Foi um debate de ideias, nenhuma dúvida, ideias diferentes e pouco compatíveis. Mas o debate que Costa tinha tudo para vencer acabou com uma vitória por (poucos) pontos. Veja em baixo
Eunice Lourenço
António Costa 6 – Francisco Rodrigues dos Santos 7
Seja por ter aprendido com os primeiros debates ou por um respeito à hierarquia determinado pela sua formação militar, Francisco Rodrigues dos Santos moderou e bem a agressividade e aquele olhar esgazeado que usou contra o PAN e a IL. Como já tinha feito no debate com Rui Rio, conseguiu ser assertivo, defender as suas ideias sobretudo no que diz respeito a saúde, educação e apoio às famílias.
António Costa defendeu bem, do ponto de vista ideológico, a aposta na escola pública e no serviço nacional de saúde. Usou demasiadas vezes um ar condescendente com o líder do CDS, mas não conseguiu evitar o sorriso com o remate de Francisco Rodrigues dos Santos que, citando Reagan, disse que o socialismo é um sistema que só funciona no Céu, onde não é preciso, e no Inferno, onde já existe.
Martim Silva
António Costa 7 – Francisco Rodrigues dos Santos 7
O primeiro debate deste domingo foi uma conversa interessante entre dois líderes que não estão a disputar o mesmo eleitorado. Em cima da mesa, temas estruturais como a Saúde, a Educação e a política fiscal.
António Costa, primeiro-ministro há mais de seis anos, e político experimentado de décadas, é uma rocha difícil de derrubar num debate (aliás, parecia estar já a ensaiar o confronto decisivo com Rio, na quinta-feira). Mostra-se sempre sólido e mesmo quando enfrenta temas em que tem mais dificuldade em argumentar, esquiva-se de forma hábil: disse que gato escaldado de água tem medo para não voltar a comprometer-se com uma data em que todos os portugueses terão médico de família; E disse que a carga fiscal atual só é a maior de sempre por via das contribuições para a segurança social (conseguida pelo aumento do emprego e do rendimento das famílias).
Rodrigues dos Santos, pelo seu lado, tem vindo claramente a melhorar de debate para debate. Deixou o estilo quase histérico dos primeiros frente a frente e hoje com Costa, tal como antes com Rio, assumiu uma pose mais séria e ponderada, sem deixar de ser acutilante. Tentou puxar pela liberdade de escolha na saúde e educação e prometeu um choque fiscal nos impostos, priorizando o IRC.
Vítor Matos
António Costa 6 – Francisco Rodrigues dos Santos 5
Os debates estão a melhorar. Já se fala dos «temas» e este foi mais informativo do que um grande combate. António Costa entrou a perder, ao assumir que, em seis anos, não conseguiu cumprir a promessa de um médico de família para cada português. Francisco Rodrigues dos Santos voltou à carga com aquilo que o CDS sempre propôs, de contratualizar com os privados o que o Estado não consegue fazer. Se começou com vantagem nestes temas, perdeu em todos os outros. Primeiro, quando Clara de Sousa o questionou sobre fiscalidade, preferiu fugir para os costumes e para o combate cultural, para a disciplina de Cidadania não ser obrigatória. Perante um conservador que não quer que nas escolas se fale das novas famílias e de sexualidade numa disciplina obrigatória – falou em questões técnicas e científicas, o que quis ele dizer com aquilo? -, Costa respondeu com a realidade e com a igualdade que está na Constituição: há novas famílias há 12 anos e é bom que os jovens sejam educados para não as discriminarem. Na fiscalidade, o líder do CDS prometeu várias descidas de impostos (nunca disse onde ia buscar a perda de receita), do IRC ao IMI, ao IRS, mas o primeiro-ministro fez valer a experiência e matou a ideia da descida de escalão das famílias ao segundo filho: enquanto os mais ricos descem de escalão, os mais pobres não têm para onde descer. Chicão gosta de citações e foi buscar Reagan, mas na dita frase sobre o paraíso e o inferno socialista, o ex-presidente dos EUA estava a falar dos países comunistas, é só um detalhe… Francisco Rodrigues dos Santos, talvez no esforço de ter um tom aceitável, falhou no teste de mostrar que seria um líder da oposição mais matador que Portas ou Cristas.
João Silvestre
António Costa 7 – Francisco Rodrigues dos Santos 6
Foi um debate com conteúdo ideológico – no SNS ou na educação – onde António Costa aproveitou para vincar diferenças em relação a direita: ao CDS, em primeiro lugar que era o interlocutor, mas também ao PSD que foi igualmente visado. Francisco Rodrigues dos Santos esteve bem nos temas da saúde, defendendo alternativas mais ágeis para lidar com os atrasos e as listas de espera. Não tão bem ao meter, de forma algo forçada, o caso de Famalicão no meio da discussão sobre a escola pública. Deu a deixa a Costa para piscar o olho aos eleitores mais à esquerda. António Costa, uma vez mais, não pedalou muito nem precisou para vencer um debate em que Rodrigues dos Santos precisava de justificar o voto no CDS e não no PSD, na Iniciativa Liberal ou no Chega. E isso não foi muito conseguido.
David Dinis
António Costa 6 – Francisco Rodrigues dos Santos 5
O respeitinho é muito bonito, assim como é bonito ver Francisco Rodrigues dos Santos a debater com calma e procurando argumentos. Assim foi: rebateu o modelo de Saúde, também no modelo de educação, dois temas onde António Costa tem o peso de seis anos com muitos problemas em cima. Pior, bastante pior, foi a sua entrada na “polémica” da disciplina de Cidadania, que entende como de doutrinação ideológica – permitindo a Costa dar uma lição de liberdade (o que é que “não tem evidência científica, dr Chicão? A homossexualidade? O que é que não se deve ensinar? A tolerância?). Depois, Rodrigues dos Santos foi aos impostos, recorrendo curiosamente a propostas que o seu dissidente grupo parlamentar apresentou, assim como ao seu programa eleitoral. Sem surpresa, foi nas segundas (reduzir escalão de IRS a partir do segundo filho) que revelou maior fragilidade. Às vezes, inventar propostas não é o melhor caminho.