Vão sentar-se na bancada do PS, Iniciativa Liberal, PSD e Chega. Querem trazer para a ordem do dia as dores da sua geração e, acima de tudo, “mostrar aos mais jovens que podem ser felizes e realizar-se também aqui”. Emancipação, melhores salários, habitação acessível e saúde mental são as principais bandeiras que unem os deputados sub-30.
No total, são oito jovens. Metade senta-se na bancada do PS: é o caso de Miguel Costa Matos, Joana Sá Pereira, Eduardo Alves e Miguel Rodrigues. Outros dois são do Iniciativa Liberal — Patrícia Gilvaz e Bernardo Blanco — e os últimos dois são do PSD (Alexandre Poço) e do Chega (Rita Matias).
São menos dois do que nas legislativas anteriores, e é preciso recuar até às eleições de 2009 para encontrar um número tão baixo de deputados com menos de 30 anos. Os resultados analisados pelo Expresso das legislativas desde 1999 — os últimos dados disponíveis no site do Ministério da Administração Interna — mostram que a tendência nos últimos anos é de uma diminuição do número de deputados jovens. O pico foi atingido em 2011: 15 deputados com menos de 30 anos eleitos. Desde então, o número tem caído gradualmente.
Até agora, o partido que elegeu mais jovens foi o PSD: no total, 26 deputados desde as legislativas de 1999, seguindo-se o PS, com 20. O Bloco de Esquerda e a CDU, que nestas eleições não conseguiram colocar nenhum jovem no hemiciclo, já elegeram 13 e oito deputados sub-30, respetivamente. À direita, o CDS-PP conseguiu três. E agora o Iniciativa Liberal consegue estrear-se com dois e o Chega com uma deputada.
Quem são e o que querem os deputados sub-30?
Rita Matias, 23 anos, Chega
A única deputada e jovem do Chega é estreante no Parlamento. Tem 23 anos, é licenciada em Ciência Política pelo ISCTE – IUL e é natural do Seixal, em Lisboa, círculo onde foi eleita. O seu percurso político começou na Juventude Popular, mas foi uma passagem “curta”. Acabou por trocar o CDS-PP pelo Chega devido “à falta de realismo e pragmatismo para abordar as necessidades dos portugueses comuns”. Nesta legislatura, a deputada quer “trazer para a ordem do dia as dores da sua geração”. Isso inclui lutar por uma educação livre de enviesamentos ideológicos, combater o recurso abusivo a estágios (com medidas de apoio às empresas), olhar para os problemas da habitação jovem, não esquecendo também as mulheres e as crianças: “Queremos defender a família como célula base e pilar fundamental da nossa sociedade”, diz Matias.
Patrícia Gilvaz, 24 anos, Iniciativa Liberal
Patrícia Gilvaz é outra estreia em São Bento. Natural de Perafita, Matosinhos, o seu interesse pela política despertou quando foi presidente e tesoureira da Associação de Estudantes da sua escola. Descobriu que “era liberal e não sabia” quando a IL se apresentou às eleições europeias de 2019, tornando-se membro por se rever “integralmente” no partido. A deputada de 24 anos é licenciada em Direito pela FDUP e foi eleita pelo círculo do Porto. Agora quer mostrar que não são os jovens que estão afastados da política, é a política que “não tem tido a capacidade de se adaptar aos novos desafios”. Quer diminuir a taxa de desemprego e a emigração jovem, criar condições para as novas gerações “subirem no elevador social”, e inverter a tendência dos últimos anos: “os jovens portugueses saem cada vez mais tarde de casa dos pais”. Por último, mas não menos importante, Gilvaz não vai deixar de se “focar persistentemente na saúde mental”.
Bernardo Blanco, 26 anos, Iniciativa Liberal
Quem também se vai sentar pela primeira vez na bancada da Iniciativa Liberal é Bernardo Blanco. Natural de Torres Vedras, o jovem de 26 anos “recusou convites para ingressar na Juventude Social-Democrata e na Juventude Popular”: “Não me revia em nenhum dos partidos”. Juntou-se à IL quando era ainda uma organização e esteve sempre ligado à comunicação do partido. Foi assessor do gabinete parlamentar durante a última legislatura, e nesta quer “continuar a difundir as ideias liberais” e “fazer a oposição absoluta que um governo de maioria absoluta exige”. Para as novas gerações, as duas grandes prioridades do deputado são “a subida imediata do salário líquido com a descida imediata do IRS” e “a introdução na agenda pública de políticas liberais relativas à proteção do ambiente e ao uso de energia”. É licenciado em Gestão pela CLSBE e foi eleito pelo círculo de Lisboa.
Miguel Costa Matos, 27 anos, PS
Miguel Costa Matos, 27 anos, estreou-se no Parlamento na última legislatura e conta já com um percurso experimentado na política. Aos 14 anos, escolheu a Juventude Socialista depois de analisar todos os programas partidários. Entre 2016 e 2019 foi conselheiro económico adjunto de António Costa, e é líder da JS desde 2020. Neste mandato, ambiciona combater o desemprego jovem, aumentar os salários e fazer com que as horas extraordinárias sejam de facto remuneradas: “a nossa geração trabalha horas sem fim, é um dos motivos pelos quais atrasamos a decisão de ter filhos”. A habitação é também uma prioridade, tal como o clima e a legalização da canábis. Foi eleito pelo círculo de Lisboa e quer ainda “reforçar a aposta na saúde mental”. É licenciado em Filosofia, Política e Economia pela Universidade de Warwick, no Reino Unido, e tem um mestrado em Economia na Universidade Nova de Lisboa.
Miguel Rodrigues, 27 anos, PS
Miguel Rodrigues vai pela primeira vez para a bancada do PS. Natural de Matosinhos, tem 27 anos e começou na política ainda na escola. Era representante dos alunos do conselho geral da associação de estudantes e, na altura, tentou resolver dois grandes problemas: criar uma bolsa de estágios para o ensino profissional junto do presidente da câmara e retomar as obras, interrompidas pelo Parque Escolar. Já neste último ano, Miguel Rodrigues foi técnico especialista no gabinete do Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor. É licenciado em Engenharia e Gestão Industrial pela Universidade de Aveiro e tem um mestrado em Business Economics pela Universidade Católica. “Sendo estreante na AR, mais do que receoso, estou entusiasmado e honrado”, diz. Quer lutar por avanços concretos para os mais novos, nomeadamente a emancipação por via da regularização de contratos e, sobretudo, da habitação. Tal como Costa Matos, defende o pagamento das horas extra: “vai ser dramático na nossa geração, temos de ter uma conversa séria sobre o tema.”
Joana Sá Pereira, 28 anos, PS
O PS “foi quase um amor à primeira vista” para Joana Sá Pereira. Desde muito nova percebeu que era “o partido mais estruturante da democracia portuguesa”, e os anos difíceis da troika foram o mote para sair do sofá e arregaçar as mangas. A jovem de 28 anos vai cumprir o segundo mandato como deputada da AR com uma “responsabilidade acrescida” por causa da maioria absoluta dada pelos portugueses ao partido socialista. Nos próximos quatro anos, quer intensificar a emancipação para “mostrar aos mais jovens que podem ser felizes e realizar-se também aqui”. Isso implica habitação a custos acessíveis, salários dignos, combate ao corporativismo e aos entraves injustificados colocados por algumas ordens profissionais, por exemplo. Sá Pereira nasceu em Felgueiras, no Porto, por “acidente de percurso”, mas as suas raízes são a Mealhada, em Aveiro. É licenciada em Direito e mestre em Ciências Jurídico-Forenses pela pela FDUL.
Eduardo Alves, 28 anos, PS
É a segunda estreia na bancada socialista. Eduardo Alves vai sentar-se pela primeira vez no Parlamento, mas já trabalhou lá: foi assessor do grupo parlamentar do PS entre 2018 e 2020. Depois fez a transição para Ponte de Sor, em Portalegre, de onde é natural e onde desempenhou funções na autarquia. Agora abraçou este desafio e está entusiasmado.” Com 28 anos, é licenciado em Direito pela FDUL e já está inscrito na Juventude Socialista desde os 14. Sente “uma grande responsabilidade” em representar os votos do Alto Alentejo e quer falar para todos – não só para os jovens. “As minhas grandes ambições são de conseguir nas mais variadas áreas, desde ambiente, habitação, saúde, uma intervenção enérgica e que possa defender as pessoas que votaram em mim”.
Alexandre Poço, 29 anos, PSD
O oitavo e último deputado sub-30 a ser eleito nestas legislativas é Alexandre Poço. Com 29 anos, já está no Parlamento desde 2019 e há quase dois anos é presidente da Juventude Social-Democrata. Porquê? “Porque teria sempre de ser militante num partido que conciliasse dois valores essenciais: liberdade e igualdade de oportunidades”. Além do “longo percurso” na Juventude, já foi candidato em duas eleições autárquicas. Nesta nova legislatura, sente uma responsabilidade acrescida porque na anterior não era ainda presidente da JSD. Quer uma “fiscalização firme e assertiva” à maioria absoluta do PS e vai lutar para que Portugal deixe de ser “um cais de despedidas de talento” e um país onde os jovens “dificilmente têm a oportunidade de fazer o seu projeto de vida com qualidade”. Natural de Oeiras, em Lisboa, é licenciado em Comunicação pela Nova FCSH e tem um mestrado em Gestão pela Nova SBE.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL