridos consideram que o valor atribuído à Saúde é insuficiente, 28% considera justo e 1% excessivo.
Quase metade não consegue apresentar sugestões de áreas às quais deveria ser retirado financiamento a encaminhar para a Saúde. Entre os restantes, a Presidência (26%) e a Administração Pública 19% são as áreas mais referidas
Como medidas para melhorar o SNS, apontam três áreas: contratação de mais médicos e profissionais de saúde, diminuição dos tempos de espera para consultas e um acesso mais fácil a exames ou consultas de especialidade.
“Os portugueses querem mais profissionais porque já perceberam que há falta de profissionais”, disse, sustentando: “Faltam milhares de médicos e enfermeiros, as necessidades em saúde aumentaram, a oferta do Serviço Nacional de Saúde foi aumentando e, portanto, ter mais meia dúzia de médicos e enfermeiros não resolve nada, é preciso haver um maior investimento no capital humano para diminuir os tempos de espera”, defendeu.
As pessoas estão mesmo preocupadas com a saúde e colocam-na em primeiro lugar: “Era bom que o Governo tivesse esta perceção e os próprios partidos políticos”, rematou.