Ambos querem governar, ambos estão disponíveis para conversar com outros para garantir estabilidade. Rio foi, como tem sido, mais claro no que fará quer ganhe ou perca eleições, Costa admitiu governar com negociação “diploma a diploma” como nos tempos dos governo de António Guterres, mas também assumiu ter uma preferência peloPAN. E não fechou portas, antes abriu janelas a PSD e CDS.
“Não conhecemos a aritmética. Desde que não perca as eleições, cá estou para encontrar soluções de Governo”, assumiu António Costa, no debate com Rui Rio, esta quinta-feira organizado pelas três televisões generalistas. O líder socialista que não chegou a ser questionado até onde está disposto a ir com PSD e CDS para encontrar essas soluções. Mas, ao admitir governar à Guterres, abriu a janela para entendimentos com o PSD, uma vez que no governo de 1995-99 foi com o PSD de Marcelo Rebelo de Sousa que os socialistas se entenderam para aprovar orçamentos e uma revisão constitucional. Sobre a esquerda “não é possível de momento” reavivar a geringonça e não lhe parece que venha a ser.
Claro, claro que o que Costa prefere é uma maioria absoluta, termo que cada vez menos evita. E neste debate até prometeu que o Orçamento do Estado para 2022 “com maioria absoluta do PS entrará imediatamente em vigor”, O líder socialista levou para este debate o OE impresso, mostrou-o várias vezes e, quando Clara de Sousa fechou a emissão, empunhou-o para as câmaras de televisão.
“A probabilidade de algum de nós ter maioria absoluta é próxima do zero”, tinha já dito Rui Rio, que desafiou o seu adversário a assumir se viabilizar ou não um governo PSD. António Costa voltou a assumir que, se perder as eleições arruma os seus papeis e entrega a chave do gabinete a Rui Rio. Um cenário que o presidente do PSD considera ser o pior porque isso poderia implicar a subida de Pedro Nuno Santos à liderança do PS. “Aí não teríamos uma geringonça, teríamos o Bloco de Esquerda no governo”, disse Rio.
A governabilidade foi o primeiro tema de um debate que a dada altura mais parecia uma entrevista a cada um dos líderes, mas que animou quando se começou a discutir políticas de saúde e o funcionamento da justiça.
Na saúde, António Costa agitou o fantasma do fim de um serviço de saúde tendencialmente gratuito e universal que uma revisão constitucional do PSD traria. Rio respondeu que continua a defender um serviço nacional e saúde publico e de qualidade, mas que considera necessário “distinguir entre os que podem e os que não podem pagar”. O presidente do PSD pretende resolver os problemas da saúde a dois tempos: primeiro contratualizando com privados a figura do médico assistente para suprir as necessidades de médicos de família; depois alargando as possibilidades do SNS com melhor gestão.
Costa ainda ripostou que o PSD pretende “um serviço público para remediados” que é o mesmo que defender “um serviço mínimo” e serviços privados para quem pode pagar. Rio insistiu na defesa da sua tese de que a classe média não pode pagar impostos e pagar seguro de saúde ao mesmo tempo.
Também na justiça, o debate foi acérrimo. “O retrato da justiça é mau”, atacou Rio, que tem feito da reforma deste sector uma das suas batalhas, insistindo em impor aos conselhos superiores do Ministério Público e da Magistratura uma maioria de não magistrados (ver pag 10).
“O programa do PSD é muito perigoso quanto à justiça”, contra-atacou António Costa, que vê nessas propostas uma tentativa de pôr o poder político a controlar o poder judicial. “Dar força à PJ e respeitar a autonomia do Ministério Público são duas condições fundamentais para proteger o Estado de direito e garantir a luta contra a corrupção”, defendeu o líder socialista, para quem é que é preciso fazer é apostar na informatização da justiça e na atualização das regras processuais.
Rio ainda garantiu que não se trata de controlo político, mas de combater o corporativismo já justiça e acusou Costa de populismo e de manipular as pessoas.
No plano económico, ainda na primeira metade do debate, Rui Rio apostou em mostrar que votar no PS é permitir a continuação de políticas que têm levado Portugal a ser um dos países da Europa com maiores cargas fiscais e com mais baixos salários. “Portugal vai continuar a cair” com um governo socialista, avisou Rio, que recusa a ideia socialista de apoiar as empresas para compensar os aumentos de salários.
O essencial para o PSD é apostar carecimento da economia e no enriquecimento e só depois aumentar salários e pensões. António Costa, por seu lado, acredita que é preciso ajudar “dar musculo às empresas” e reforçar as prestações não monetárias como a descida do preço dos passes e das propinas para aliviar as famílias.
“Ou invertemos a política económica e pomos a criação de riqueza em primeiro lugar ou vamos ter os mesmos resultados destes seis anos”, insistiu o presidente do PSD, recusando todas as subidas salarias por decreto.
À saída do debate, foi novamente sobre condições de governabilidade que ambos os líderes se pronunciaram, com Rio a acusar Costa de “agitar papões” e de não ser claro e o líder socialista a voltar a dizer que está disponível para encontrar soluções.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL